Coronavírus

Mais de 7,5 mil idosos são vacinados no DF no primeiro dia

Vacinação contra covid-19 para pessoas com mais de 80 anos teve primeiro dia com registros de alta procura nos locais de aplicação, que aumentarão para 40. A partir de hoje, vacinação desta parcela do público-alvo começa às 8h e segue até as 17h

Longas filas, dúvidas e ansiedade marcaram o primeiro dia de vacinação para as cerca de 42 mil pessoas com 80 anos ou mais no Distrito Federal. Milhares de idosos se apressaram para garantir a primeira dose da imunização contra a covid-19 em um dos 36 locais definidos pelo GDF — hoje, o número aumenta para 40 pontos. Sem cadastro prévio e com atendimentos por ordem de chegada, os postos de saúde escolhidos para aplicação registraram movimento intenso ao longo do dia e, em alguns locais, foi necessário adiantar o início da vacinação, marcado para as 13h, com o objetivo de reduzir a demanda.

Diante da alta procura, em alguns locais, a vacinação por drive-thru, que começaria apenas hoje, foi antecipada. Apesar das dificuldades e da espera, o clima também era de alegria e de emoção entre os idosos. Ao todo, 7.792 idosos com 80 anos ou mais foram vacinadas ontem, segundo balanço da Secretaria de Saúde. Além deles, 7.564 pessoas dos grupos prioritários receberam a primeira dose. Com isso, o DF teve o maior número de imunizados até agora, com um total de 15.356 vacinas aplicadas no dia.

No Cruzeiro Velho, meia hora antes do horário previsto para que as doses fossem aplicadas, a fila se estendia até o estacionamento da unidade. Muitos idosos, inclusive com dificuldade de locomoção, aguardavam sob o sol do meio-dia. Alguns levaram água, álcool em gel, cadeiras e guarda-sol para a fila. A reclamação do calor era constante. Os servidores tentavam adiantar o atendimento, mas a fila não parava de crescer. A vacinação foi realizada em uma tenda, nos fundos da unidade, e apenas um acompanhante poderia entrar na área de vacinação com o idoso.

No Lago Norte, houve a organização pelo sistema de senhas. Os idosos chegavam, preenchiam o cadastro antes de entrarem na unidade e recebiam o número com a posição na fila. Até as 15h30, mais de 200 senhas foram distribuídas. A todo o momento, os servidores pediam a observação do distanciamento social. Além disso, ofereciam cadeiras, bancos e água aos idosos. A vacinação foi realizada na área externa da unidade, também para evitar aglomerações.

Fora do Plano Piloto, o cenário foi parecido, com filas e aglomerações. Na UBS nº 5 de Taguatinga, Benedito Antônio Francisco da Silva, 81 anos, foi o primeiro da fila a garantir a dose. O servidor público aposentado mora em Águas Claras e decidiu ir ao posto mais próximo de casa. “Meu filho chegou às 6h para ver como estava o andamento aqui e eu cheguei às 9h. Não tinha filas, mas esperei até 13h. Trouxe comida, água e álcool em gel”, disse.

Em Ceilândia, profissionais de saúde chegaram a pintar a calçada com faixas brancas, indicando a posição onde cada pessoa deveria ficar para respeitar o distanciamento. Mas, nem todos obedeceram. Enquanto dois enfermeiros ficavam responsáveis pelo cadastro, outros três cuidavam da aplicação. Após serem vacinados, os pacientes saíam direto no estacionamento da UBS, sem precisar passar pela multidão.

Esperança

Na Unidade Básica de Saúde 2 da Asa Norte, na Entrequadra 114/115, a procura pelo imunizante começou cedo, antes mesmo de a UBS abrir. O aposentado Nelsino Alves Lemos, 82 anos, chegou por volta das 6h30 imaginando que seria imunizado de manhã. “Não sabia do horário de 13h, então vim cedo para resolver logo”, conta. Acompanhado da filha, Ana Keli Lemos, 43, os dois resolveram voltar para casa para tomar um café reforçado e depois retornar à fila que se formava. “É ruim ficar em casa, mas tem coisa pior causada por essa doença. A notícia da vacina é boa demais, mostra que a situação está melhorando”, pontua.

