A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) recebeu a informação de que receberá menos doses de vacinas contra a covid-19 do que o esperado. O envio da remessa está previsto para terça-feira (23/2), e o anúncio ocorreu após reunião com representantes do Ministério da Saúde, nessa sexta-feira (19/2). A expectativa era de contar com 100 mil doses da CoronaVac, mas o novo quantitativo só será informado na segunda-feira (22/2). Ainda na sexta (19/2), segundo o Gsaid — banco de dados de laboratórios que sequenciam genomas do coronavírus — houve a identificação de um morador do DF infectado pelo vírus da variante que circula no Rio de Janeiro, a cepa P2. No entanto, a SES-DF informou que não recebeu relatório com confirmação do caso.
Com a queda no número de doses recebidas, há preocupação com a possibilidade de ampliar o atendimento no DF. Até quinta-feira (18/2), a capital federal tinha cerca de 8 mil vacinas em estoque, para aplicação da primeira dose — o que deve durar só até quarta-feira (24/2). Apesar do cenário, internamente, representantes da SES-DF esperam inserir no cronograma de vacinação da próxima semana, ao menos, idosos com 78 anos. Porém, tudo dependerá do posicionamento do Ministério da Saúde e de quantas doses de vacinas chegarão. A última vez em que o DF recebeu imunizantes foi em 7 de fevereiro (leia Linha do tempo).
O Ministério da Saúde comunicou que a distribuição das doses ocorre “de maneira igualitária e proporcional ao público-alvo definido no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19”. O ministro Eduardo Pazuello confirmou, em reunião com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), na sexta-feira (19/2), que o Brasil terá mais 4,7 milhões de doses entre o fim de fevereiro e o início de março. “O cronograma de distribuição para os estados será divulgado na próxima semana”, completou a pasta federal.
Diante das incertezas, o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho considera que estender a vacinação aos poucos e garantir a segunda dose do imunizante aos vacinados é mais importante do que ampliar o processo para mais faixas etárias. “A ampliação só pode ocorrer se houver certeza do recebimento de mais doses, principalmente da CoronaVac, que tem um intervalo menor. É importante lembrar que a imunização só é completa após a segunda aplicação”, destaca Walter.
Variantes
Além da cepa britânica (B.1.1.7), a variante P2, identificada primeiro no Rio de Janeiro, apareceu no resultado de um exame de genoma de um morador do DF, segundo dados da plataforma Gsaid. A amostra do homem de 32 anos foi colhida no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) do Piauí, em 23 de julho, e confirmada pelo instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. O sistema também indica a infecção pela variante britânica de um homem de 33 anos, cujo material biológico foi coletado em 31 de dezembro. A SES-DF busca identificá-lo para fazer a vigilância epidemiológica.
A variante P2 é uma mutação genética da cepa B.1.1.2.8, que circula no Brasil desde março. Ela é considerada preocupante porque, assim como a P1 — verificada, inicialmente, no Amazonas — e a B.1.1.7, a transmissão ocorre mais rápido. Não há estudos que apontem se ela seria mais letal ou não. Além delas, circulam no DF, segundo o Gsaid, a cepa B.1.1.33 — a mais comum, que está no Brasil desde março —; a B.1.1.314, uma variante da brasileira; e a B, que seria da linhagem “original”, vinda da China.
Apesar de os dados estarem classificados e abertos a consulta, a SES-DF informa que não recebeu retorno sobre o sequenciamento de exames do DF e enviados aos laboratórios de referência. Por isso, a pasta não confirma a circulação das variantes em solo brasiliense. Bergmann Morais, professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), lembra que o Gsaid é o primeiro lugar onde os cientistas cadastram informações sobre mutações identificadas. “Só depois eles escrevem e enviam os relatórios do sequenciamento aos governos e às secretarias de cada estado. Portanto, pode haver um atraso na oficialização das informações”, explica o especialista.
Acertos
Na sexta-feira (19/2), gestores da Saúde do DF se reuniram com integrantes da força-tarefa de combate à pandemia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), para debater o atual cenário da pandemia. Durante o encontro, os representantes da instituição viram de maneira positiva o processo de ampliação dos leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) anunciado pela SES-DF na quinta-feira (18/2).
Para o MPDFT, a plataforma de agendamento lançada na sexta-feira (19/2) no DF também é um recurso importante para melhorar a logística do processo, o planejamento das doses e para evitar aglomerações. Em relação às novas cepas, o Ministério Público acredita que há necessidade de maior controle biológico e ampliação da vigilância laboratorial. Além disso, a instituição pediu à Secretaria de Saúde que produza uma nota técnica sobre a relação dos coronavírus em circulação com os imunizantes existentes. “Será um documento importante para explicar a repercussão das cepas e o que isso significa para as vacinas, se elas terão eficácia contra as variantes”, afirmou o coordenador da força-tarefa, o procurador de Justiça José Eduardo Sabo Paes.
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Agendamento da segunda dose
Quem tiver de receber a segunda dose da CoronaVac entre 22 e 26 de fevereiro pode agendar a aplicação do imunizante pelo site: vacina.saude.df.gov.br.
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Tira-dúvidas
Porque é importante o sequenciamento e a identificação da nova cepa?
O sequenciamento genético é fundamental para o monitoramento epidemiológico, identificação da origem dos vírus e onde estão as mutações, principalmente as chamadas variantes de atenção, que podem ser mais transmissíveis, mais graves e levar à falha vacinal. Como vimos na África do Sul, algumas mutações levaram à redução da eficácia da vacina AstraZeneca de 90% para 10%. Se não houver controle, os serviços de saúde colapsam. Por isso, o sequenciamento e a identificação são importantes, para que as autoridades façam o planejamento epidemiológico e de recursos.
Há a necessidade de ter rapidez nesse processo?
O processo não é rápido. O sequenciamento precisa ser feito em laboratórios especializados. Porém, quanto mais rápido tivermos a informação, melhor, até para os gestores gerenciarem a crise.
Até quando devo tomar a segunda dose? A data do cartão de vacinação é o limite ou posso demorar mais?
As vacinas só não devem ser aplicadas antes da data recomendada no cartão. Não há problema em tomar a segunda dose após a data indicada, porém, quanto mais a pessoa demorar, mais tempo ela vai ficar desprotegida e sem imunização contra o vírus. Nesse período, ela pode pegar a doença ou ser vetor de transmissão. Por isso, recomenda-se que a aplicação seja feita na data correta.
O que acontece se eu não tomar a segunda dose?
Sem a segunda dose, o processo de imunização não é completo. Ou seja, a vacina se perde, e a pessoa não desenvolve a proteção completa contra o vírus. Por isso, é importante garantir a aplicação dela.
Fontes: Walter Ramalho, professor de epidemiologia da UnB; Joana D'Arc Gonçalves, infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran); e Alexandre Cunha, infectologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.