A Secretaria de Saúde deve vacinar a maior parte do público prioritário de mais de 80 anos no Distrito Federal até o fim desta semana. O prazo é bem menor do que o previsto inicialmente, de cerca de duas semanas, uma vez que a população está ansiosa para a imunização e lotou alguns dos pontos de vacinação da capital federal nos primeiros dois dias de aplicação das doses. Em entrevista ao CB.Poder — parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, comentou sobre a agilidade com que a campanha tem avançado e garantiu que, tão logo o novo lote de vacinas chegue, o público-alvo será ampliado para maiores de 75 anos.
“Pela previsão que o Ministério (da Saúde) nos passou, da chegada de mais de 60 mil doses, abriremos para o público acima de 75 anos, que vai girar em torno de 30 a 35 mil idosos nesta faixa etária. Aí, então, a gente guarda a segunda dose, para que não haja falta lá na frente de completar a imunização, como dizem as pesquisas clínicas dessas vacinas”, acrescentou o secretário, em entrevista ao jornalista Vicente Nunes, editor-executivo do Correio. A previsão é de que essas vacinas cheguem no sábado. O chefe da pasta destacou, ainda, que não há necessidade de corrida aos postos, nem de aglomerações, pois há doses para todos os grupos prioritários definidos pelo governo do DF até o momento.
Como controlar aglomerações e filas de espera nos postos de vacinação? E como receber pessoas vindo de fora do DF?
Todo mundo vir ao mesmo tempo não aconteceu estritamente no Distrito Federal. Aconteceu no mundo inteiro. Todos os locais que iniciaram as vacinações nos seus grupos etários tiveram filas. Logicamente, os países mais desenvolvidos terão uma melhor condição de fazer o atendimento. Aqui, estamos melhorando a capacidade de fazer esse atendimento, tanto é que começamos o drive-thru hoje (ontem), e estamos fazendo algumas alterações. Por exemplo: a pessoa que está aguardando no carro, já poderá preencher a ficha de identificação, e isso agilizará muito para o vacinador dar fluxo nessa fila.
Qual a diferença dessa vacinação da covid-19 em relação às demais?
Nas outras localidades, não existe essa correria intensa para se vacinar. É tudo muito mais tranquilo. Até falei para as nossas autoridades que o Brasil logo passaria todo mundo, quando começasse a chegar as vacinas às salas de vacinação do país inteiro, falei logo que vamos vacinar todo mundo, porque a capacidade que a gente tem de treinamento e de poder fazer isso é muito grande. Só que temos essa particularidade da pandemia do novo coronavírus, em que a ansiedade aumentou muito. Todo mundo quer se vacinar, e vai ter o direito à vacina. Acredito que, até o fim do ano, todos estarão vacinados aqui no Brasil.
Vacinado esse público de 42,3 mil idosos do DF acima de 80 anos, qual a perspectiva para os demais a partir de 75 anos?
Pela previsão que o Ministério nos passou, da chegada de mais de 60 mil doses, abriremos para o público acima de 75 anos, que vai gerar em torno de 30 a 35 mil idosos nesta faixa etária. Aí, então, a gente guarda a segunda dose, para que não haja falta lá na frente e se possa completar a imunização, como dizem as pesquisas clínicas dessas vacinas.
A previsão da chegada de novas doses, segundo o Ministério da Saúde, é para sábado. O senhor está confiante que essas novas doses cheguem logo?
O Ministério da Saúde tem cumprido com o cronograma de entrega e, dessa forma, procuraram, muitas vezes, antecipar as doses. Criam uma certa ansiedade na nossa equipe, porque trabalhamos sempre com organização. Aprendemos que, nesse primeiro instante, a gente pode melhorar o atendimento para diminuir aglomerações utilizando, às vezes, locais maiores, como ginásio de esportes, onde estive ontem (segunda-feira) à tarde. No Paranoá, das 13h às 14h40, praticamente já tinham encerrado a vacinação de todas as pessoas. Temos que analisar os problemas e procurar solucioná-los. Então, vamos buscar ambientes maiores, com mais cadeiras, para que as pessoas possam se sentar. O próximo público que a gente está planejando é menor, mas a gente tem a mesma sensação de que as pessoas vão correr no primeiro dia. No dia em que vamos vacinar de 75 a 79 anos, todo mundo vai correr para se vacinar. Então, vão ocorrer aglomerações, a mesma coisa. E, nos outros dias, com planejamento, não vai ter a mesma aglomeração e ansiedade.
