Há menos de uma semana do início da campanha de vacinação contra a covid-19, os brasilienses ganham reforço com a liberação de 41.500 doses da vacina AstraZeneca/Oxford. A remessa, oriunda da Índia, chega hoje ao Distrito Federal. A expectativa é atender todos os profissionais da saúde previstos nesta primeira fase de imunização. A Secretaria de Saúde divulgará, nos próximos dias, a proposta de vacinação com essas doses. De acordo com a pasta, entre terça e sábado, foram vacinados 15.134 pessoas com a primeira dose da CoronaVac. Desde o início da pandemia, o DF registrou 269.350 casos confirmados do novo coronavírus e 4.468 mortes por complicações da doença.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção da vacina AstraZeneca no Brasil, encaminhou uma recomendação para a aplicação de dose única neste primeiro momento. O infectologista Hemerson Luz conta que a orientação se baseia na eficácia com apenas uma dose. De acordo com ele, a segunda dose serve como reforço. “Estudos apontam que, nesse caso, a eficácia é maior do que aplicando duas doses igualmente”, explica. No caso de uma única aplicação, como recomendado pela Fiocruz, a eficácia é semelhante à de duas doses.
Mesmo com o pedido da Fiocruz, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou oficialmente. Amanhã, o órgão deve se manifestar em relação aos protocolos a serem seguidos com a remessa da vacina da AstraZeneca. O Correio apurou que o Distrito Federal poderá imunizar 41.500 pessoas com as novas doses, e após os três meses recomendados para a aplicação da segunda dose, o reforço será feito com outra remessa.
Para Alexandre Cunha, vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, a vacina que chega, hoje, ao DF teve bom desempenho nos estudos apresentados. Na avaliação de Cunha, ela deve ser aplicada conforme foi estudada. “Para garantir a eficácia do estudo, o protocolo de aplicação tem de seguir as mesmas regras e exigências. Ela vem contribuir com o nosso arsenal de vacinas, porque nenhum fabricante sozinho vai conseguir suprir a nossa demanda”. Alexandre também pondera que não é certo comparar as eficácias das vacinas disponíveis. “Os desenhos dos estudos que são feitos para avaliar as eficácias são diferentes. O que você define por eficácia pode ter critérios diferentes e ser aplicado em uma população diferente. A questão metodológica torna difícil a comparação”, justifica.
Vacinas
Com as vacinas da AstraZeneca, a capital federal conta com 141.660 doses de imunizantes contra a covid-19. Até o momento, estão sendo priorizados os profissionais da saúde que atuam na linha de frente no atendimento a pacientes com suspeita ou nos casos confirmados do novo coronavírus, além de idosos e pessoas com algum tipo de deficiência que vivem em instituição de acolhimento de longa permanência, e a população indígena. Na última segunda-feira, o Distrito Federal recebeu 106.160 doses da CoronaVac, que foram divididas para garantir a aplicação da segunda dose que precisa ser feita no intervalo entre 14 e 28 dias.
A diferença entre a CoronaVac e a AstraZeneca está na tecnologia aplicada. “A CoronaVac é feita a partir do vírus inativado, algo clássico das vacinas. Então, a partir desse vírus inativado, usam-se as proteínas para o organismo fabricar anticorpos. No caso da AstraZeneca, ela usa uma tecnologia mais moderna, que é o vetor viral não replicante. Ou seja, eles pegam um outro vírus, que não causa doença no homem, colocam a proteína do novo coronavírus e fazem a estimulação do sistema imunológico”, explica o infectologista Hemerson Luz. De acordo com ele, as duas vacinas vão estimular a memória e a produção de anticorpos no sistema imunológico. “No final, o resultado será o mesmo. Elas vão inativar e impedir que o vírus cause a covid-19”. E acrescenta: “É importante que o vacinado não pense que está livre dos cuidados de prevenção e distanciamento social. Tem de aguardar o período recomendado. Vacinação não equivale à aglomeração”, pontua.
