Pausada durante o feriado prolongado de carnaval, a campanha de vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal será retomada na quarta-feira (17/2), a partir das 14h, nas unidades básicas de saúde (UBSs) e nos pontos de drive-thru, para idosos com mais de 79 anos. Porém, fontes da Secretaria de Saúde (SES-DF) ouvidas pelo Correio relatam preocupação com o andamento da imunização. A expectativa é de que grande parte das doses disponíveis sejam aplicadas no atual grupo prioritário até 22 de fevereiro. O prosseguimento depende do envio de mais 100 mil doses, prometidas pelo Ministério da Saúde para 23 de fevereiro.
Caso o recebimento seja confirmado, a pasta deve ampliar a vacinação, inicialmente, para pessoas entre 75 e 78 anos. No entanto, se o ministério adiar o prazo, a vacinação contra covid-19 no DF corre o risco de ser interrompida, como ocorreu em outras unidades da Federação. Para o professor de infectologia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Leandro Machado, uma suspensão no processo pode acarretar no aumento de casos da covid-19. “Ainda temos poucas pessoas vacinadas, ou seja, estamos longe da imunidade de rebanho. Por isso, se interrompermos a vacinação, voltamos para o estado em que estávamos antes”, diz.
Leandro ainda afirma que a distribuição das atuais doses deve ser algo pensado com cuidado, já que as vacinas precisam de aplicação dupla para gerarem imunidade. “Neste momento, garantir a segunda dose para quem já recebeu a primeira é mais importante que ampliar o público-alvo”, completa o infectologista.
Segundo balanço feito pela reportagem, com base nos dados da SES-DF, há cerca de 46 mil doses disponíveis na Rede Central de Frio, porém a maioria reservada para a aplicação da segunda dose nas pessoas que receberam a primeira leva da vacina — profissionais de saúde, idosos com 79 anos ou mais, indígenas aldeados, pessoas com deficiência institucionalizadas e pacientes inscritos no Núcleo de Atenção Domiciliar (Nrad) ou idosos com mais de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência. Essas doses serão distribuídas para as regiões de saúde de acordo com a demanda e necessidade de cada uma. Ao todo, a Saúde recebeu 204.060 doses e 154.930 para as regionais. Mais de 111 mil primeiras doses foram aplicadas na capital federal.
Futuro
Apesar da atual preocupação entre os gestores da pasta, há esperança de um cenário melhor para o segundo semestre de 2021. Com o recebimento do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção de vacinas contra o novo coronavírus, o país terá condições de fabricar cerca de 1 milhão de doses por dia, o que seria suficiente para manter a vacinação sem interrupções.
O professor Leandro Machado acredita que atingir este nível de produção é possível, mas alerta para a necessidade de não se apegar ao futuro. “Até que isto seja uma realidade, precisamos investir na prevenção. O uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social são essenciais. Não podemos apenas aceitar as mortes e internações de agora porque acreditamos que, no segundo semestre, estaremos melhor. Temos que nos prevenir”, frisa.
Na segunda-feira (15/2), o DF chegou a 285.576 mil infectados pela covid-19 e 4.697 mortes pela doença, sendo que 738 casos e nove óbitos foram registrados nas últimas 24 horas. A ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) exclusivos para a doença está em 84%.
Nova cepa
A nova variante do novo coronavírus, encontrada em duas cidades do Entorno do DF, preocupa especialistas. A infectologista Joana D'arc Gonçalves explica que a mutação tem características que a tornam mais transmissível. “A variante notificada no Entorno é a mesma encontrada no Reino Unido e em mais de 62 países da Europa, a B1.1.7. Apesar de ser ruim ela estar no nosso país, ao menos não tem mutações responsáveis pelo escape imunológico e a falha vacinal que ocorreu na África do Sul”, pontua.
A infectologista também ressalta que é necessário redobrar a atenção com relação a vigilância e controle. “Afinal, as vacinas que temos disponíveis foram baseadas no vírus selvagem, e essas variantes podem ser prejudiciais ao programa de imunização e tratamento da doença”, diz.
Colaborou Edis Henrique Peres