A previsão é de que toda a população do DF seja vacinada ainda em 2021?
Na primeira reunião que o ministro Pazuello fez com os governadores, em que pude substituir o governador Ibaneis, ele fez uma previsão de entrega das vacinas no primeiro semestre e no segundo semestre. No segundo semestre, a produção vai ser muito maior mesmo. Com toda a certeza. Receberemos mais Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) do mercado chinês. Aí, então, a produção será grande, tanto da AstraZeneca, como também da CoronaVac. O segundo semestre será de muitas vacinas disponíveis. Então, tenho certeza de que a gente vai poder até antecipar para o fim de outubro a vacinação total aqui no Distrito Federal.
Como o senhor analisa o anúncio, nessa terça-feira, da eficácia de 91% da vacina russa Sputnik, produzida aqui no DF?
O governador Ibaneis fez uma visita à fábrica da União Química. Eu o acompanhei e fiquei muito impressionado com a produção das IFAs aqui no Distrito Federal. Fiquei muito encantado com tudo o que eu vi, e principalmente com a questão do princípio da vacina que estão produzindo. Tenho certeza de que teremos sucesso também. O Programa Nacional de Imunização (PNI) fará a aquisição de todas as vacinas produzidas para o Brasil. Dessa forma, vão comprar e distribuir as vacinas igualmente para todo o país. Creio que receberemos também. É uma grande opção de vacinação que teremos aqui no Distrito Federal.
Com mais de 2% da população vacinada, o DF ocupa o primeiro lugar no ranking das unidades federativas que mais vacinaram no país, segundo levantamento do portal covid-19 no Brasil. Como o senhor explica essa liderança?
O Mato Grosso do Sul (com 1,57%) tinha nos passado — no sábado —, mas porque muitas pessoas deixaram de se vacinar na quinta e sexta-feira, esperando trocar a vacina de uma marca para a outra, e isso complicou (o planejamento) porque o grupo prioritário da Saúde se acumulou com os idosos de mais de 80 anos. Hoje (ontem), houve uma aglomeração maior em decorrência disso. Mas voltamos a ser primeiros novamente.
Esse desempenho melhor atrai um público de fora para o Distrito Federal?
Não é só no Entorno. Vem gente de outros locais, de outras unidades da Federação, que têm parentes aqui no DF. O SUS é universal, então as pessoas que procurarem as nossas salas de vacinação serão atendidas, como em qualquer local do país. Isso que o governador Ibaneis preza sempre. O público idoso, muitas vezes, é aposentado e fica na própria residência, diferentemente do que ocorre em outras vacinações. No Entorno, você tem 1 milhão de pessoas que trabalham no Distrito Federal. Então, essas pessoas vêm trabalhar e já fazem a vacinação. O idoso, como fica em casa, tem que ser trazido pelos familiares. Isso acontece.
Quem não teve tempo de ir se vacinar nos pontos de drive-thru, como faz para receber a dose?
A gente continua com a vacinação, mas o grande número de pessoas a serem vacinadas acima de 80 anos estará praticamente vacinado. Terá um pequeno número de pessoas, os remanescentes, que serão devidamente atendidos. De acordo com o levantamento dos resultados que estivermos fazendo, não será necessário que mantenhamos todos os drive-thru funcionando. É importante que a gente mantenha a nossa estrutura dentro das salas de vacinação. Se houver uma pequena quantidade de pessoas para serem atendidas, poderão ser atendidas nas nossas UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Creio que pode ficar um drive-thru funcionando para a nossa população, mas depende do resultado de hoje (ontem).
