PANDEMIA

Covid-19: probabilidade de nova cepa circular no DF é alta, alerta especialista

A variante britânica da covid-19 foi encontrada nas cidades goianas de Luziânia e Valparaíso de Goiás. Duas pessoas tiveram contato com um parente que veio da Inglaterra para as festas de ano-novo. No DF, ainda não há confirmação de novas cepas em circulação

Samara Schwingel
postado em 14/02/2021 06:00
Luziânia: Secretaria de Saúde de Goiás detectou que a infecção teve relação com um surto familiar da doença, durante viagem com mais de 20 pessoas — uma delas, o viajante da Inglaterra -  (crédito:                Antonio Cunha/CB/D.A Press                     )
Luziânia: Secretaria de Saúde de Goiás detectou que a infecção teve relação com um surto familiar da doença, durante viagem com mais de 20 pessoas — uma delas, o viajante da Inglaterra - (crédito: Antonio Cunha/CB/D.A Press )

A confirmação da existência da variante britânica do vírus causador da covid-19 — que levou o Reino Unido a decretar o terceiro lockdown — em Luziânia e em Valparaíso, cidades goianas do Entorno do Distrito Federal, acende o alerta para a evolução da pandemia na capital federal. Devido à circulação de pessoas entre as regiões, a probabilidade de a nova cepa do coronavírus estar circulando também em Brasília é alta, explicam especialistas. Os dois infectados tiveram contato, segundo a Secretaria de Saúde de Goiás, com um familiar que viajou da Inglaterra para o Brasil e participou de comemorações de ano-novo.

Os pacientes que testaram positivo para a variante britânica são uma mulher, moradora de Luziânia, e um homem, de Valparaíso de Goiás. De acordo com a secretaria, ambos realizaram testes para a covid-19 em 31 de dezembro do ano passado e apresentaram resultado positivo. Em 19 de janeiro de 2021, as amostras dos testes foram encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), que as enviou para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para sequenciamento genômico que confirmou a infecção pela nova cepa.

Após investigação dos casos, a secretaria detectou que a infecção teve correlação com um surto familiar da doença, que ocorreu durante uma viagem envolvendo mais de 20 pessoas, sendo uma delas o viajante recém-chegado da Inglaterra. Agora, a pasta trabalha junto à Regional de Saúde do Entorno Sul e às secretarias municipais de Saúde de Valparaíso de Goiás e de Luziânia no monitoramento e acompanhamento destes pacientes e de novos casos que possam surgir. Entre as ações, estão a realização de investigação retrospectiva; avaliação do histórico de viagem, quadro clínico, gravidade e desfecho; rastreamento e monitoramento dos contatos entre residentes da mesma casa, seus familiares ou demais pessoas próximas; e notificação dos casos suspeitos para coleta de material e envio ao Lacen de Goiás.

Flúvia Amorim, superintendente de Vigilância em Saúde da secretaria de Goiás, afirmou, em vídeo divulgado pela pasta, que a circulação dessa variante era algo esperado pela pasta. “Era algo que nós imaginávamos que estivesse acontecendo, só não tínhamos a confirmação. A variante de Manaus também é muito possível que já esteja circulando”, disse. Ela também pediu que a população reforce as medidas de combate à pandemia.

A Secretaria de Saúde do DF informou, por meio de nota, que a Diretoria de Vigilância Epidemiológica e o Lacen-DF monitoram todos os casos de covid-19 registrados no DF e encaminha os sequenciamentos aos laboratórios de referência, entre eles, o Adolfo Lutz. “Até o presente momento, não houve devolutiva com confirmação de sequenciamento com outra variante da covid-19”, completou a pasta.

Perigos

A variante foi identificada pelas autoridades de saúde do Reino Unido em 14 de dezembro do ano passado e notificada em mais de 62 países. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ela foi responsável por um aumento significativo da transmissibilidade, incidência, hospitalizações e pressão sobre o sistema de saúde desde a segunda metade do último mês de 2020.

Segundo a infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital de Águas Claras, as mutações são mecanismos de sobrevivência do vírus e, quanto mais ele circula, mais ele pode desenvolver variantes. “Cada vez que uma nova mutação é descoberta, corremos o risco de perder a eficácia das vacinas que estão sendo aplicadas. Por isso, é importante que todos saibamos quais são as cepas que estão em circulação em cada região”, explica.

Para Germoglio, a chance de esta cepa estar presente no DF é grande. “É praticamente inevitável. Como há uma grande circulação de pessoas entre essas cidades e Brasília, é uma questão de tempo até a cepa britânica ser confirmada na capital federal também”, diz. Por isso, a infectologista reforça a necessidade de se seguir os protocolos e regras sanitárias. “É importante evitar que mais variações apareçam. Para isso, precisamos de apoio da população e de avanço na vacinação. Só esses fatores, combinados, podem amenizar essa pandemia”, completa.

Carnaval

Para garantir que as medidas de combate ao novo coronavírus fossem respeitadas durante o carnaval, o Governo do DF mobilizou uma força-tarefa de fiscalização. Durante o primeiro dia de ação, 92 estabelecimentos em 15 regiões administrativas foram vistoriados, sendo que cinco foram multados e três, interditados por descumprimento às normas sanitárias. Um dos interditados, foi um evento com grande programação de carnaval que acontecia próximo ao ginásio Nilson Nelson. A equipe de fiscalização chegou ao local por volta de meia-noite e encerrou a festa.

Na avaliação do coordenador da força-tarefa no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o procurador de Justiça José Eduardo Sabo Paes, que acompanhou o primeiro dia de fiscalização na capital, a maior parte das infrações é de falta do uso de máscaras e de aglomerações. “Infelizmente, percebemos que as pessoas ainda não entenderam que, este ano, não podemos curtir o carnaval da mesma forma como fazíamos antes. Percebemos que ainda há um descaso por uma parcela grande da população”, diz Sabo. No total, a partir das 20h de ontem, seis equipes se dividiram para percorrer todo o DF.

Sobre a descoberta da nova variante do vírus no Entorno, o procurador afirma que não há informações de circulação na capital, mas o MP deve cobrar das autoridades sanitárias locais, nesta semana, respostas sobre as investigações em andamento atualmente.
A força-tarefa é composta por vários órgãos, como Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), Brasília Ambiental, Procon, Divisa, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Departamento de Trânsito (Detran), Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Secretaria de Transporte e Mobilidade, Secretaria das Cidades, Secretaria de Agricultura, Receita e MPDFT. A força-tarefa continuará agindo até 17 de fevereiro. As equipes atuam das 18h às 3h.

Colaborou Edis Henrique Peres


» Covid-19 no DF

Nas últimas 24 horas, o DF registrou nove mortes e 595 novos infectados pela covid-19. No total, são 284.301 casos da doença e 4.680 vidas perdidas. A taxa de transmissão está em 0,95. Já a média móvel de casos é de 528,8 — 48,7% menor em relação a 14 dias atrás. A média móvel de mortes, por sua vez, permanece em 10,28, número 6,5% menor do que o das duas semanas anteriores.

» Denuncie

Quem tiver informação sobre eventos clandestinos deve entrar em contato por meio da Ouvidoria (162) ou pelo 190. Festas, eventos com aglomeração e programações carnavalescas estão proibidas até 21 de fevereiro. Quem descumprir a norma, fomentar ou ajudar a promover este tipo de evento será multado em até R$ 20 mil. Os bares e restaurantes, que estão autorizados a funcionar, devem seguir regras específicas, como proibir que clientes consumam produtos em pé ou dancem nos estabelecimentos e operar com 50% da capacidade total. 

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