A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos — Tomada Especial de Preços de dezembro de 2020 e do ano de 2020 — feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese) e divulgada nesta segunda-feira (11/1), aponta que um trabalhador brasiliense precisa, para comprar uma cesta básica, trabalhar 124h35 em um mês. O conjunto de alimentos representa as necessidades alimentares básicas de uma pessoa adulta em um intervalo de 30 dias.
O levantamento também mostrou que, entre novembro e dezembro de 2020, o preço dos alimentos que compõem a cesta básica na capital federal tiveram variação de 3,35%. O crescimento anual foi de 24,88%. No DF, o preço da cesta básica é o sexto maior do país: R$ 591,82. O preço mais caro, em São Paulo (SP), chega a R$ 631,46.
O percentual do salário mínimo líquido gasto para compra dos produtos da cesta para uma pessoa adulta no DF é de 61,23%. Dados do Mapa das Desigualdades do Distrito Federal, lançado em novembro de 2019 pelo Movimento Nossa Brasília, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e a Oxfam Brasil, mostrou que cerca de 55% da população está entre a renda baixa e média baixa, sendo que as de menores rendas residem na Estrutural, Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas e Varjão. 40% da população da Estrutural, por exemplo, tem renda de até um salário mínimo, que corresponde a R$ 998.
A (Codeplan) estima que mais de 160 mil famílias vivem na faixa da pobreza no DF. São pessoas que moram em cômodos ou domicílios improvisados, ou que ganham até três salários-mínimos (R$ 3.300), mas gastam 30% ou mais da renda para pagar o aluguel.
Maiores variações
Os alimentos com maior variação anual em Brasília foram óleo (123,99%), batata (77%) e arroz (67,77%). Segundo o economista Clóvis Scherer, do Dieese, a alta de preços do arroz está ligada ao cenário externo. “Teve a ver com a desvalorização do câmbio. Os preços de insumos e do arroz no mercado internacional ficaram mais altos, e o Brasil começou a exportar mais, o que reduziu a disponibilidade para o mercado interno e resultou no aumento de preços”, explica.
No entanto, Scherer esclarece que o efeito do comércio internacional sobre itens alimentícios no Brasil não ficou restrito ao arroz. “O óleo também teve seu aumento muito influenciado pelo mercado internacional, já que seu preço é cotado nas bolsas de mercadoria. Então, a alta de preços lá fora se refletem aqui”, avalia.
Para o economista, a retomada da produção suína chinesa teve forte relação com o aumento do preço do óleo de soja. “Um fator muito importante foi a alta demanda da China por soja brasileira e do mercado mundial como um todo. O país está recuperando sua produção de suínos, depois de uma gripe que diminuiu muito a quantidade desses animais no país, que são a principal fonte chinesa de proteína animal”, explica. “A China passou a comprar mais soja, o que levou ao aumento do preço, em um momento em que o dólar estava mais caro. Esses dois fatores se somaram”, continua Scherer.
Efeito pandemia
O economista do Dieese ressalta que a pandemia da covid-19 influenciou o aumento dos preços dos alimentos no que diz respeito à recuperação chinesa. “A China não sofreu tanto quanto outras economias. Os chineses controlaram a doença com mais rapidez. Mas não se pode dizer que é tudo em decorrência da forma como o país reagiu ao novo coronavírus. Outros acontecimentos de lá também acabaram influenciando a demanda pela soja”, esclarece.
Contudo, Scherer afirma que a alta de preços de alimentos foi uma tendência global em 2020. “Alguns países, no início da pandemia, com medo de faltar produção no mercado interno, restringiram as comercializações externas dos produtos para garantir que a população fosse atendida em primeiro lugar”, aponta, acrescentando que o Brasil não tomou a mesma atitude. “Como grande exportador de alimentos que é, o país sofreu os efeitos das condições do mercado global”, completa.