O carnaval deste ano será bastante diferente. Nada de bloquinhos de rua e aglomerações. Devido à pandemia do novo coronavírus, a folia será dentro de casa. Para não deixar a data passar em branco, mas para que seja cheia de cor, brilho e muita animação, como a celebração pede, muitos brasilienses já se organizam para fazer a festa em família ou, até mesmo, sozinhos. Difícil imaginar um carnaval assim, não é mesmo? Mas, para respeitar os protocolos de segurança contra a covid-19, a opção é se adaptar.
Como mora sozinho, em Águas Claras, o servidor público Manoel Antunes, 35 anos, já preparou as fantasias para os quatro dias de folia. Antes, ele passava o carnaval nos bloquinhos de rua do DF. Neste ano, para se resguardar, ficará em casa e decidiu não chamar ninguém. “Vou acompanhar as lives e os blocos on-line tomando minha cervejinha. Acho que não é tempo de aglomerar. Precisamos respeitar o momento. Eu trabalho no ramo da saúde, estarei de folga e quero celebrar a vida, cuidando da minha e da do próximo”, diz.
Manoel conta que no ano passado, antes do início da pandemia, ele e um grupo de amigos começaram a planejar o carnaval de 2021 em Salvador, mas a viagem foi adiada. “Estávamos muito empolgados, mas vamos deixar para o ano que vem. A vacina já está aí, gente. Dá para segurar este ano. Enquanto isso, vamos celebrar a vida e a saúde, porque tem muita gente que não tem essa oportunidade”, afirma. Embora passe o feriado prolongado sozinho, ele não dispensa as fantasias. “Tenho muitos adereços dos anos passados. É só misturar tudo que dá certo. Vai ser um momento meu. Vou aproveitar”, prevê.
O carnaval da produtora de eventos Déborah Minardi, 38, e da filha Luana Lis Domingues, 3, vai ser bastante caseiro na maior parte do feriado, com direito a filme e pipoca. A ideia é sair de casa apenas um dia, para fazer um piquenique no parque. “Geralmente vamos aos bloquinhos, principalmente os infantis, mas, como não vai ter, vamos aproveitar de outras formas”, diz. Os adereços serão os mesmos dos anos anteriores. Para a pequena, a opção é variada: ladybug, abóbora, Branca de Neve, palhacinha, entre outras.
Para Déborah, essa será uma forma de aliviar as tensões geradas pela pandemia, sem deixar de seguir as tradições. “É uma forma de trazer alento para os dias difíceis e nos preparar para um ano que esperamos voltar para a normalidade. A ida ao parque vai ser para trazer um refresco, mas sempre obedecendo às medidas de segurança. Acho que é a melhor opção”, complementa.
Nascido no Rio de Janeiro e morando na capital há 20 anos, o designer Thiago Lucas, 35, é apaixonado pelo carnaval. De uns tempos para cá, ele passou a data no DF, pulando nos bloquinhos de rua. Mais do que o feriado, a festa, para ele, é uma tradição. “Para mim, o processo se inicia antes. Vou a Taguatinga, compro tudo para a fantasia e as produzo, não consigo já comprá-la pronta. Eu amo”, declara. Neste ano, ele vai precisar se adaptar. As festas de rua serão trocadas pela casa, no Lago Norte. “Alguns blocos vão ser virtuais, ainda não sei como vai ser esse esquema, mas vou montar uma boa playlist, decorar a casa, me fantasiar e curtir. Não vou deixar de aproveitar”, conta.
Blocos
Assim como os foliões, os bloquinhos de rua também terão de se adaptar. A Praça dos Prazeres On-line vai manter a tradição do carnaval sem promover aglomerações nas ruas. A programação virtual dá continuidade às atividades artísticas, políticas e culturais desenvolvidas pelos blocos carnavalescos que se concentram na histórica praça da 201 Norte desde 2006. Para 2021, estão previstas as apresentações de 10 blocos e atrações em dois dias de evento, com transmissão pela internet e respeito a todos os protocolos de segurança recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A programação digital e gratuita incentiva os foliões a ficarem em casa e a preservar a saúde física e mental, pois a festa só faz bem para a alma, mesmo que seja a distância. “Vamos preparar as fantasias, purpurinar as máscaras e apertar o play”, celebra Juliana de Andrade, fundadora do Balaio Café e da Plataforma Praça dos Prazeres. “O carnaval é nossa missão de vida. O maior tesouro cultural e criativo de nossa gente, país, tempo e planeta. Este ano, o lema é ‘Reinventa carnaval, carnaval como respiro!’”.
Fantasia e decoração
Quem vai ficar em casa, mas ainda está sem ideia de decoração e como se fantasiar, a empresária Fabiani Christine, dona de uma papelaria personalizada em artigos para festa, diz que é hora de usar a criatividade para criar momentos divertidos para todos. “A primeira dica é apostar em itens acessíveis e que causem um efeito visual lindo e colorido. Cartolinas metalizadas, EVA com glitter, papel crepom, balões, fitas e purpurina. Uma coisa super simples e que dá um efeito incrível é fazer uma parede toda de pratinhos descartáveis”, sugere.
Na fantasia, a recomendação é usar o que se tem em casa ou adereços de outros carnavais. “Basta tirá-los do guarda-roupa e dar um upgrade neles. Recortando, colocando glitter, amarrando fitas coloridas”. Para deixar a festa em casa mais animada, a família pode acrescentar brincadeiras, como guerra de balões de água, pique-pega e adedonha. “As crianças podem formar uma banda musical, transformando as panelas em tamborins, e fazer um chocalho com garrafa pet e grãos de feijão. E, para fechar, pode ter um desfile de fantasia. A preferida ganha um prêmio”, complementa Fabiani.
Festas clandestinas
Segundo o Decreto nº 41.789, quem fomentar, induzir, instigar, ajudar ou promover qualquer evento de carnaval pode ser punido com multa de R$ 20 mil. Além disso, o código penal prevê que as pessoas que descumprirem as determinações ficam sujeitas à pena de prisão, que pode variar de um mês a um ano. Quem tiver informação sobre eventos clandestinos ou aglomerações pode entrar em contato com as equipes de fiscalização por meio da Ouvidoria (162) ou pelo 190.