“Quando fui diagnosticada com o transtorno, cheguei a ouvir que eu precisava de um homem, e não de terapia”. As palavras são de uma mulher que recebeu o diagnóstico de depressão aos 35 anos. Moradora de Samambaia, a assistente social, que não quis se identificar, contou que sofreu muito preconceito de pessoas próximas. Ao perceber os sinais da doença, não pensou duas vezes e logo buscou ajuda. Com acompanhamento psicológico e medicamentos, ela percebe melhoras no dia a dia. “Venho me sentindo mais leve. Ter um profissional para nos ajudar é um facilitador para organizar nossos pensamentos conflitantes”, declara.
Mudanças de humor, tristeza repentina, ansiedade, apatia, culpa, descontentamento geral, desesperança, perda de interesse e solidão. Esses são alguns dos inúmeros sinais que os transtornos mentais apresentam. E eles estão cada vez mais presentes na população. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 1 bilhão de pessoas sofrem de alguma doença psicológica no mundo. Para alertar sobre a importância do cuidado com a mente, a campanha do Janeiro Branco tem o intuito de conscientizar e chamar atenção para sintomas, que às vezes passam despercebidos, mas que podem despertar problemas sérios de saúde. (Veja em Transtorno mentais).
Dados da OMS mostram que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo e o segundo em pessoas depressivas, porém muitos não buscam tratamento. A psicóloga clínica Roberta Castelo Branco ressalta que, infelizmente, ainda existem tabus quando o assunto é saúde mental. “Há anos pessoas sofrem de transtornos mentais e o preconceito ainda existe. Os estigmas sobre o assunto prejudicam e atrapalham até mesmo o acesso ao tratamento. Antigamente, as doenças mentais eram vistas como forma de punição divina por julgar que as pessoas estariam possuídas por demônios e que poderiam ser presas em manicômios, e até amarradas por correntes. Todos nós passamos por momentos difíceis na vida, de sofrimento mental, e ninguém quer ser considerado como louco”, afirma.
“A campanha ainda é nova, e o objetivo principal é chamar a atenção da sociedade em favor da saúde mental e quebrar tabus sobre este assunto. É incentivar as pessoas a terem um conhecimento mais amplo sobre a saúde da mente. O Janeiro Branco é um convite ao autoconhecimento sobre nossas próprias questões de vida e de saúde mental”, destaca.
Diagnosticada com ansiedade, a técnica de enfermagem Rosa Maria de Sousa, 41, recebeu todo o apoio da família e dos amigos ao buscar ajuda. Ela contou que nunca imaginou precisar buscar tratamento para esse tipode transtorno, mas, com a ajuda de psicólogos, se sente melhor. “Primeiramente, temos que aceitar que não estamos bem. Se você percebe que se encontra num momento delicado, pense em primeiro lugar em você. Procure ajuda”, aconselha.
Profissionais de saúde
A pandemia da covid-19 resultou em dias difíceis para o mundo inteiro. Mas, quem trabalha na linha de frente no combate à doença sofre ainda mais, com a carga horária de trabalho intensa e a pressão psicológica, como acontece com os profissionais da saúde. Para reforçar a importância do cuidado com o psicológico, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) participa da campanha Janeiro Branco, chamando a atenção da população para os cuidados com a mente. A conscientização estende-se aos colaboradores diretos e indiretos das unidades administradas pelo instituto.
A Gerência de Saúde, Segurança e Qualidade de Vida no Trabalho organizou um cronograma de atendimentos individuais com psicólogos, além de sessões de acupuntura e acompanhamento nutricional. “A promoção da saúde mental é essencial para que nossos colaboradores tenham a capacidade necessária de executar suas habilidades pessoais e profissionais, principalmente em um momento delicado como esse de pandemia”, declara Leilane Oliveira, uma das responsáveis pelo setor. “Essa fase tem deixado tantas marcas emocionais e físicas nas pessoas, de maneira geral”, complementa.
Cercados pela exaustão, cansaço e estresse, os profissionais da saúde podem desenvolver diversas doenças a partir da rotina de trabalho intensa. Psicóloga e uma das responsáveis pelo atendimento dos colaboradores do Iges-DF, Luanda Veloso conta que o momento é atípico e que, para aprender a lidar com tantos sentimentos, é necessário autoconhecimento e cuidar da mente. As sessões ocorrem semanalmente ou a cada 15 dias, dependendo da demanda. Para ela, campanhas como a do Janeiro Branco são importantes para conscientizar a população. “É fazer com que as pessoas tenham consciência da sua saúde mental e fortalecer o autocuidado. Sim, temos que quebrar paradigmas, preconceitos e tabus relacionados à nossa saúde mental”, acredita.
Ao saber da iniciativa promovida pelo Iges-DF, a chefe do Núcleo de Gestão de Leitos do Hospital de Santa Maria (HRSM), Máslova Toffolo, 52 anos, deu o primeiro passo para começar 2021 cuidando da saúde mental e já agendou uma sessão com uma psicóloga. “Eu estava precisando dividir as aflições e angústias desse ano que passou. Me senti mais leve”.