O ano de 2020 foi marcado pelo isolamento social, pelos sorrisos escondidos em máscaras e abraços não dados. Muitos precisaram adaptar as rotinas devido às normas sanitárias impostas pela pandemia da covid-19. Na educação, por exemplo, as aulas remotas exigiram muito mais do que organização. Uma vez que o ambiente virtual tornou-se uma realidade, muitos estudantes encaram a falta dos aparelhos que possibilitam o acesso ao conteúdo digital. Mas foi também neste conturbado contexto de crise socioeconômica e de saúde pública sem precedentes que uma avalanche de solidariedade e coletividade surgiu. Ao passo que a pandemia do novo coronavírus ainda impede a volta da rotina às salas de aula, nasceram iniciativas coletivas de apoio aos estudantes mais vulneráveis em todo o canto do país, e em Brasília não foi diferente.
A Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac) é uma das entidades que se empenharam em melhorar as condições de estudo de alunos sem condições financeiras e promoveu campanha de arrecadação de celulares para crianças terem acesso ao sistema de ensino remoto do Governo do Distrito Federal (GDF).
Idealizadora do projeto, a servidora pública e psicóloga Andréia Medeiros Rocha, 51 anos, diz que a iniciativa surgiu após ter sido abordada no sinal por uma menina de 10 anos, que vendia balinhas. “Ela me abordou dizendo que era para comprar um celular para poder acompanhar as aulas on-line. Eu quis saber mais e ela me explicou que o aplicativo do GDF, no qual os alunos da rede pública fazem as aulas on-line, só roda no celular”, lembra. “Eu me lembrei que tinha acabado de trocar o celular da minha filha e prometi a ela o celular. Liguei para uma amiga que é coordenadora de uma escola do Guará e ela me confirmou a veracidade da situação”, diz.
Após a experiência, Andréia conta que teve a ideia de uma campanha conjunta. Prontamente, a presidente da Asbac, Edina Souza, aceitou. Quem tiver um celular funcionando, pode levá-lo à portaria da Asbac. Lá, é necessário preencher um formulário para controle, mas não precisa descer do carro. Aparelhos novos simples também são bem-vindos.
Primeiro doador do projeto, o aposentado Mardônio Sarmento, 68, conheceu a proposta pelas redes sociais. “Despertou em mim a empatia, a consciência de quantos necessitam de ajuda, e de como podemos contribuir, dispondo de algo que não usamos mais e pode ser decisivo para o futuro dessas crianças”, reforça. “Solidariedade e responsabilidade social estão na ordem do dia nesses tempos difíceis que vivemos”, acrescenta. A campanha segue até 28 de fevereiro.
Acessibilidade
Para ajudar os estudantes neste momento de adaptação, o Instituto Federal de Brasília (IFB) criou o projeto “Rede IFB Ciência Solidária”, que promoveu diferentes ações com o apoio da população. Durante a suspensão das aulas, a instituição pagou auxílio emergencial a 2.346 estudantes, totalizando R$ 1,1 milhão. Além disso, 1,8 mil estudantes recebem chip de acesso à internet, e 1.436 foram contemplados com apoio financeiro para a compra de um tablet.
Em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA), o instituto criou o programa Steam Power for Girls, envolvendo 12 professoras e 100 alunas do IFB, com foco no empoderamento feminino e na formação de lideranças para o mundo tecnológico, além de um investimento de R$ 35 mil na Fábrica de Ideias Inovadoras (Fabin), contemplando 10 projetos nas áreas de inteligência artificial, games e programação. Houve ainda 4,6 mil estudantes que receberam cestas básicas.
Para a reitora do IFB, Luciana Massukado, a importância desse projeto é promover o acolhimento aos estudantes. “É preciso que vejam que não estão abandonados, que estamos traçando essas estratégias porque vemos a importância do estudo para o futuro deles”, acredita. “Enquanto instituição pública de ensino, o importante é que nos cerquemos de estratégias para que esse estudante, que já está fragilizado, não desista. Todas essas ações são para que se sintam acolhidos”, reforça.
