PANDEMIA

Covid-19: Saúde do DF dá início à vacinação de 6 mil idosos com 79 anos

Com a chegada de 37,4 mil doses de imunizantes contra a covid-19 ao Distrito Federal, no sábado, secretaria decidiu aumentar a quantidade de pessoas incluídas na campanha. Pelos cálculos da pasta, novo grupo é composto por cerca de 6,1 mil habitantes

Nesta terça-feira (9/2), a partir das 8h, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) começa a vacinar idosos com 79 anos — grupo composto por cerca de 6,1 mil pessoas, segundo a pasta. A expectativa é de que a maior parte desse público receba a primeira dose em até duas semanas. A imunização de pacientes acamados com mais de 80 anos que agendaram atendimento por meio do Telecovid também tem início nesta terça-feira (9/2). Mesmo com o novo passo na campanha, especialistas na área de epidemiologia alertam para a necessidade de monitorar e garantir o cumprimento das medidas de segurança sanitária.

A ampliação da vacinação ocorreu depois de o DF receber mais 37,4 mil unidades da CoronaVac, no sábado (6/2). A proposta inicial era incluir idosos com 75 anos ou mais no plano. No entanto, a quantidade não foi suficiente para alcançar as 35 mil pessoas dessa faixa etária, pois é necessário reservar o estoque para a segunda dose. Com cerca de 18 mil imunizantes à disposição para garantir duas aplicações — em um intervalo de 14 a 28 dias após a primeira —, a pasta optou por limitar o atendimento a idosos com 79 anos, além de continuar o atendimento a profissionais de saúde e pacientes acamados.

Às 7h30, as novas vacinas serão encaminhadas da Rede de Frio da SES-DF para as centrais de cada região, que vão distribuir para os pontos de vacinação. Idosos com 79 anos completos que quiserem se vacinar deverão apresentar documento de identificação e Cadastro de Pessoa Física (CPF). O horário de atendimento permanece de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, nos mesmos pontos onde ocorreu a campanha para idosos acima de 80 anos — com exceção do drive-thru do Pontão, temporariamente desativado ontem.

Para o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbáez, a ampliação, mesmo que limitada, é válida, e os idosos devem se vacinar. No entanto, ele reforça a necessidade de manter os protocolos de segurança sanitária e higiene. "Na empolgação do momento e na vontade de se vacinar, as pessoas esquecem que o novo coronavírus continua em circulação, e a pandemia, em alta. Não dá para relaxar", destaca. O especialista acrescenta que a fiscalização tem um papel importante nesse cenário: "É preciso alertar as pessoas e continuar aplicando multas se necessário", recomenda José David.

A Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), responsável pela fiscalização do cumprimento das normas de combate à covid-19, informou que a inspeção ocorre diariamente. Desde o início da pandemia, ocorreram 548.173 vistorias em estabelecimentos. Desse total, 24.926 comércios acabaram fechados compulsoriamente; 586, multados; e 1.913, interditados. Além disso, desde o início da pandemia, 267 pessoas receberam multa no DF, por não usarem máscaras. O item é obrigatório, como previsto no Decreto nº 40.831/2020. O descumprimento implica o pagamento de R$ 2 mil a R$ 4 mil como pena.

Expectativas

Na segunda-feira (8/2), a SES-DF começou a aplicar a segunda dose das vacinas contra a covid-19. Entre os contemplados estão pessoas com mais de 80 anos, acamadas ou não, e profissionais da saúde que atuam em casas de acolhimento para idosos. Foi o caso da professora aposentada Dircineia Garcia da Motta, 75, que mora no Espaço de Convivência, na 503 Sul. Após receber uma nova aplicação da CoronaVac, a idosa comemorou: "Tornou-se um dia de festa por finalmente termos tomado essa vacina. O coração da gente fica apreensivo, sem saber o que poderia ter acontecido comigo, com você ou com qualquer pessoa", disse. "Quanto tempo tudo isso vai durar ninguém sabe. Mas ver as pessoas alegres por receberem a dose é tão bom", celebrou Dircineia.

