Apesar da expectativa de um primeiro semestre mais tranquilo em comparação com o cenário de 2020 — quando comércio e diversas atividades estavam impedidas de funcionar — a retomada da economia local só deve se confirmar com resultados mais expressivos a partir da segunda metade deste ano. A avaliação é do setor produtivo, otimista com o avanço da vacinação e com a segurança de estarem com as portas abertas, e de economistas que fazem uma análise mais conservadora da situação.
O Governo do Distrito Federal (GDF) também trabalha com a avaliação de que o segundo semestre deve consolidar a retomada da economia brasiliense. O governador Ibaneis Rocha (MDB) confirmou ao Correio que acredita nessa estimativa. A prorrogação do Programa de Incentivo à Regularização Fiscal do Distrito Federal (Refis-DF 2020), que está em avaliação na Câmara Legislativa, e o investimento nas áreas de desenvolvimento são algumas das medidas a que o Executivo local dará prioridade para aquecer a economia.
O impacto da crise econômica em 2020 se expressa em números. Dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) mostram que houve queda em dois setores fundamentais para a capital do país: comércio e serviços. A retração do volume de serviços foi de 10,5% em todo o ano passado, segundo o órgão. No comércio, a queda ficou em 5,2%. Nas duas áreas, porém, dezembro apresentou tendência de retomada de cerca de 4%.
“Temos uma perspectiva positiva em se tratando do Distrito Federal para o segundo semestre. Quando olhamos para o nacional, percebemos que o DF tem mais musculatura para sair do outro lado no pós-pandemia, e isso se fortalece, ainda, por estratégias governamentais para sairmos da situação”, acredita o secretário de Desenvolvimento Econômico, José Eduardo Pereira. A chegada de grandes companhias — como a Amazon, que instalará um centro de distribuição na capital do país — é um sinal disso, na visão do chefe da pasta.
José Eduardo ressalta que há um esforço conjunto no GDF para que a retomada se concretize no segundo semestre. Além de atrair empresas de fora, a ideia é fortalecer a relação com os empresários locais, garantindo que possam crescer e gerar mais empregos sem sair da capital federal. “Temos uma espécie de combo de ações estratégicas para dar condições para uma boa retomada. Estamos fazendo obras nas áreas de desenvolvimento, no Polo JK, conversando com novas empresas e dando atenção para que o investidor sinta segurança aqui. O BRB (Banco de Brasília) também foi muito importante nesse momento, como um banco de fomento”, acrescentou o secretário.
Para trazer novos negócios ao DF, uma das apostas é o Comitê de Atração de Investimentos, encabeçado pelo secretário de Economia, André Clemente, mas composto por várias áreas da estrutura do Executivo local. “Muitas empresas iam embora por falta de cuidado. O governador foi muito incisivo para valorizar Brasília como um grande distribuidor logístico. Para consolidar essa vocação e esse potencial quase inexplorado, criou-se o comitê. É uma espécie de balcão único para que todas instituições possam sentar com empresários e negociar”, explica José Eduardo Pereira.
Começo difícil
Riezo Silva, coordenador do curso de Economia do Centro Universitário Iesb, acredita em uma recuperação mais nítida a partir do segundo semestre, apesar das incertezas. “O DF tem foco muito grande na prestação de serviços. Aos poucos, os indicativos mostram que esses serviços têm sido retomados”, diz. “A tendência é, sim, de um primeiro semestre difícil, e a economia é um ciclo. Então, é preciso mais alguns meses para essa mudança”, acrescenta.
Para que a economia, de fato, recupere-se, o professor considera necessário que as pessoas se sintam seguras para se movimentar. “A vacina pode ajudar nisso, porque, com a população se sentindo mais segura, aumenta o fluxo de renda. Quando alguém sai de casa para jantar, abre oportunidade para o dono do restaurante comprar e contratar, e isso movimenta”, argumenta Riezo.
No âmbito local, ele destaca que há um fortalecimento da economia criativa e do empreendedorismo. Para Riezo, o GDF pode auxiliar nisso. “O governo tem de buscar desburocratizar, reduzir as barreiras para o pequeno empresário e empreendedor. São incentivos que chamamos de microeconômicos. Isso pode ampliar a oferta de serviços”, destaca o professor.
Esperança
Para o setor produtivo, o momento é de expectativas altas. Depois das incertezas de 2020, a promessa de estabilidade em 2021 faz com que as análises sejam mais otimistas. “Estamos vendo uma luz no fim do túnel. Muitos empresários quebraram, mas os que ficaram estão investindo e com esperança. O ano de 2021 ainda será difícil, mas não pode ser mais difícil do que passamos em 2020”, diz Edson de Castro, presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF).
Para o setor, a geração de empregos é o grande desafio neste ano. “Essa é nossa grande preocupação hoje, porque isso precisa melhorar muito, mas está todo mundo apostando no avanço. Esses dois primeiros meses vão ser bem difíceis também, porque é o que acontece sempre em Brasília. Aqui, o ano só começa em março”, completa Edson de Castro.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Palavra de especialista
Desafios e incertezas
Há alguns problemas para que o segundo semestre seja realmente melhor. O primeiro é o cronograma de vacinação. Não está claro se teremos toda a população vacinada até lá, nem como será (a campanha). O outro ponto é a resistência do Ministério da Economia em reimplantar o auxílio emergencial. Se isso não ocorrer, 2021 será um desastre. Nesses pontos, o GDF (Governo do Distrito Federal) não tem o que fazer, pois depende do Governo Federal. Pode tentar acelerar os processos, e o DF está até bem colocado na questão da vacinação, mas, se o Governo Federal não tomar as medidas necessárias, não haverá muito a fazer. Precisamos ver o que vai acontecer para saber o que teremos pela frente também no próximo ano.
José Luis Oreiro, economista da Universidade de Brasília (UnB)
Baixas
Em 2020, segundo o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), 750 empresas locais fecharam as portas por causa das dificuldades causadas pela pandemia da covid-19.