A estudante do IFB Mônica Lima de França, 22, diz que a maior dificuldade enfrentada durante o ensino a distância foi em relação à conectividade, principalmente em aulas síncronas — em tempo real. “Além de, à época, eu não ter um aparelho eletrônico que me auxiliasse, tinha a questão da internet. Onde eu moro não tem portabilidade para conexão. Então, eu tinha dificuldades em participar das aulas via dados móveis, porque a conexão caía e eu perdia bastante das explicações e dos conteúdos ministrados, principalmente dos que eu tinha afinidade”, lamenta. Por meio do programa do instituto, ela teve acesso ao auxílio para comprar um tablet e ganhou um chip 4G com 20 gigabytes de internet mensal.
Inclusão
A Universidade de Brasília (UnB) dará início ao segundo semestre de 2020 em formato on-line. Apesar de muitos estudantes já terem adquirido o necessário para acompanhar as aulas virtualmente, a chegada dos calouros na instituição impulsionou a abertura de novos editais de inclusão digital. De acordo com Eduardo Lembruger, diretor substituto da Diretoria de Desenvolvimento Social do Decano de Assuntos Comunitários (DDS/DAC), o projeto segue os moldes do ano anterior.
“O edital tem a data de inscrição até 5 de fevereiro, nas modalidades equipamento e internet. Internet é exclusivamente o chip disponibilizado pela Rede Nacional de Pesquisas do Ministério da Educação (MEC/RNP), que fornece 20 gigabytes por mês, e dá o acesso à internet necessário para acompanhar as aulas”, ressalta o diretor.
Para a modalidade de aquisição de equipamentos, assim como ocorreu no semestre passado, o estudante poderá fazer de três formas: auxílio financeiro, empréstimo ou doação. “Nós estamos utilizando a sobra dos computadores do ano passado, uma vez que as doações foram utilizadas somente por estudantes que moram fora do DF”, explica Luciano.
Além disso, um projeto desenvolvido pela estudante da UnB Ana Amorim, 22 anos, visa levar à comunidade o acesso à tecnologia e a um espaço adequado para estudos. O UniverCidade ocorre na biblioteca do Centro de Ensino Médio 2 de Brazlândia. “Temos o objetivo de minimizar a exclusão tecnológica no DF, porque muitas pessoas não têm material ou um ambiente para se concentrar”, explica a universitária. Para participar do projeto, o interessado deve realizar o download do aplicativo “Univercidade”, disponível na plataforma Google Play para reservar um horário de estudo no local.
A falta de locação, de máquinas e de itens essenciais para o enfrentamento da covid-19 foi uma das adversidades encontradas para implementar a iniciativa. No entanto, o diálogo com a Administração Regional de Brazlândia e com a assistência dos parceiros Face Lab e Parque Científico e Tecnológico (PCTec-UnB) levou o local a abrir à população desde 30 de novembro de 2020.
“É fundamental haver espaços como este. Essas dificuldades sempre existiram, mas um momento como este deixa tudo mais escancarado. Há muitas pessoas isoladas, inclusive, geograficamente e não podem dar continuidade às aulas, um direito básico para todo cidadão. Assim como o UniverCidade, outras iniciativas voltadas à educação podem inspirar até políticas públicas”, diz Ana Amorim.
* Estagiária sob a supervisão de Mariana Niederauer
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Como ajudar
» Associação dos Servidores do
Banco Central (Asbac)
Promove campanha de arrecadação de celulares para que crianças carentes do DF consigam estudar em casa e ter acesso ao sistema de ensino remoto do GDF.
Data: a campanha segue até 28 de fevereiro.
Ponto de recolhimento: Asbac no Setor de Clubes Sul, Via L4 Sul, Trecho 2, Conjunto 31.
» Instituto Federal de Brasília
Promove campanha de arrecadação de aparelhos eletrônicos (celulares, tablets, computadores, notebooks, caixas de som, web câmeras) para que os estudantes tenham acesso ao sistema de ensino.
Data: fluxo contínuo
Ponto de recolhimento: todos os câmpus do IFB
» Universidade de Brasília
Promove campanha de arrecadação de computadores para que os estudantes tenham acesso ao sistema de ensino.
Entre em contato pelo Instagram @projetomaissocial ou a partir do e-mail: maissocial.projeto@gmail.com