Emprego

Dieese: mercado de trabalho passa por reformulação no DF

Índices de emprego e desemprego se mantiveram relativamente estáveis no terceiro trimestre de 2020, mostram dados da Codeplan

Jéssica Gotlib
postado em 26/01/2021 13:20 / atualizado em 26/01/2021 17:52
Mais 3 mil pessoas ficaram desempregadas em dezembro de 2020, segundo o levantamento -  (crédito: Pedro Ventura/Agência Brasília.)
Mais 3 mil pessoas ficaram desempregadas em dezembro de 2020, segundo o levantamento - (crédito: Pedro Ventura/Agência Brasília.)

Muito além do impacto causado pela pandemia do novo coronavírus, o mercado de trabalho na região metropolitana do Distrito Federal (DF) passa por uma transformação. “O que está parecendo é que nós não estamos apenas em um movimento conjuntural de final de ano ou em um processo de finalização de uma crise sanitária, mas nós estamos adentrando um novo movimento que é uma reestruturação produtiva muito importante”, explicou a economista Lúcia Garcia, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Ela participou da divulgação dos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) em parceria com o Diesse. Segundo o levantamento, os principais índices que falam do comportamento do mercado de trabalho na região estão relativamente estáveis.

A taxa geral de desemprego, por exemplo, cresceu 0,2 ponto percentual. Situação semelhante ocorreu com a taxa de participação — proporção de pessoas que compõem o mercado de trabalho, estando empregadas ou desocupadas — que diminuiu 0,1 ponto percentual. Esses passaram de: 17,8% para 18% e de 64,5% para 64,4%, respectivamente.

O levantamento, publicado nesta terça-feira (26/1), apresenta resultados para o mês de dezembro de 2020 em comparação com novembro do mesmo ano. Nesse contexto, segundo Garcia, a primeira impressão é de que realmente há uma acomodação dos indicadores no período por questões sazonais, como a pandemia.

“Estamos em um processo de uma acomodação milimétrica do mercado de trabalho onde a PEA ora declina um pouco, ora recupera um pouco. A ocupação tem pouco fôlego para gerar postos de trabalho e isso sempre redunda numa certa oscilação da taxa de desemprego”, detalhou.

Dados do levantamento mostra que áreas de média renda foram as mais afetadas no último mês de 2020
Dados do levantamento mostra que áreas de média renda foram as mais afetadas no último mês de 2020 (foto: Dados da PED-DF, dezembro 2020)

Alterações profundas

Entretanto, o movimento do índice de emprego e desemprego é fruto de uma mudança maior que a conjuntura formada pelo movimento de final de ano no comércio e pelo abre e fecha dos setores durante a crise sanitária. “As reformas administrativas, que tocam o serviço público, estão na ordem do dia e estarão na pauta em 2021. Por tanto, entender melhor os serviços privados nos ajudem muito neste ano que entra”, explicou.

A análise da economista está baseada, especialmente, na queda de 3% do contingente de trabalhadores da Administração Pública. Atualmente, este é o setor com maior impacto na economia do DF. Construção e Indústria também sofreram retração no período de 4% e 4,3%, respectivamente. Assim como no comércio, em que o índice de pessoas ocupadas diminuiu em 1,8%. Apenas o setor de serviços apresentou uma leve alta de 0,4%.

“O Distrito Federal está num processo de acomodação onde o setor público vem gradualmente sangrando, perdendo postos de trabalho, e não repondo. Além disso, enxergamos um setor de serviços que aumenta sua ocupação e um setor de comércio que, se respondesse à massa salarial, deveria estar crescendo no Distrito Federal, porque a massa salarial no DF se comporta positivamente em relação aos dois anos anteriores. Por tanto, nós esperaríamos que o comércio fosse o sustentador do emprego, mas não é isso que estamos percebendo”, ressaltou.

Segundo ela, o comércio tradicional tem reduzido a sua participação e concentrado a geração de empregos em alguns ramos, como o de alimentos e itens básicos, por exemplo. “Temos feito uma transferência para o setor de serviços que deixa de ter aquela visão de ‘serviços improdutivos’ porque serviço gera valor. Estamos vendo uma sofisticação dos serviços produtivos”, coloca.

Covid-19

Apesar de os problemas estruturais apontados pela economista do Dieese, o presidente da Codeplan, Jean Lima, lembra que a questão mais urgente continua relacionada aos impactos da pandemia. “Ainda estamos no meio de uma crise sanitária, econômica e social sem precedentes. Tivemos em meados de 2020, no auge da pandemia, o maior índice de desemprego da série histórica. De lá para cá o mercado de trabalho teve uma reação positiva. Contudo, apesar da melhora nos indicadores, a retomada econômica é lenta e gradual. A superação da crise sanitária é elementar para a melhora nos indicadores do mercado de trabalho”, colocou.


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