O governo federal falhou na estruturação das vacinas?
Quando você vai fazer a aquisição de uma vacina, você necessita muito da aprovação da vacina ou de outros institutos do mundo que dão essa possibilidade. Depois, precisa-se averiguar todas as documentações que vêm, porque as pesquisas clínicas dessas vacinas são necessárias para elas serem entregues e para haver autorização de emergência para a utilização. São tantas variáveis que acontecem nesse caminho, e a mais importante, além da eficácia e da segurança da vacina, tem a economicidade. Você tem que saber que está comprando uma vacina viável, dentro das regras dos nossos órgãos de controle. Essas variáveis determinam que as vacinas possam chegar em tal data ou um pouco depois. Eu preferia que não houvesse (politização da vacina), que a gente tivesse uma visão técnica e pudesse ter as vacinas disponíveis para atender a população.
A iniciativa privada pode dar suporte à Secretaria de Saúde para complementar o processo de imunização?
Na última reunião do Conselho Nacional de Secretários (Conas), a gente recebeu a informação que 33 milhões de doses estariam sendo adquiridas pelo setor privado. Não vejo qualquer tipo de empecilho, desde que o Sistema Único de Saúde (SUS) tenha as vacinas disponíveis também.
O agendamento da vacinação não seria a melhor opção para evitar aglomerações e longas filas de espera nos postos?
A gente teve outras experiências, que não foram favoráveis para o agendamento, porque as pessoas realmente procuraram o atendimento de uma maneira geral. Falo que é muito difícil quando uma pessoa está numa fila, não é a vez dela, e diz que não sai daqui enquanto não for vacinada. Isso é muito comum. Então, procuramos abrir a sala e falar às pessoas que temos duas semanas para vacinar. Aconteceu que vamos fazer antes do fim da primeira semana. Nada impede que a gente possa pensar em agendamento futuramente. Como disse, existem duas faixas etárias, a de 30 anos e de 60 a 74 anos, essa que vai demandar uma atenção maior nossa.
Há um cronograma para vacinar os próximos grupos?
Existe um para os de 70 a 75 anos, que já são 60 mil pessoas. Vai aumentando à medida que vai diminuindo a idade. Depois, temos os planejamentos anteriores, de pessoas com comorbidades. Quando a gente fala em comorbidades também, observamos que o pessoal acima de 70 anos é o que perfaz a maior quantidade de pessoas com comorbidades no país. Depois, temos as comorbidades do pessoal de 50, 60 anos, pessoas que têm doenças crônicas e são mais jovens. Todos esses serão atendidos nessa fase depois do público de 60 anos. As pessoas que são atendidas pelo SUS, temos dentro do nosso sistema as comorbidades que elas apresentam. As pessoas atendidas em particular ou por convênios, deverão apresentar um relatório médico para que a gente possa avaliar e poder vaciná-las.
Como o senhor avalia a situação da pandemia no DF, diante até de lockdown em outros estados, como o Acre?
Estamos em uma situação bem favorável no DF. Ontem, falando com o secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Petrus Sanchez, ele me disse que estava desmantelando alguns leitos de UTI para covid-19 para transformá-los em não covid-19, para pacientes que têm outras necessidades, com outras doenças graves que necessitam de internação de UTI. Muitas vezes, querem trazer pacientes do Norte para o Distrito Federal, como foram alguns para o HUB (Hospital Universitário de Brasília), mas temos que atender os nossos pacientes com covid-19. Estamos em uma situação de transmissão. Em decorrência de tudo o que conversamos, peço tranquilidade às pessoas. Temos vacinas para atender os grupos prioritários. Só vamos abrir mais um grupo prioritário quando a gente tiver a vacina no número certo. Confiem, que a vacinação vai ser muito importante, efetiva e segura. Continuem usando máscara, lavando as mãos, utilizando álcool em gel e evitando aglomerações.