Crise

Após 32 anos de existência, bar e restaurante Feitiço Mineiro fecha as portas 

Tradicional casa da música brasileira e da gastronomia ,na 306 Norte, encerra as atividades depois de sofrer com o impacto econômico provocado pela pandemia da covid-19. Por lá, passaram nomes como Lô Borges e Diogo Nogueira

A música e a gastronomia em Brasília sofreram um grande baque com o fechamento do tradicional Feitiço Mineiro, após 32 anos de existência. Referência da culinária mineira na capital, o local foi um palco por onde passaram alguns dos maiores nomes da MPB e artistas locais, responsáveis por shows fazem parte da memória afetiva de muita gente. O bar e restaurante da 306 Norte, há algum tempo, enfrentava problemas para manter-se funcionando, e, com a pandemia, a situação se tornou insustentável, levando ao fechamento das portas.

Desde a morte do Jorge Ferreira, em julho de 2013, as dificuldades para manter a casa em funcionamento se acentuaram. “O Jorge era a alma do Feitiço. Com seu espírito empreendedor, criou outros estabelecimentos voltados para a culinária e a música na capital, entre eles o Bar Brasília, o Bar Brhama e o Armazém do Ferreira, mas o Feitiço era a menina dos olhos dele. Como amante da música, logo no primeiro ano abriu espaço para instrumentistas, cantores e compositores brasilienses mostrarem seus trabalhos. Logo depois passou a receber famosos da MPB”, lembra a viúva de Jorge, Denise Pereira.

O Feitiço manteve-se aberto até 19 de março de 2020, quando, em função da covid-19, interrompeu as atividades. A tentativa de voltar a funcionar, para atendimento no sistema de delivery, entre abril e julho, não obteve o resultado desejado. “Alguns dos funcionários já haviam deixado a empresa quando os contratos foram suspensos em dezembro último. Com alguns deles, fiz um acordo no início de janeiro”, conta Denise.

Ela relembra grandes momentos vividos no Feitiço, com a concorrida feijoada de sábado, regada por roda de samba e choro. Outras belas imagens que guarda, remetem a projetos memoráveis promovidos pelo Feitiço, como da comemoração dos 20 anos, quando passaram pelo palco praticamente todos os “sócios” do Clube da Esquina, entre os quais os músicos Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Fernando Brant, Tavinho Moura, Toninho Horta e Wagner Tiso. “O único que não participou do projeto foi o Milton Nascimento”, observa Jerson Alvim, que foi diretor artístico da casa por 14 anos.

Quem também guarda “ótimas recordações” é a produtora Sônia Alves, criadora do projeto Gente do Samba. “Com total apoio entusiasmo do saudoso Jorge Ferreira, trouxemos para o Feitiço os mais destacados sambistas da velha guarda. A casa ficava superlotada para assistir a shows de Monarco, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Nei Lopes, Walter Afaiate, Noca da Portela, Dona Ivone Lara”, relata. “Do projeto participaram também cantores e grupos em início de carreira, hoje celebrados nacionalmente, entre os quais Diogo Nogueira, Mart’nália, Teresa Cristina, Casuarina e Sururu na Roda”,acrescenta.

Foi no Feitiço Mineiro que Baden Powell fez um raro show na capital; e onde Guinga, Jards Macalé, Zé Rrenato e Moacyr Luz lançaram o CD Dobrando a Carioca. “Não podemos esquecer que o Feitiço sempre acolheu artistas brasilienses de diversos segmentos, de Cloro Ferreira a Jaime Ernest Dias, de Breno Alves (7 na Roda) a Lúcia de Maria, que está participando do The Voice +”, destaca Alvim. “É bom lembrar também que a sambista Dhi Ribeiro escolheu o Feitiço para assinar contrato com a Universal Music””, complementa.

“Sempre tive ótimo acolhimento no Feitiço. Naquele palco fiz incontáveis shows, inclusive o que tive na plateia o presidente da Universal Music, José Éboli, presidente da Universal Music, que veio a Brasília para prestigiar a assinatura do meu contrato com a gravadora. Naquele momento tive como padrinho o consagrado cantor e compositor Jorge Aragão”, ressalta Dhi.