Ed Alves/CB/D.A Press - Começa vacinação da segunda dose contra a covid-19 para idosos que vivem em asilos e profissionais da saúde. Na foto, Dircineia Garcia da Motta
Ed Alves/CB/D.A Press - Começa vacinação da segunda dose contra a covid-19 para idosos que vivem em asilos e profissionais da saúde
Ed Alves/CB/D.A Press - Começa vacinação da segunda dose contra a covid-19 para idosos que vivem em asilos e profissionais da saúde
Ed Alves/CB/D.A Press - Começa vacinação da segunda dose contra a covid-19 para idosos que vivem em asilos e profissionais da saúde. Na foto, Edilice Sousa Melo de Melo

Dos 43 idosos que moram no espaço, só dois não foram vacinados — um estava internado, o outro não teve autorização da família. Na Unidade Básica de Saúde nº 2 da 114 Norte, a aposentada Edilice Sousa Melo de Oliveira, 85, recebeu a vacina pela primeira vez. "Nós (Edilice e o marido) estávamos viajando. Chegamos ontem e, logo cedo, eu quis vacinar. Foi bom ter esperado porque, assim, evitamos aglomerações", comentou. A aposentada também deixou um recado: "Venha se vacinar para que a pandemia acabe o quanto antes", completou Edilice.

A Secretaria de Saúde espera avançar mais na vacinação nos próximos 15 dias. No entanto, isso só será possível se o Ministério da Saúde entregar mais doses. Equipes do Executivo local estão em tratativas com o Governo Federal, para negociar o envio de unidades suficientes para atendimento das outras faixas etárias. Por enquanto, o Governo do Distrito Federal (GDF) descarta a possibilidade de comprar vacinas por conta própria.

Alcance e boletins

O processo de imunização contra a covid-19, no Distrito Federal, começou em 19 de janeiro. Até as 19h de ontem, 101.133 pessoas haviam recebido a primeira dose da vacina, e 135, a segunda. O resultado coloca o DF em primeiro lugar, entre todas as unidades da Federação, no ranking que avalia o percentual de vacinados. No entanto, a quantidade representa apenas 3,3% dos habitantes da capital do país.

Entre domingo e segunda-feira (8/2), a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) confirmou 544 novos casos e 13 mortes pela covid-19 na capital do país, que acumula 281.546 pessoas infectadas e 4.631 mortes. Do total de contaminados, 272.040 (96,6% do total) se recuperaram. Os óbitos representam 1,6% das notificações. Na segunda-feira (8/2), a média móvel de casos ficou em 549, apresentando queda de 36,46% em relação a duas segundas-feiras atrás. Já a média móvel de mortes foi de 9,6 — alta de 1,5% na comparação com o verificado há 14 dias.

Epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant considera cedo para avaliar os impactos da imunização na situação epidemiológica do DF. "As vacinas só são realmente efetivas após a segunda dose. Como estamos muito no início (do processo), não podemos considerar que estamos no fim da pandemia", analisa. Apesar disso, o especialista afirma que, entre os grupos que começaram a receber a segunda aplicação, há possibilidade de perceber queda no número de internações: "Mas só se a população reforçar o cumprimento das normas sanitárias, pois será possível diminuir a circulação do vírus, a taxa de mutação dele e garantir maior efetividade da vacina", destaca Jonas.

O professor avalia que o plano de vacinação do Distrito Federal segue uma sequência correta, pois os mais vulneráveis devem ser atendidos primeiro. "Idosos e profissionais de saúde realmente deviam ter sido os primeiros, devido ao risco de exposição e de agravamento da doença para eles. Agora, é preciso pensar nos próximos grupos", completa Jonas. A expectativa da SES-DF é de que — condicionada à chegada de mais doses de imunizantes — a vacinação alcance idosos acima de 75 anos, depois, pessoas com mais 60 anos, professores, profissionais da segurança pública e pessoas com comorbidades. No entanto, como não há data para a chegada de mais doses, não há previsão de ampliação do atendimento.

A importância da vacina

Quando falamos de vacinas, precisamos entender que ela não é uma prevenção individual. A ‘não adesão’ pode atrapalhar o combate à doença em questão, e o vírus pode sofrer mutações que sejam resistentes às vacinas que temos. Por isso, é importante a cobertura e a adesão das pessoas ao processo. É uma estratégia de saúde pública. Portanto, há necessidade de o governo — tanto federal quanto local — criar uma estratégia para ter vacinas e para aplicá-las na maior quantidade de pessoas possível. O ideal de cobertura é de, no mínimo, 80% da população. Se conseguirmos alcançar essa meta, cria-se uma barreira comunitária para a circulação do vírus. É importante frisar que, hoje, existem muitas notícias falsas sobre as vacinas e a segurança delas. Não estamos observando nenhum efeito colateral grave para as doses disponíveis contra o novo coronavírus. Dores de cabeça, dor e vermelhidão no local são efeitos esperados em qualquer campanha de imunização. Não há nada nesse sentido que comprometa o andamento da vacinação contra a covid-19. Por favor, vacinem-se.

Walter Ramalho,
professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB)