Fosse em um mundo sem pandemia do novo coronavírus, já seria hora de colocar o bloco na rua para celebrar o carnaval. Contudo, diante da crise sanitária, as festividades foram canceladas no Distrito Federal. Com isso, pequenos negócios e marcas, que contavam com a data para aumentar as vendas de produtos relacionados à festa, viram o faturamento cair drasticamente sem as comemorações.
Na Casa e Festa, localizada no Taguacenter, em Taguatinga, o tombo foi de 50% nos lucros. A gerente Simone Fernandes conta que a filial do Gama foi fechada e os funcionários foram remanejados para as outras unidades. Com isso, ao contrário dos anos anteriores, quando os corredores ficavam cheios de clientes, funcionários e purpurina, o movimento está bem mais fraco.
“A pandemia afetou muito o comércio”, ressalta. Os estoques de acessórios, adereços e itens de decoração começavam a ser repostos ainda em novembro, mas, em 2020, isso não ocorreu. “Neste ano, a gente começou em janeiro a comprar produtos e enviar pedidos”, explica a gerente.
Como os foliões não estão indo às lojas, uma das alternativas foi investir no comércio pelas redes sociais. É o que fez Marcelo dos Santos, gerente do Armarinho Novidade, em Taguatinga. Nos anos passados, a loja costumava ficar lotada de clientes ávidos por confete, serpentina, máscaras e adereços. Também eram atendidos pedidos de escolas e de carnavalescos. “Era uma época boa, tinha um impacto nas vendas, com um aumento de 30%. Mas este ano foi totalmente diferente, não fiz aquisição de estoque”, diz Santos. O gerente calcula um prejuízo de 70%. “Agora, a gente focou mais nos produtos de artesanato e decoração de casa”, conta.
Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindvarejista), Edson Castro, no ano passado, as vendas no carnaval tiveram uma variação positiva de 4%. “O comércio está sofrendo porque não tem carnaval e muita gente não vai comprar nada”. A Secretaria de Cultura informou que, em 2020, foram investidos R$ 4 milhões na festividade. Neste ano, não haverá valores empenhados.
Até mesmo as marcas que já atuavam no ambiente virtual sofrem com a falta da festa. A designer Luciana Lobato, da Conspiração Libertina, costumava dedicar, de novembro a março, até 16 horas de trabalho para o comércio de itens carnavalescos. “Agora, não tem nada disso. A gente dá essa atenção por meia hora por dia. Tive de me esforçar para ter outra fonte de renda com trabalhos freelancer”, conta.
O faturamento com o carnaval era 20 vezes maior do que no restante do ano e garantiria o sustento ao longo de todo o primeiro semestre. A solução foi investir em outros itens, como ilustrações, pôsteres e ímãs. “As pessoas começaram a olhar mais para suas casas, para deixar o ambiente agradável. Optamos por divulgar esses produtos”, explica.
Carnaval diferente
A aposentada Mercês Parente, 69 anos, é frequentadora dos carnavais da cidade desde criança, mas, em 2021, a comemoração será diferente. “Festa na minha casa não terá. Sou do grupo de risco”, conta. Para a data não passar em branco, ela e a família pretendem percorrer o antigo itinerário feito pelos bloquinhos de rua no Plano Piloto. “Vamos nos montar com adereços e sair andando sozinhas. O dinheiro está curto na pandemia, ninguém está pensando em consumir. Sinto pela economia do carnaval, mas respeito o outro e quero viver”, complementa.