Nelsino foi o primeiro a receber a dose da CoronaVac na UBS 2 da Asa Norte. A vacinação foi antecipada para as 12h, após comando da Secretaria de Saúde. Ele conta que a primeira coisa que fará ao receber a segunda dose do imunizante é ir para a cidade de Piumhi, em Minas Gerais. “Quero passar um mês lá com meus irmãos e sobrinhos. A saudade está apertando muito”, destacou.

Na fila, os idosos que aguardavam a vez de serem imunizados faziam amizades e celebravam a alegria do momento que muitos definiram como histórico. A família de Maria Aparecida Salerno Portella, 89 anos, levou balões coloridos para comemorar. “Esse dia ficará nos livros para as próximas gerações, é algo para nos orgulhar”, afirmou Giselia Portella, 53, que vibrou e pulou ao presenciar a vacinação da mãe. “Vacina é vida”, ressaltou. “Esse é um passo muito grande que nós estamos dando. Estou muito feliz”, declarou Maria, que quer viajar para Lisboa assim que ela e a filha estiverem devidamente imunizadas.

Ontem, a comissão especial da Câmara Legislativa que fiscaliza o processo de vacinação no DF enviou ofício recomendando ações para que o GDF reduza filas e aglomerações. No domingo, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) cobrou a Secretaria de Saúde e deu 48 horas para o órgão informar quais medidas serão tomadas para que os idosos não precisem esperar à mercê do sol ou da chuva. A pasta informou que responderá aos questionamentos sobre medidas para reduzir filas e aglomerações no prazo solicitado.

Palavra de especialista

Vacinação rápida, já!

“No Brasil, estamos todos no mesmo barco em relação às vacinas. Não há um estado que esteja muito mais avançado neste processo. Porém, é importante destacar que, quanto mais rápido vacinamos os públicos-alvo, melhor, pois queremos diminuir o contágio e, nesses públicos, a doença se desenvolve para uma maior probabilidade de agravamento. Ou seja, ter, rapidamente, um avanço na vacinação para todos os grupos de maior risco também é importante. Porém, sabemos que, neste momento, não temos vacina para todos e dependemos da produção e do repasse das doses. Mas, reforço, quando as doses extras chegarem, temos que ter uma organização muito bem estruturada para distribuí-las da melhor forma. O Programa Nacional de Imunização (PNI) do país é referência mundial, mas ainda não está funcionando completamente para a covid-19. Avançar com a vacinação demanda tempo, planejamento e trabalho, mas, pela experiência com o PNI, acredito que temos competência e inteligência para estabelecer um sistema mais integrado e com melhor funcionamento.” Walter Ramalho, professor de epidemiologia da Universidade de Brasília.

Drive-thru em 11 pontos

Com a demanda alta e carros fazendo fila em alguns lugares, a Secretaria de Saúde adiantou o início da vacinação por drive-thru em quatro locais — Lago Sul, Arapoanga, Sobradinho e Riacho Fundo 1. Hoje, esse tipo de ação começa efetivamente nos 11 pontos definidos pela pasta a partir das 8h. O modelo facilita o processo para pessoas com dificuldades de locomoção e reduz aglomerações.

“Em função da grande procura por vacinas registrada no início da tarde de hoje (ontem), alguns cidadãos começaram, de forma espontânea, a organizarem seus veículos em filas em frente aos pontos de vacinação. Por essa razão, alguns gestores regionais de saúde que já tinham condições de iniciar a vacinação em veículos, no formato drive-thru, optaram por essa modalidade como forma de reduzir a demanda e evitar aglomerações”, explicou a pasta, em nota oficial.

No Lago Sul, a fila se estendia por cerca de 2km. Diante da alta procura, as doses não foram suficientes para vacinar a todos que aguardavam até o momento de encerramento da ação. Por volta das 17h de ontem, restavam 17 doses e muita gente não conseguiu receber o imunizante. A situação gerou revolta entre os idosos e familiares. Dona Maria Regina de Borba, 88, e o marido, 82, criticaram a organização. “Estamos desde cedo na fila e demorou demais. É um absurdo a maneira como estamos expostos, nesse sol, a ponto de passar mal”, disse Maria.

» Colaboraram Luana Patriolino e Alexandre de Paula