Crônica da Cidade

Brasileiros voadores

A crônica que escrevi sobre o Aeroporto Glauber Rocha de Vitória da Conquista suscitou várias mensagens dos leitores. Afinal, os brasilienses viajam muito a serviço, para estudo ou para cultivar laços familiares nos estados de origem. Claro que as viagens físicas estão restringidas durante a pandemia.

Mas viajar na imaginação ou na memória não tem contraindicações. Por isso, resolvi empreender um périplo por capitais brasileiras para tecer alguns comentários e fazer sugestões no sentido de renomear aeroportos nas diversas regiões do país.

Antes, peço licença de passar pelo Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Existem nomes inspiradores. A simples menção deles provoca uma série de associações poéticas. Todas as vezes que viajo para o Rio de Janeiro e a aeromoça anuncia Tom Jobim, o sobrevoo já vem com a trilha sonora pronta na cabeça: “Rio de Janeiro/Braços abertos para a Guanabara/Esse samba é só por que/Rio eu gosto de você”.

De maneira semelhante, eu gostaria de chegar a Vitória, no Espírito Santo, e sentir a emoção de ouvir a aeromoça avisar: “Dentro de cinco minutos pousaremos no Aeroporto Rubem Braga”. O nome mágico do ilustre colega ensejaria evocações do amor aos passarinhos, às matas brasileiras, à poesia extraída da matéria trivial e às coisas simples da vida: “É gentil ser um passarinho.”

E que tal se aportássemos em Belo Horizonte e escutássemos a voz da aeromoça alertando sobre o nosso destino: “Estamos aterrissando no Aeroporto Carlos Drummond de Andrade”. O poeta contribuiu, decisivamente, para revelar ou forjar uma alma para Minas: “Minas é palavra abissal”. Como quando abrimos a Bíblia, temos uma infinidade de versos de Drummond para este momento: “É tempo de partido/De homens partidos”.

Bem, vamos subir até Natal, no Rio Grande do Norte, na expectativa de que a aeromoça proclame: “Em cinco minutos, aterrissaremos no Aeroporto Câmara Cascudo”. Ele é autor da frase memorável: “O melhor do Brasil é o brasileiro”. Só faria uma pequena retificação, que deixaria a frase assim: “O melhor do Brasil são alguns brasileiros”.

Do Rio Grande do Norte voemos para Maceió, Alagoas, onde a aeromoça anunciaria: “O tempo está bom, vamos aterrissar no Aeroporto Graciliano Ramos”. O cabra alagoano sentenciou: “O grande esporte brasileiro é a rasteira”. O aeroporto de João Pessoa, na Paraíba, leva o nome freudianamente aterrador de um político anódino: Castro Pinto. Ficaria melhor se fosse nomeado Aeroporto Ariano Suassuna ou Aeroporto Augusto dos Anjos.

Então, vamos para o Sul até Curitiba, no Paraná. A aeromoça avisa: “Dentro de cinco minutos, aterrissaremos no Aeroporto Paulo Leminski”. Ele é o poeta de versos rápidos e incisivos: “Não discuto com o destino/o que pintar/eu assino”. Nossa última parada é Porto Alegre, no Rio Grande do Sul: “Apertem o cinto para a aterrissagem no Aeroporto Mario Quintana”. O poeta escreveu: “Eles passarão/Eu passarinho.”