Coronavírus

Aumenta cobrança por monitoramento eficaz de cepas em circulação no DF

Variante britânica foi identificada em, pelo menos, dois moradores do DF, no fim do ano passado, segundo apurou o Correio. Secretaria de Saúde confirma uma das infecções, mas nega que nova cepa esteja em circulação na capital federal

Samara Schwingel
Adriana Bernardes
postado em 19/02/2021 06:00
"Variantes estão chegando e isso preocupa. Por isso, fica aqui o meu apelo à população: continuem seguindo as medidas de segurança sanitária, usando máscaras, álcool em gel e distanciamento social" Osnei Okumoto, secretário de Saúde do DF - (crédito: Lúcio Bernardo Jr/Agência Brasília)

A informação de que a variante britânica do novo coronavírus, a B.1.1.7, está em circulação no Distrito Federal, pelo menos, desde dezembro do ano passado, revelada pelo Correio, preocupa especialistas e órgãos de fiscalização. Segundo eles, a Secretaria de Saúde precisa acompanhar de perto os casos desde a suspeita até a confirmação ou o descarte da infecção. Nesta sexta-feira (19/2), o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) vai se reunir com o secretário Osnei Okumoto para discutir o andamento da vacinação e cobrar respostas em relação às novas cepas na capital. Enquanto isso, DF e cidades do Entorno sofrem com a alta ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTIs) voltadas para o tratamento da doença.

Em relação às variantes do vírus no DF, o Correio apurou que pelo menos dois homens se contaminaram com a nova cepa, um com 25 anos e outro com 33. As amostras desses pacientes foram coletadas em 31 de dezembro de 2020. Apesar de confirmar um dos casos de infecção, a Secretaria de Saúde nega que a nova cepa esteja em circulação na capital federal. A ocorrência validada pela pasta é de um morador de Brasília que fez o teste no Piauí. Cientes deste caso, Okumoto e o diretor de vigilância epidemiológica do DF, Cássio Peterka, afirmaram que buscam identificar este paciente para, então, fazer o acompanhamento epidemiológico. “Estamos buscando saber se essa pessoa mora no Piauí e ainda não atualizou o endereço no cadastro do SUS (Sistema Único de Saúde) ou se realmente mora aqui e estava de passagem em outro estado”, afirmou Okumoto.

A pasta não confirmou o segundo caso, no entanto, e negou que a variante esteja em circulação na capital federal. Informou apenas que não recebeu retorno das amostras enviadas ao Instituto Adolfo Lutz para validação do sequenciamento dos genomas. O instituto, procurado pela reportagem, afirmou que não pode passar dados referentes a essas amostras e que cabe à Saúde do DF negar ou confirmar o recebimento dos resultados.

Apesar da falta de confirmação, há uma preocupação por parte dos gestores. “Variantes estão chegando e isso preocupa. Por isso, fica aqui o meu apelo à população: continuem seguindo as medidas de segurança sanitária, usando máscaras, álcool em gel e distanciamento social”, reforçou Okumoto. A declaração foi feita na tarde de quinta-feira (18/2), durante o lançamento da plataforma de agendamento da vacinação (leia abaixo).

“Acompanhamos todos os casos confirmados no DF, independentemente da cepa”, garantiu Peterka, também presente à cerimônia, e reforçou que quanto menor a circulação do vírus, menores as chances de novas variantes se disseminarem e surgirem.

Nesta sexta-feira (19/2), a partir das 9h, representantes do MPDFT devem se reunir com os gestores da Saúde local para tratar de assuntos relacionados à covid-19. Coordenador da força-tarefa de combate à pandemia, o procurador de Justiça José Eduardo Sabo Paes afirmou ao Correio que, durante a reunião, deve pedir respostas da pasta em relação às investigações e à identificação do homem que testou positivo para a cepa britânica. “Sabemos que a mutação do vírus é uma questão natural, mas queremos saber quem é esta pessoa e a localização exata dela”, ressaltou Sabo.

Vigilância

Para o infectologista do Hospital das Forças Armadas Hemerson Luz, a vigilância sanitária e a prevenção devem ser aliadas neste momento, pois, segundo ele, o surgimento de novas cepas somado ao descuido da população pode levar o sistema de saúde a um colapso. “Algumas das mutações do coronavírus, como a britânica, a sul-africana e a de Manaus, são mais transmissíveis e, por isso, podem levar mais pessoas aos hospitais da capital. Caso isso ocorra, podemos sofrer com um aumento de mortes, não por letalidade do vírus, mas por falta de assistência”, disse.

“Se a Saúde não estiver preparada para isso, pode colapsar. Por isso, a prevenção, por parte da população, e a vigilância dos novos casos, por parte da secretaria, devem andar juntas para controlar a disseminação”, completou o especialista.

Deputados distritais também manifestaram preocupação com a circulação de variantes da covid-19 no DF. A Comissão Especial de Vacinação da Câmara Legislativa do DF (CLDF) cobrou da Saúde um mapeamento da nova cepa do Sars-CoV-2 na capital e no Entorno. “Temos informações preliminares de que a variante britânica é mais contagiosa e, em algumas situações, mais perigosa que o vírus inicial da covid-19. Por isso, a supervisão é necessária para que o governo possa atuar e isolar os casos para evitar uma maior propagação”, afirmou o distrital Fábio Félix (PSol), presidente da comissão.

Ocupação de leitos

Nessa quinta-feira (18/2), Brasília registrou mais 645 casos e 10 mortes pela covid-19. No total, são 287.365 infecções confirmadas e 4.728 óbitos. A ocupação de leitos de UTI voltados para o tratamento da doença chegou a 87,5% com alguns hospitais, como o Hospital de Base e o Hospital de Campanha da Polícia Militar, atingindo 100% e 88,75% de ocupação, respectivamente. Como resposta e para evitar um colapso, a Saúde informou que vai ativar 100 leitos nas próximas semanas.

Já nos 33 municípios que compõem o Entorno do DF — 29 de Goiás e quatro de Minas Gerais — a situação se mostra pior. Em Goiás, 15 dos 33 não contam com leitos de UTI para tratar o novo coronavírus, inclusive Águas Lindas de Goiás, cujo hospital de campanha foi desativado. Dos que têm, Formosa e Luziânia atuam com 100% e 90% de ocupação, respectivamente. Em MG, apenas Unaí tem UTI e, segundo dados da secretaria de Saúde do Estado, atua com 56% de ocupação.

Formosa, Padre Bernardo e São João da Aliança estão em situação considerada crítica; Pirenópolis encontra-se em alerta; e Alexânia, em calamidade. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde de Goiás informou que, quando uma região está em situação de alerta, é permitido o funcionamento de todas as atividades, exceto eventos com mais de 150 pessoas. “No caso de situação crítica, deve-se reduzir a capacidade de atendimento em atividades de alto risco de contaminação, como bares e instituições religiosas, que passam a ter permissão para ocupar 30% da capacidade. Já as atividades de baixo risco, como salões de beleza, barbearias, shoppings e centros comerciais, ficam com o limite de 50% de utilização. Eventos, transporte coletivo e outros setores terão restrições específicas”, disse a pasta.

Nos casos de calamidade, há a interrupção de todas as atividades, exceto supermercados, farmácias, postos de combustível e serviços de urgência e de emergência em saúde. Caso seja observada piora nos indicadores, cada região manterá as medidas restritivas respectivas a cada situação por pelo menos 14 dias.

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