Com a confirmação, por meio de levantamento disponibilizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de que a variante britânica da covid-19 está em circulação no Distrito Federal, os protocolos de prevenção da doença se tornam mais importantes para evitar a transmissão de cepas novas, antigas ou o surgimento de mais mutações. Além disso, segundo especialistas, os cuidados podem evitar um colapso do sistema de saúde do DF, que alcançou 90% de ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), números similares aos de cidades de Goiás.
A cepa britânica, chamada de B.1.1.7, foi identificada em uma das 11 amostras de genoma do vírus enviadas à Fiocruz. O dado está disponível no Demonstrativo de Linhagens e Genomas Sars-CoV-2, na página oficial da fundação. Entretanto, ainda não há mais informações sobre data da ocorrência, quantos casos foram identificados, nem local onde os infectados residem. O Correio entrou em contato com a assessoria de imprensa da fundação para mais detalhes sobre a infecção, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. Em nota, a Secretaria de Saúde do DF informou que monitora todos os casos registrados na cidade, porém, até o momento, “não houve devolutiva com confirmação de sequenciamento com outra variante da covid-19”.
Para a infectologista da Sociedade de Infectologia do DF Valéria Paes, com essa confirmação, a população passa a ter um papel essencial no trabalho de prevenção, pois, segundo estudos preliminares, a cepa britânica é mais transmissível que a original. “Precisamos focar na prevenção. Distanciamento social, uso de máscaras e de álcool em gel. Tudo isso diminui a circulação do vírus e a probabilidade de surgimento de mais mutações, o que é importante especialmente durante a vacinação”, frisa.
“Estamos no início da vacinação, não podemos relaxar agora, pois, se aparecerem cepas que não são atingidas pelos imunizantes, corremos o risco de perder o processo”, completa Valéria. Em relação à variante inglesa, acredita-se que as vacinas em circulação no Brasil funcionem, porém, os estudos ainda são preliminares.
O processo de vacinação contra a covid-19, no DF, será retomado hoje, a partir das 14h. A expectativa é de que, até 22 de fevereiro, o atual público-alvo esteja vacinado e que, no dia seguinte, em 23 de fevereiro, o GDF receba mais 100 mil doses de imunizantes para dar continuidade à imunização, o que depende de repasses programados pelo Ministério da Saúde. Caso haja atraso, a campanha precisará ser pausada, pois as doses disponíveis atualmente não são suficientes para a ampliação.
Ocupação de leitos
Ontem, Brasília registrou 591 novos casos de infecção e 11 mortes por covid-19. Com a atualização, no total, são 286.137 infecções confirmadas — 96,6% são pacientes recuperados — e 4.708 óbitos pela doença. A média móvel de casos é de 580,85, 31,6% menor que a de 14 dias atrás. Em comparação ao mesmo período, a média móvel de mortes, que está em 9,57, é 1,4% menor.
Apesar da queda nas médias, a taxa de ocupação de leitos de UTI exclusivos para o tratamento da covid-19 subiu de 84% para 90% em um dia, entre segunda e terça-feira, considerando-se leitos públicos e privados. A taxa é maior, por exemplo, que a de Goiânia, que opera com 84% dos leitos ocupados.
Além do atendimento à população do próprio DF, o sistema de saúde local apoia municípios do Entorno — ao todo, são 33 cidades, 29 delas de Goiás. Destas, segundo dados da Secretaria de Saúde goiana, o município que mais tem leitos de UTI para o tratamento de covid-19 é Goianésia, com 15, dos quais 13 estão ocupados. Outro município, o de Formosa, está com todos os 10 leitos de UTI ocupados.
A pressão de casos importados de outras unidades da Federação pode ser percebida também entre o número de mortes de pacientes que não residem no DF em unidades de saúde da capital. Dos mais de 4 mil óbitos ocasionados pelo novo coronavírus em Brasília, 364 foram de pessoas residentes em Goiás e 50, de moradores de outros estados.
“É normal que, quando as pessoas não encontram atendimento próximo às suas residências, se desloquem para outras cidades. O ideal é que o sistema de saúde de todas as unidades da Federação esteja atuando de forma integrada, além de ter uma maneira de disponibilizar leitos quando for necessário e de acompanhar, diariamente, a situação da pandemia local e nacional”, explica Valéria Paes.
Até o fechamento desta reportagem, a Secretaria de Saúde do DF não havia respondido aos questionamentos sobre a capacidade de atendimento de casos graves de covid-19 que exijam internação. Hoje, estão previstos 157 leitos para pacientes com covid-19, e apenas 18 deles disponíveis. Em dezembro de 2020, a pasta anunciou que tem capacidade para mobilizar mais 230 leitos públicos de UTI para atender exclusivamente os acometidos com o novo coronavírus. Somada com os leitos existentes, a capacidade total de atendimento da rede seria de mais de 380 leitos públicos.