Desde o início da pandemia da covid-19 no Brasil, as crianças e adolescentes ficaram mais tempo dentro de casa e tiveram menos contato com outras pessoas. Agora, com o retorno das aulas, a dúvida que fica é: como a falta de interação social pode impactar na saúde mental das crianças? Para responder esse e outros questionamentos, a jornalista Carmen Souza conversou com o médico psiquiatra e vice-presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, Carlos Guilherme Figueiredo, nessa quinta-feira (11/2), no programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília.
Do ponto de vista da saúde mental, quais são os desafios na volta às aulas?
Esse retorno é sempre de muita expectativa para as crianças e adolescentes. Ocorre que o ano de 2021 é bem diferente dos outros anos. Se o retorno for em formato on-line, por exemplo, isso pode causar um impacto e sofrimento às crianças. Outra coisa é o próprio retorno presencial. É um desafio para os pais, professores e, principalmente, para as crianças a adaptação, porque elas estão acostumadas a ficar com a família e, agora, vão ter contato com outras pessoas. Mesmo com os coleguinhas de classe, as crianças estão tendo dificuldade com essa adaptação.
Essa volta pode ser um fator estressante para criança?
Sim. Muitas crianças demonstram expectativa em voltar para escola, mas nós vemos que a criança retorna e comenta com os pais que está ruim, porque não pode brincar com os amigos, não pode abraçar, ou seja, está tudo muito diferente do que as crianças estavam acostumadas.
Como os pais podem preparar os filhos para a volta às aulas presenciais?
Os pais têm que dar o exemplo dentro de casa, porque a criança tende a repetir, em sala de aula, os cuidados. Os pais podem brincar que estão dentro de uma sala de aula e ensinar as regras que são essenciais, agora, para evitar o contágio pela covid-19. Por meio do exemplo, você consegue ensinar, explicar e fazer com que a criança entenda o porquê de tudo isso.
Há estudos que relacionam o uso exagerado de eletrônicos com o desenvolvimento da ansiedade. De que forma isso ocorre?
Ainda são hipóteses, mas o tempo de exposição à tela reduz a atividade física e leva ao sedentarismo. A mesma coisa com a alimentação: as crianças, os jovens e até os adultos passam muito tempo em tela, acabam não se alimentando e fazendo longos períodos em jejum e, depois, comem em grande quantidade alimentos não saudáveis. Tudo isso contribui para o desenvolvimento de diversas doenças. Outro ponto principal é a qualidade do sono, que é inversamente proporcional ao tempo de exposição à tela.
O retorno às aulas, apesar dos temores, pode ser bom no ponto de vista da saúde mental das crianças?
Com certeza é bom. É claro que temos que ter todos os cuidados, respeitar as medidas de distanciamento e tudo que for recomendado pela Organização Mundial de Saúde e órgãos sanitários internacionais e do Brasil. No entanto, o retorno às aulas é fundamental, porque (caso não ocorra) você acaba perdendo muito tempo do desenvolvimento em momento crucial para vida do indivíduo (a infância), além de ocorrer uma grande perda do capital mental.
* Estagiária sob a supervisão de Guilherme Marinho
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