SUBNOTIFICAÇÃO

Casos de hanseníase caem pela metade durante a pandemia, diz dermatologista da UnB

Em audiência pública da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), professor de dermatologia da Universidade de Brasília (UnB) Ciro Gomes informou que a média de casos caiu de 28 mil, em 2019, para 13 mil, em 2020

Mais da metade dos casos de hanseníase no Brasil não foi notificada, em 2020, devido à pandemia da covid-19. O anúncio foi feito em audiência pública da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), realizada nesta quarta-feira (10/2), em parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia. O professor de dermatologia da Universidade de Brasília (UnB) Ciro Gomes comunicou que a média de casos caiu de 28 mil, em 2019, para 13 mil, em 2020.

“Essas pessoas sem diagnóstico terão sequelas e vão transmitir durante todo esse ano”, ressaltou Gomes. O professor frisou, ainda, que apesar de o Centro-Oeste acompanhar os índices nacionais, o DF aumentou o número de diagnósticos, devido ao trabalho de busca ativa.

Para o deputado distrital Fábio Félix (Psol), é necessário dar visibilidade ao tema e elaborar matérias legislativas que possam ajudar no combate à doença. “A hanseníase está inserida neste histórico de inviabilidade, que tem como consequência muito forte a negligência e a incapacidade do poder público de agir. É preciso falar sobre essa doença”, enfatizou.

A dermatologista do Hran Nádia Barbosa Aires chamou atenção para a necessidade de se procurar atendimento médico logo nos primeiros sintomas. Entre eles, ela destacou o aparecimento de manchas claras ou vermelhas, nódulos ou placas na pele; diminuição ou perda de sensibilidade; inchaço em orelhas e face; perda de força e contratura muscular.

Segundo a dermatologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e preceptora do programa de residência médica em dermatologia da unidade, Jorgeth Carneiro da Motta, a hanseníase representa a principal causa de incapacidade permanente entre as doenças infecciosas. Por isso, a identificação precoce é fundamental para evitar complicações e sequelas.

“Quanto mais tarde for o diagnóstico, mais a qualidade de vida será afetada. Temos de fazer tudo para evitar isso, com o tratamento mais adequado possível”. As consequências da doença podem ser, segundo a médica, de insensibilidade local na pele à perda de tecidos, tendões, ligamentos, ossos e músculos, podendo causar até cegueira e amputação. “O tratamento precoce vai evitar problemas psicológicos, financeiros, a discriminação, o ocultamento da doença e o estigma social”, salientou.

Tratamento gratuito

Segundo Cláudia Porto, dermatologista da equipe do ambulatório de hanseníase do Hran, o tratamento é feito normalmente de seis a doze meses, e é totalmente gratuito. “Os postos de saúde fazem a distribuição dos medicamentos. Os pacientes comparecem mensalmente para receber as doses. Quando alguma pessoa deixa de ir, realizamos a busca ativa”, explicou.

O dermatologista preceptor da residência médica do Hran, Eugênio Reis, afirmou que, normalmente, é necessária uma convivência próxima e prolongada para haver a transmissão da doença. Por isso, uma das formas de identificar precocemente os casos de hanseníase é por meio do acompanhamento das pessoas que convivem com os pacientes. Segundo ele, 90% dos casos “respondem muito bem ao tratamento” na atenção primária. “Normalmente, deve-se procurar a unidade básica, e certos casos, como os que afetam menores de 15 anos, são encaminhados para a unidade de referência secundária”, complementou Cláudia.

Janeiro Roxo

A presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional do DF, Rosa Maria Matos, destacou a campanha Janeiro Roxo, realizada pela entidade em todo o Brasil, com foco na sensibilização e conscientização sobre a hanseníase. De acordo com ela, a iniciativa este ano envolveu ações de relacionamento com a mídia, de relações públicas e nas redes sociais, com peças “informativas e esclarecedoras”, que atingiram milhares de pessoas. “A gente precisa buscar e exterminar essa doença no nosso país. Essa audiência foi um marco. Tenho muito a agradecer”, afirmou.

A dermatologista da equipe técnica de vigilância epidemiológica da Secretaria de Saúde do DF, Janaina Figueiredo de Amorim, afirmou que as ações da pasta visam, sobretudo, o diagnóstico precoce para prevenir a cadeia de transmissão e as sequelas. “Reforçamos a redução do estigma que ainda existe em relação à doença", destacou.

De acordo com ela, são realizados, ao menos, sete cursos anuais sobre o tema com as equipes de saúde. Ela também enfatizou o trabalho de levantamento de dados e algumas ações específicas, a exemplo da Campanha de Detecção em Escolares, que tem caráter informativo e visa identificar casos da doença entre menores de 15 anos.

O deputado Fábio Félix sugeriu, ainda, a realização de uma reunião de trabalho sobre o tema, o que pode resultar em proposições legislativas. Ele também se colocou à disposição para estudar emendas que garantam mais recursos para o combate à doença.

*Com informações da CLDF