OBITUÁRIO

Brasília perde pioneira Dea Felícia

Formada em geografia e história, ela faleceu por complicações de uma pneumonia 12 dias depois do marido, Carlos Murilo, político e primo de Juscelino Kubitschek. Sepultamento está marcado para as 16h, no Cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul

Brasília perdeu uma das primeiras pioneiras da cidade. Considerada uma pessoa alegre, Dea Felício dos Santos morreu na noite de sábado (23), aos 88 anos, por complicações de uma pneumonia. Deixando dois filhos e netos, ela faleceu 12 dias depois do marido, Carlos Murilo, que também foi pioneiro da capital federal, além de deputado federal e primo de JK.

Segundo a família, Dea tinha leucemia, mas o quadro estava controlado. Nos últimos dias, entretanto, a idosa passou a se sentir mal e descobriu uma pneumonia. Foi internada no Hospital Brasília, do Lago Sul, na última segunda (18), mas não resistiu. “Ela tinha princípio de Alzheimer e não soube da morte do meu pai. Nós decidimos não contar, mas não sei se ela sentiu algo porque, dias depois, começou a passar mal e teve a pneumonia”, conta a filha Juliana Felício, 58 anos.

A positividade, lembra Juliana, era uma das características mais fortes de Dea. “Ela era uma pessoa sempre positiva. Nunca vi minha mãe triste. Nunca a vi rancorosa. No hospital mesmo, ela dizia que estava tudo bem. Ela gostava de viver. Tinha uma vontade muito grande”, conta. “Ela gostava de tomar o ‘uisquinho’ dela, de dançar... Era única”, completa.

Dea era formada em geografia e história e se casou com Carlos Murilo em 1958. Prima de Israel Pinheiro, empossado o primeiro prefeito de Brasília, em 7 de maio de 1960, ela atuou por pouco tempo, nas duas áreas de formação, em museus. Segundo o filho Paulo Augusto Felício, economista de 61 anos, o ex-presidente Juscelino Kubitschek fazia questão de ter a companhia de Dea e do marido, Carlos, nos jantares.

“Quando tinha 17 anos, meu pai perdeu o dele, e o JK chamou meu pai para morar com ele. Aí minha mãe conviveu muito naqueles palácios quando o Juscelino era presidente. Toda vez, quando tinha jantar, ele fazia questão de pedir para a minha mãe se sentar ao lado, para ninguém a perturbar”, conta.

“O pessoal brinca que ela era a única de sangue azul (pessoas de alta classe social), casada com o primo do JK e sobrinha do Israel Pinheiro. Meu pai foi o primeiro parlamentar a morar em Brasília, a partir de 18 de abril de 1960. Mas isso nunca subiu à cabeça do meu pai e da minha mãe. Eles viveram uma vida muito bacana. Meu pai construiu Brasília com Juscelino”, orgulha-se.

Momentos de união

Guto, como é carinhosamente chamado, relembra os momentos de união entre família e amigos que Dea costumava proporcionar no apartamento da quadra 208 Sul ou na casa de seus pais, no Lago Sul. “Sempre foi assim, desde a época do JK, porque ele cuidava do meu pai como se fosse um filho. Eles gostavam sempre de ver a casa cheia. Minha mãe gostava de reunir os amigos para fazer um churrasquinho e comprava engradados de cerveja”, descreve.

“A sra. Sara Kubitscheck vivia lá em casa também. Não se hospedava, mas visitava a gente com frequência. E os amigos dos meus filhos ficavam impressionados com ela, como era à frente do tempo, pois não tinha frescura para discutir nenhum assunto”, recorda o filho de Dea.

Guto relembra a convivência com JK, presença frequente em sua juventude. “Ele ficava hospedado na nossa casa quando vinha a Brasília. Tinha um quarto para ele, que está lá até hoje. Tem gravatas, canetas e até um relógio que tem a foto do próprio JK, que ele deu para o meu pai. Ele gostava muito de chegar e falar para a nossa empregada doméstica: ‘Otília, minha querida, hoje quero um frango ao molho pardo’. E levava sempre um monte de gente”, relata Guto.

Há um ano e meio, Guto foi morar na casa dos pais junto da mulher e dos dois filhos, no Lago Sul, para dar maior atenção a ambos, em estado crítico de saúde. O velório de Dea ocorre hoje às 13h30 na Capela 3 do Campo da Esperança, da Asa Sul. O sepultamento está marcado para as 16h. Dea deixa três filhos e quatro netos.