PANDEMIA

Caso DF não receba 60 mil doses da vacina, campanha poderá ser interrompida

Diante da incerteza em relação à chegada de 60 mil doses da CoronaVac neste sábado (6/2), GDF teme que início da vacinação dos idosos a partir de 75 anos, previsto para terça-feira (9/2), atrase. Ao todo, 85.763 pessoas receberam imunizantes

Alexandre de Paula
Cibele Moreira
postado em 04/02/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Em doze dias de vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal, 85.763 pessoas receberam os imunizantes. Nessa quarta-feira (3/2), foram aplicadas 9.339 doses. Ao todo, a capital recebeu 125.160 unidades da CoronaVac e 41,5 mil, da Oxford/AstraZeneca. Neste sábado (6/2), são aguardadas mais 60 mil doses da CoronaVac para reforçar a campanha na capital. Com a nova remessa, a expectativa do secretário de Saúde, Osnei Okumoto, é ampliar a imunização para pessoas de 75 a 79 anos. “Estamos elaborando um plano para que a gente possa, no mais tardar, terça-feira (9/2), iniciar a vacinação desse público”, ressaltou Okumoto. No entanto, fontes da pasta afirmam, que, se o carregamento não for entregue no prazo, há risco de desabastecimento.

As 60 mil doses da CoronaVac deveriam ter chegado ao DF na última terça-feira (2/2), mas o Ministério da Saúde não realizou o envio. Técnicos da Secretaria de Saúde temem que novos adiamentos ocorram. Uma fonte da pasta ouvida pela reportagem afirmou que há quantidade suficiente de pessoal e de seringas para que a vacinação prossiga para outras faixas etárias. O gargalo, entretanto, é a falta de vacinas. Existe uma preocupação de que, se o Ministério demorar a entregar, seja necessário pausar o cronograma e aguardar mais para começar a aplicação nas pessoas a partir dos 75 anos.

A fim de evitar que haja interrupção no plano de vacinação, o Governo do Distrito Federal (GDF) cobrou o Ministério da Saúde. O governador Ibaneis Rocha (MDB) conversou, na terça-feira (2/2), com o ministro Eduardo Pazuello, que garantiu que haverá remessa de mais doses.

Na avaliação do secretário Osnei Okumoto, esse cenário evidencia que houve grande procura nos primeiros dias, o que deve se repetir nas outras etapas de vacinação. Com isso, a pasta tem criado estratégias para evitar aglomerações e garantir maior segurança para a população. “Faremos alterações na nossa programação de atendimento. Entendemos que o planejamento de duas semanas ocorreu em três dias, com um grande volume, e que, nas futuras vacinações, isso se repita. Vamos melhorar essa questão de acomodação dos idosos, para que eles tenham um acesso muito mais fácil, e que a gente possa atendê-los com mais eficiência”, adiantou.

De acordo com o secretário, uma das mudanças que devem ocorrer, nas próximas etapas, é a utilização de quadras poliesportivas e escolas, espaços amplos que permitam que população se proteja do Sol e das chuvas, com acentos e respeitando o distanciamento social. O Correio conversou com gestores de unidades básicas de saúde que estão atuando na campanha de imunização e o receio dos profissionais quanto à ampliação de espaços é o efetivo de pessoal. Para reforçar esse atendimento, a Secretaria de Saúde conta com voluntários, principalmente, nos pontos drive-thru. Até o momento, 550 servidores da pasta se voluntariaram.

Calmaria

Diferentemente do que foi observado na segunda-feira (1º/2), nessa quarta (3/2), os pontos de vacinação para idosos a partir dos 80 anos não tinham fila e registraram pouco movimento. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) n° 1, de Sobradinho, o fluxo caiu bastante, comparado aos dois primeiros dias, quando houve muita espera, tanto na tenda de vacinação quanto no drive-thru. Moradora da Nova Colina, Elza Vasco Santana, 81 anos, preferiu aguardar o tumulto passar para ir se vacinar. Quanto ela chegou à unidade não havia ninguém e, em menos de dois minutos, recebeu a primeira dose do imunizante. “Vale tudo para evitar essa doença”, frisa a aposentada. De acordo com Elza, os últimos meses foram difíceis. “Tive que ficar na roça para não ter risco de pegar o vírus”, conta.

Em Planaltina, na Escola Vivência, servidoras da Saúde que atuam na campanha no local relataram à reportagem que a procura pelas vacinas foi maior nas primeiras horas da manhã, mas que, no decorrer do dia, se diluiu.

Servidores

Servidores da Saúde questionam como está sendo feita a aplicação das doses para os profissionais da área. O Hospital da Criança enviou dois ofícios à Secretaria de Saúde pedindo a inclusão de 1.997 trabalhadores da unidade no plano de vacinação. Segundo a equipe do hospital, poucas pessoas receberam os imunizantes. Durante a inauguração da base modular do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), nessa quarta-feira (3/2), o Secretário Osnei Okumoto ressaltou que aguarda a lista com o nome de cada profissional e a justificativa de o porquê ele está sendo incluído nessa fase. Entre maio de 2020 e fevereiro de 2021, cerca de 135 pacientes do Hospital da Criança testaram positivos para a covid-19, além de 132 acompanhantes e 475 funcionários.

A Secretaria de Saúde afirmou que a vacinação aos profissionais da linha de frente do Hospital da Criança de Brasília se iniciou. “Serão disponibilizadas mais doses para a unidade tão logo haja mais doses de vacinas disponíveis no DF”, informou por meio de nota oficial.

De acordo com Okumoto, as 60 mil doses da CoronaVac previstas para chegar no fim de semana, não serão direcionadas para os profissionais da saúde. “A faixa etária com maioria de óbitos é acima dos 75 anos. Então, a gente tem que atender primeiro a esse público”, destacou.

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Palavra de especialista

Agendamento como alternativa

As aglomerações nas filas para a vacinação no Distrito Federal aumentam os riscos de transmissão do vírus em um público que estava quieto em casa. Acredito que teremos muitos casos de idosos infectados nos próximos meses. Isso é sério e perigoso. A vacina é mais um elemento de proteção, a pandemia vai demorar muito para acabar. Os cuidados devem ser reforçados. Se o idoso chegar em um local que está cheio, a orientação é que vá para casa não fique se expondo. A vacina não vai acabar. A gente entende que, neste momento, é complicado, principalmente, com a ansiedade pela imunização, os filhos querendo levar seus pais para vacinar. Em um cenário ideal, o que funcionaria bem é o sistema de agendamento, com a disponibilização de horário marcado para a população. Outra questão é aumentar o número de pontos de vacinação, principalmente, de drive-thru, que pode até demorar mais, porém é onde os idosos se encontram isolados e com mais proteção contra a covid-19. Mas, estamos apenas no começo, temos muita expertise em campanhas de vacinação. Acredito que, ao longo das semanas, tenha um amadurecimento no processo de imunização. Outro ponto que quero destacar é que ambas as vacinas têm razoável proteção. As duas são equivalentes em relação à eficácia, então não precisa ter receio de tomar uma ou outra. Apesar de tudo, é um privilégio termos uma ampla disponibilidade de vacinas.

José David Urbaéz, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal

 

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