O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou que, devido à falta de vacinas contra a covid-19 no Brasil e no mundo, o governo local não consegue fixar um calendário de imunização concreto. “Infelizmente, não temos vacina no Brasil, assim como não estamos tendo no mundo. Então, só conseguiremos ter um plano de vacinação no dia que tivermos vacina”, frisou o emebedista. Especialistas avaliam que esta incerteza pode comprometer o ritmo de vacinação. Durante o carnaval, uma força-tarefa do Governo do Distrito Federal (GDF) vai fiscalizar o funcionamento de bares, restaurantes, clubes recreativos e impedir festas clandestinas para evitar aglomerações e aumento de casos após o feriado. O DF é uma das unidades da Federação que manterá o ponto facultativo na terça-feira.
A declaração de Ibaneis foi feita nessa quarta-feira (10/2), durante a cerimônia de regularização fundiária no Lago Norte. Após dizer que não tinha um plano por falta de doses do imunizante, o chefe do Palácio do Buriti garantiu que o plano já foi apresentado pela Secretaria de Saúde. “Houve escalonamento total, mas não tem vacina, então, estamos em uma situação complicada. Porque fazer um plano e não ter entrega das vacinas no plano nacional de imunização complica bastante”, argumentou o chefe do Executivo local.
Para a infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital de Águas Claras, com esta indefinição, o andamento da vacinação pode ser afetado. “É uma questão básica de logística. Se não temos os insumos necessários para fabricar nem as próprias vacinas, corremos o risco de sofrer uma interrupção no processo”, ressalta.
A especialista considera que, apesar de o percentual de aplicação dos imunizantes do DF ser o melhor do país, falta muito para se atingir o ideal de 80% da população vacinada. “São muitas variáveis ao redor da vacinação. De qualquer forma, caso o processo seja comprometido, podemos demorar mais de um ano para atingir uma quantidade maior de vacinados e considerar que temos uma imunidade de rebanho”, explica Germoglio. Até essa quarta-feira (10/2), o DF aplicou os imunizantes em 106.990 pessoas, valor correspondente a 3,5% da população. Destas, 4.565 tomaram a segunda dose.
Sem folia
Além do possível comprometimento do processo de imunização contra a covid-19, o GDF deve se preparar para o feriado de carnaval. Segundo Germoglio, como os bares e os restaurantes estão autorizados a funcionar em horário normal — até 3 de janeiro, o fechamento era às 23h —, mesmo sem os bloquinhos de rua, deve haver aglomerações durante a data pagã. “Sabemos que as pessoas estão cansadas da pandemia, de ficar em casa, de usar máscara. Porém, tudo isso ainda é necessário”, frisa a infectologista.
“Se as pessoas continuarem sem consciência coletiva e sem seguir as medidas de segurança sanitária, o cenário do fim do ano passado pode se repetir. Ou seja, duas semanas após o carnaval, podemos ter um aumento expressivo de casos. O ciclo será o mesmo: os jovens, que geralmente são quem frequentam as festas, em sua maioria, não estão no grupo prioritário da vacinação. Quando se expõem, têm mais risco de adoecer e de transmitir o vírus para quem faz parte do grupo de risco”, alerta Germoglio.
Para a infectologista, medidas mais restritivas, fiscalização mais intensa e comunicação direta com a população seriam providências válidas para evitar o aumento de infecções. “As pessoas precisam entender e colaborar. Só assim vamos conseguir vencer o vírus. Dependemos uns dos outros”, completa.
Fiscalização
A Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal), responsável pela fiscalização do cumprimento das medidas sanitárias de combate à covid-19 na capital federal, informou, por meio de nota oficial, que, entre 12 e 17 de fevereiro, uma força-tarefa que envolverá diversos órgãos de fiscalização e de segurança, com nove equipes distribuídas das 8h às 3h, vai vistoriar bares, restaurantes, clubes recreativos e coibir festas clandestinas.
Segundo a pasta, todos os estabelecimentos em funcionamento deverão seguir as medidas previstas nos decretos, que são: aferir a temperatura de todos os clientes quando chegarem ao estabelecimento; ofertar álcool em gel 70% para todos os presentes em quantidade suficiente; manter o distanciamento entre as mesas; permitir a ocupação máxima de 50% do espaço físico do local; não permitir o trânsito dos clientes e funcionários sem máscara; cobrar de todos, incluindo de funcionários, o uso de máscaras; não permitir que clientes permaneçam bebendo ou se alimentando em pé; não permitir que os clientes dancem.
A multa para o estabelecimento quanto ao não cumprimento das normas sanitárias é de R$ 3.628 a R$ 4 mil. E os clientes que se recusarem a usar mascara serão penalizados em R$ 2 mil. O local pode ser imediatamente interditado e, caso haja resistência, os responsáveis poderão ser levados para a delegacia.
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Aplicação itinerante em Ceilândia
Nesta quinta (11/2) e sexta-feira (12/2), das 9h às 17h, o projeto Sua Vida Vale Muito Intinerante, parceira da Secretaria de Justiça (Sejus) e da Secretaria de Saúde (SES), vai vacinar os idosos com mais de 79 anos na Praça dos Direitos, na QNN 13 de Ceilândia. Os interessados devem apresentar documento de identificação e CPF.
A ação contará com servidores voluntários, das duas pastas, cadastrados no Portal voluntariado da Sejus. O objetivo é receber o publico-alvo com todos os cuidados necessários para evitar aglomerações. Na última semana, o projeto vacinou 220 idosos em dois dias de ação. Os servidores que quiserem se voluntariar para participar da iniciativa deve acessar o site da Sejus.
Três perguntas para
Leandro Machado, infectologista e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB)
Quem recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 pode se considerar imunizado e relaxar nas medidas de segurança sanitária?
Não. Depois da primeira dose, existe uma imunização, mas ela não é suficiente para que a pessoa se proteja contra o vírus. Cerca de 21 dias após a segunda é que se considera que a imunização está completa. Ainda assim, as vacinas que estão circulando, no DF, não garantem que a pessoa não vá se infectar, mas sim que ela não vai desenvolver a forma grave da doença. Por isso, é preciso seguir todas as precauções sanitárias. A vacina não vai liberar ninguém para o carnaval.
Uma interrupção na vacinação seria prejudicial ao processo de imunização?
Sim. A interrupção pode ser prejudicial, pois temos óbitos em pacientes mais jovens e que ainda não fazem parte dos grupos prioritários. Ou seja, se a vacinação for interrompida, a doença vai continuar infectando e matando esses grupos.
De quanto pode ser o aumento de casos após o carnaval, caso festas clandestinas e aglomerações ocorram?
É difícil falarmos em um número concreto, mas outros Estados ainda estão colhendo as consequências das festas de fim de ano e podem servir como um aviso para o DF. Se não entendermos que ainda estamos em meio a uma pandemia, cerca de 20 dias após o carnaval, vamos, com certeza, ter um aumento de casos. Não podemos relaxar, porque todo o cenário pode mudar de uma semana para outra.