Coronavírus

Empresários do setor produtivo organizam protestos contra restrições no DF

Representantes de entidades do comércio, como bares e restaurantes, criticaram a volta das medidas restritivas. No entanto, especialistas em saúde alertam para a necessidade de restrições para conter o agravamento da pandemia

Caroline Cintra
Samara Schwingel
Pedro Marra
Larissa Passos
postado em 27/02/2021 06:00
Roberto Melo é dono de uma perfumaria na Asa Sul:
Roberto Melo é dono de uma perfumaria na Asa Sul: "O governo tem de fazer uma contraproposta, criar uma linha de crédito para a gente", sugeriu - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB) de restringir por completo o funcionamento de atividades não essenciais dividiu opiniões entre os representantes do setor produtivo, como associações de comércios, bares e restaurantes. Antes da publicação da norma mais ampla, na sexta-feira (26/2) à noite, representantes de setores atingidos participaram de uma reunião para discutir formas de derrubar a medida restritiva anterior, que decretava o fechamento de estabelecimentos entre as 20h e as 5h. Devido aos descontentamentos, empresários de Brasília se mobilizam para fazer duas manifestações: uma no domingo (28/2), às 11h, em frente à casa do chefe do Executivo local, no Lago Sul, e uma na segunda-feira (1º/3), às 9h, em frente ao Palácio do Buriti.

Há quatro anos à frente da gerência de uma perfumaria na 206 Sul, o empresário Roberto Melo, 51 anos, não aprovou o decreto distrital. Para ele, a medida gera indecisão. “As coisas têm de ser programadas, com um controle. Temos contas para pagar e funcionários que precisam de nós. Ele (Ibaneis) divulgou um decreto à tarde e, à noite, fez outro. Ficamos sem saber o que fazer. Sabemos dos problemas que ele tem enfrentado com a pandemia, mas tem de haver um critério”, argumentou. “O governador tem de fazer uma contraproposta, criar uma linha de crédito para a gente”, sugere Roberto.

Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Beto Pinheiro, o DF teve tempo e recursos para tomar todas as providências. “O governo tem de procurar cuidar das vidas, da saúde e também das empresas e empregos. Um caos social é péssimo para toda a população”, avaliou. Já o presidente em exercício da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Edson de Castro, entende que a medida é importante, mas expressou preocupação com a economia. “É um mal necessário, mas o comerciante não tem como pagar o funcionário para ficar em casa. Temos de vender para poder pagar”, disse.

O presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhobar-DF), Jael Antônio da Silva, soube da restrição mais severa durante a reunião com os demais empresários. “O que vamos fazer se os restaurantes fecharem de novo? Matéria-prima perdida, tudo organizado, estoque, prazo de validade, produtos perecíveis. Não é só o fato de você fechar, é um problema muito mais grave que isso”, comentou Jael.

Já o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), Sebastião Abritta, acrescentou que os gestores foram pegos de surpresa. “Neste momento, em que os empresários começaram a respirar, a pagar os empréstimos e os impostos, vão ter de fechar as portas. Saúde e economia devem andar juntas”, afirmou Sebastião.

Projeções

Apesar das críticas, a infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital de Águas Claras, explica que as restrições são necessárias e, para ela, poderiam ser mais rígidas. “O principal índice que aponta a necessidade de ações mais restritivas é a ocupação de leitos em UTI (unidades de terapia intensiva). Caso esse indicador continue alto, será preciso endurecer mais as medidas de prevenção”, opinou. “Aglomerações e festas clandestinas registradas no feriado de carnaval, além do desrespeito às normas sanitárias no dia a dia, podem ter colaborado para que chegássemos a esse ponto”, acrescentou Ana.

Para o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília, Walter Ramalho, houve falta de preocupação das pessoas com a situação de calamidade sanitária. “É importante ter em mente, primeiro, que é necessário salvar vidas para, depois, pensar na economia. Não vejo alternativa para que possamos diminuir o avanço e a transmissão do vírus entre as pessoas”, ressaltou Walter.

Pesquisador pela Universidade de Brasília (UnB) e professor do Centro Universitário Iesb, Breno Adaid alerta para três cenários possíveis para as próximas duas semanas. A projeção otimista é de que os casos da covid-19 comecem a cair a partir de 5 de março, dia em que a pandemia completa um ano desde que chegou ao DF. Na perspectiva pessimista, a média móvel diária de contaminados ultrapassaria 2 mil e se aproximaria de 3,5 mil, em 12 de março.

“Em relação às mortes, os cálculos projetam que, em 5 de março, seriam cerca de 4.880 vítimas. No caso pessimista, 4,9 mil. Uma semana depois, nos três cenários, os óbitos estariam acima de 4,9 mil. As projeções seriam menos drásticas se o distanciamento social tivesse sido mantido no feriado de Carnaval. As médias de infecção não teriam subido 50%, como temos observado. Estaríamos com cerca de 35% menos casos por dia do que o observado hoje”, calcula Breno.

Entorno

A decisão de Ibaneis também repercutiu entre governantes da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride). Às 14h deste sábado (27/2), o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), fará uma coletiva de imprensa, no Palácio das Esmeraldas, para falar sobre a possibilidade de lockdown no estado.

Ao Correio, o prefeito de Formosa (GO), Gustavo Marques, afirmou que o decreto veio tarde. “Acho que é a melhor saída para que o DF tenha realmente a diminuição da proliferação do vírus”, comentou. Ele acrescentou que algumas cidades goianas devem adotar medidas mais drásticas para combater o avanço da pandemia. “Creio que Luziânia, Novo Gama, Valparaíso e Cidade Ocidental, vão decretar fechamento total. Em Formosa, estamos com lotação total de leitos. Por isso, tenho conversado com outros prefeitos, para não chegarmos a um estado de calamidade. Se chegarmos, teremos lockdown”, completou Gustavo.

Colaborou Ana Isabel Mansur

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