SAÚDE

Paciente com ELA luta por tratamento e aposentadoria para viver com dignidade

Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA). Doença provoca a atrofia de músculos, não tem cura e compromete a sobrevivência do auxiliar de serviços gerais, que recorreu a uma campanha nas mídias sociais para pedir ajuda

Jéssica Cardoso*
postado em 08/02/2021 06:00 / atualizado em 08/02/2021 16:20
Além de precisar de ajuda nas tarefas diárias, Antônio Francisco tem dificuldade para engolir, dormir e sente dores constantes -  (crédito: Ed Alves/CB/DA Press)
Além de precisar de ajuda nas tarefas diárias, Antônio Francisco tem dificuldade para engolir, dormir e sente dores constantes - (crédito: Ed Alves/CB/DA Press)

“No meio de 2017, senti os primeiros sintomas. Estava jogando um campeonato de futebol e, quando chutei a bola, senti uma fraqueza na perna.” A partir desse momento, a vida de Antônio Francisco Ferreira, 44 anos, mudou completamente. Com o passar dos anos, o então auxiliar de serviços gerais passou a ter muitas câimbras, dores no corpo, tremores e, por isso, procurou atendimento médico. Em 5 de setembro de 2019, ele recebeu o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica.

Conhecida como ELA, a doença é caracterizada pela degeneração progressiva de neurônios, o que se reflete, por exemplo, no tônus de pernas, braços, do pescoço, da garganta e da boca. “O paciente vai perdendo, gradativamente, a força nos músculos, que diminuem de tamanho. No entanto, não existe um padrão homogêneo. Em cada pessoa, (a esclerose) pode começar de uma forma e em qualquer músculo do corpo”, explica o neurologista Hamilton Cirne Franco, do Hospital de Apoio de Brasília (HAB).

  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Antonio Francisco Ferreira, ex auxiliar de serviços gerais em 2019 foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica ELA
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Arquivo Pessoal
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press
  • Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA)
    Em setembro de 2019, Antônio Francisco Ferreira descobriu que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA) Ed Alves/CB/DA Press

O comprometimento gradativo da força e do controle dos músculos fez com que Antônio Francisco perdesse o equilíbrio do próprio corpo — algo que ocasionou diversas quedas — e o movimento dos braços. Ele não consegue mais comer, tomar banho e fazer outras atividades comuns sozinho. “Hoje, preciso de ajuda para tudo. Não consigo segurar nada nem me virar na cama. Engasgo com saliva, com alimentos e não consigo dormir, porque sinto dores”, conta o morador de Sobradinho 2.

Com o avanço do quadro, Antônio Francisco teve de deixar o emprego de auxiliar de serviços gerais e, até hoje, não conseguiu receber o auxílio-doença nem a aposentadoria por invalidez, concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Atualmente, a mulher dele, Sebastiana da Silva, 46, fica responsável por sustentar a casa, além de cuidar do companheiro e ajudá-lo nas atividades do dia a dia. Também auxiliar de serviços gerais, ela conta com o apoio da sogra, do cunhado e da irmã. “Foi muito triste quando recebemos a notícia de que ele estava doente. Ele fazia de tudo. Até hoje, não acreditamos”, lamenta Sebastiana, casada com Antônio Francisco há cinco anos.

Devido às dificuldades para conseguir os remédios e pagar as despesas básicas, o casal decidiu fazer uma postagem no Facebook, para pedir ajuda financeira. Com a publicação, que teve mais de 270 comentários e 200 compartilhamentos, Sebastiana espera que os anos de vida do marido se prolonguem da melhor maneira possível. “O dinheiro será usado na medicação — que, às vezes, não conseguimos na Farmácia de Alto Custo —, na alimentação, na locomoção e nos outros tratamentos. Tudo para que ele tenha mais conforto e melhore”, diz Sebastiana.

Tratamento

Hoje, o que se sabe de concreto sobre a esclerose lateral amiotrófica, segundo o neurologista Hamilton Cirne Franco, é que uma alteração no metabolismo dos músculos faz com que uma substância tóxica se acumule neles. Esse componente provoca atrofia e perda da força. Como a causa da doença não está totalmente definida, ela não tem cura, mas tratamentos que retardam os efeitos do quadro. Os processos envolvem, geralmente, a combinação de remédios e fisioterapia. No Brasil, o Riluzol, disponível na rede pública de saúde, é o fármaco mais usado, pois diminui a ação das toxinas no nervo. “Faz com que o dano seja menos intenso e que a ELA evolua de forma mais lenta. O objetivo do medicamento é aumentar a sobrevida do paciente”, explica o médico.

A outra parte do tratamento é feita por uma equipe multidisciplinar e voltada, principalmente, para o cuidado com a respiração do paciente. “Uma fisioterapia respiratória bem feita faz muita diferença, mas é preciso, também, um acompanhamento fonoaudiológico, por causa das alterações de fala e pela dificuldade de engolir”, alerta o neurologista. Além disso, é necessário que o paciente tenha atendimento psicológico e terapêutico ocupacional, para trabalhar as limitações de movimento. No Distrito Federal, o Hospital de Apoio de Brasília é o núcleo de referência para pessoas com ELA.

No Brasil, a Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABrELA) é responsável por assistir a pacientes, famílias, cuidadores e profissionais da área de saúde que queiram saber mais sobre a doença. Em 2014, celebridades e diversas pessoas do mundo todo fizeram o desafio do balde de gelo, para promover conscientização e incentivar doações a pesquisas nessa área.

Abastecimento

Em relação à situação do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez de Antônio Francisco, o INSS informou que o pedido de recurso apresentado pelo paciente está na Junta de Recursos, para análise. “A consulta ao andamento do processo pode ser feita pela Central 135 e pelo site ou aplicativo Meu INSS”, comunicou a instituição.

Sobre a falta do remédio Riluzol nas Farmácias de Alto Custo do Distrito Federal, a Secretária de Saúde (SES-DF) afirmou que o medicamento é fornecido pelo Ministério da Saúde e que a pasta do Executivo local aguarda reabastecimento.

Ao Correio, o Ministério da Saúde informou que o remédio é enviado trimestralmente às unidades da Federação. A responsabilidade pelo armazenamento e pela distribuição, segundo o órgão federal, é das secretarias estaduais e municipais. Das 7.728 unidades de Riluzol pedidas pelo Distrito Federal, 2.576 do foram fornecidas em 24 de dezembro. Outras 2.576 caixas estão em processo de entrega pelo fornecedor. “Essa quantidade contempla o primeiro trimestre de 2021. Todo o quantitativo aprovado, em 2020, foi entregue à SES-DF, não havendo pendências”, ressaltou o ministério.

*Estagiária sob a supervisão de Jéssica Eufrásio

» Saiba como ajudar

As pessoas que tiverem interesse em ajudar Antônio Francisco podem fazer doações de qualquer valor, por meio de transferência bancária ou pelo PIX. Confira os dados:

Caixa Econômica Federal

Agência: 0972
Conta: 0057101-3
Operação: 013
PIX: 79345670149

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