Em relação à divisão dos grupos prioritários, o vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Alexandre Cunha, destaca que o Brasil não tem vacina para todo mundo, e que é preciso criar prioridade dentro das prioridades. “Claro que gostaríamos de vacinar todo mundo de uma vez, mas como isso não é possível, aplica-se naqueles que têm mais fatores de risco, caso dos idosos em instituições, onde a disseminação do vírus costuma ser mais rápida e normalmente são pessoas com mais vulnerabilidades”, afirma. Cunha justifica ainda o porquê das grávidas e dos menores de 18 não estarem entre os vacinados. “São grupos que não foram incluídos nos estudos. Não existe uma razão especial. E, normalmente, menores de 18 anos raramente têm casos graves da doença, e gestantes pertencem a uma população que temos mais cuidado”.
“Fura-fila”
Com a vacina, o anseio de ter a imunidade ao novo coronavírus e reduzir as chances de mortalidade pela doença despertou outro problema: a aplicação da vacina em pessoas que não compõem o grupo prioritário nesta primeira fase. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) questionou a Secretaria de Saúde sobre possíveis irregularidades na campanha de imunização. A pasta esclareceu que irá apurar as denúncias e que, caso sejam comprovadas, o gestor responsável pela área e o servidor beneficiado responderão administrativamente pelos seus atos.
Na última sexta-feira, gestores da secretaria e representantes do MPDFT se reuniram para esclarecer questões relacionadas à vacinação no Distrito Federal. O coordenador da força-tarefa de combate à pandemia da covid-19 do MP, o procurador José Eduardo Sabo Paes, irá fiscalizar de perto a vacinação nos hospitais a partir de amanhã. A pasta encaminhou a lista com os nomes dos servidores contemplados nos grupos prioritários e, a partir dela, o órgão vai apurar as fraudes, checando se as fotos e vídeos que receberam são de funcionários de fora dessa relação.
A Secretaria de Saúde reforçou o compromisso com a transparência de todo o processo de vacinação no portal específico da pasta, com o quantitativo de vacinados, hospitais e percentual de vacinas aplicadas e distribuídas.
Campanha de vacinação
Se todos precisam se vacinar, por que alguns têm prioridade diante de outros?
» Pela limitação da quantidade de doses para a imunização, as campanhas de vacinação são por etapas, e é por isso que algumas pessoas se vacinam primeiro que outras. O critério utilizado para escolher quem toma a vacina primeiro é a chance que a pessoa tem de ficar doente, ter complicação e morrer. Desta forma, as pessoas de mais idade, as pessoas que estão mais expostas à doença (trabalhadores de saúde), moradores de unidades de acolhimento e casa de longa permanência são exemplos de pessoas prioritárias para a campanha, além de outros grupos que virão nas fases seguintes, como: maiores de 60 anos e pessoas com doenças crônicas (diabetes, doenças do coração e outras), por exemplo.
Ainda será preciso usar máscara depois que eu me vacinar?
» Sim, será preciso, pois você ainda precisa de um tempo para adquirir a imunidade. Nenhuma vacina possui 100% de garantia de que vai te dar imunidade. Então pode ser que, mesmo tomando a vacina, você não terá imunidade. Além disso, a vacinação ainda não contempla a quantidade necessária da população para atingirmos uma imunidade coletiva ao vírus.
Devo esperar quanto tempo para tomar outras vacinas?
» Para tomar a vacina contra o novo coronavírus você precisa estar sem tomar qualquer vacina nos últimos 30 dias, bem como não poderá tomar qualquer vacina no intervalo das doses ou 30 dias após a segunda dose.
Posso tomar a primeira dose de um laboratório e a segunda de um outro laboratório?
» Cada vacina foi produzida com uma técnica específica, estimulando diferentes tipos de defesa no corpo humano. Ainda não há qualquer tipo de informação que garanta a segurança ou a eficácia de vacinas de um esquema com doses de laboratórios diferentes. Para isto, o Governo do Distrito Federal desenvolveu um adesivo para facilitar a identificação do laboratório da dose aplicada, bem como todas as informações que vão permitir o rastreio da vacina.