ENEM 2020

Enem 2020 tem a maior abstenção da história; mais de 50% não fizeram a prova

Índice subiu no segundo dia do exame e atingiu 55,3% do total de candidatos confirmados. De acordo com o balanço do Inep, 2.470.396 pessoas compareceram às provas em todo o país e 3.052.633 faltaram. Certame aconteceu em 1.689 municípios

Luiz Calcagno
Roberta Pinheiro
postado em 25/01/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, realizadas neste domingo (24/1), contou com a ausência de mais da metade dos candidatos. Compareceram à avaliação 2.470.396 inscritos. Deixaram de comparecer, no entanto, outros 3.052.633, o equivalente a 55,3% do total, a maior abstenção de toda a história do Enem. A prova aconteceu em um cenário de pandemia, aumento no número de mortos pelo novo coronavírus e com forte pressão para que fosse adiada. Ainda assim, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, defendeu e comemorou a realização da prova que, destacou, é um programa social. O certame aconteceu em 1.689 municípios, em 1.447 escolas.

Tirando o grande número de ausentes, a aplicação do Enem ocorreu sem maiores transtornos, garantiu Lopes. Um balanço do Inep apontou que 1.274 estudantes foram desclassificados. O instituto também registrou 1.171 solicitações de ausência por doença infecto-contagiosa no primeiro domingo, e 8.039 no segundo. Desse total, 13.716 pedidos foram deferidos por técnicos.

A próxima aplicação será a do Enem digital, em 31 de janeiro, com cerca de 96 mil participantes, e na sequência, a prova impressa será aplicada no Amazonas, para 160.548 candidatos, e nos municípios de Espigão D’oeste (RO), para 969 pessoas, e Rolim de Moura (RO), para outros 2.863, em 23 e 24 de fevereiro.

“A abstenção é uma decisão individual. Não sei a realidade e o comprometimento de quem fez a inscrição. Para mim, não é relevante. Foi mais do que a gente estava esperando. Mas, eu gosto de olhar o copo meio cheio. Cerca de 2 milhões de pessoas conseguiram fazer o Enem, em um ambiente de pandemia, de receio. Outros lugares do mundo não conseguiram fazer. E o Brasil, com toda a sua dificuldade e desigualdade, você assegurar que 5 milhões pudessem fazer a prova, e 2 milhões fazerem, é assegurar uma oportunidade”, justificou.

 

E, mesmo com as recomendações sanitárias e os problemas do primeiro dia, o segundo domingo de provas da versão impressa do Enem 2020 teve registro de aglomerações nos locais de aplicação. Além disso, candidatos reclamaram do número de alunos por sala e da falta de álcool em gel. Os participantes do DF avaliaram que a prova de ciências da natureza e matemática caminhou mais para o foco no conteúdo em detrimento da interpretação, característica da primeira semana, quando foram aplicadas questões de ciências humanas e linguagens, além da redação.

“Achei a prova bem mais conteudista que a do primeiro dia, que cobrou muito mais a interpretação de texto”, avaliou a estudante Amanda Afonso, 18 anos. A jovem prestou o Enem pela segunda vez e conta que esperava mais cuidados por parte da organização, tendo em vista a situação da pandemia do novo coronavírus.

“Vim achando que iam medir a temperatura na entrada e que teria álcool em gel e, como acabei esquecendo o meu, foi pior”, afirmou. Estudante do Centro de Ensino Médio Setor Leste, Amanda deseja conquistar uma vaga para cursar medicina veterinária na Universidade de Brasília (UnB). Ela está mais confiante com o PAS (Programa de Avaliação Seriada) do que com o Enem em busca da vaga.

Para a professora de química do Colégio Sigma Juliana Gaspar, a avaliação estava mais tranquila que a de 2019 e os assuntos cobrados foram bem coerentes com o que se esperava. “A prova de química teve muita teoria, baseada principalmente na parte de química ambiental. Foi um teste bem equilibrado e contextualizado, mas não foi muito trabalhoso”, disse. “Houve muitas questões interdisciplinares, principalmente com a matéria de biologia, mas poucas de cálculo e de físico-química”, analisou.

Movimentação

No Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), um dos locais de aplicação do Enem, a movimentação começou antes da abertura dos portões, às 11h30. O DF Legal chegou a retirar alguns vendedores das proximidades do portão. Mesmo assim, foi registrada aglomeração de alunos, familiares e ambulantes na entrada.

Maria Lucília Vilaça Albuquerque, 43, chegou a fazer um registro fotográfico da porta do local. “Sinceramente, não concordo com a realização dessa prova. Vim, porque já tinha feito a primeira fase e não tem como fugir”, comentou.

Tanto Maria Lucília quanto a candidata Nathália Ramos, 17, comentaram que, se não fosse pelas ausências, as salas estariam cheias no primeiro dia. “Não teve distanciamento. Só tinha certa distância de um aluno para o outro porque muita gente faltou”, contou.

Ela e as primas Maria Fernanda de Miranda, 20, e Maria Eduarda de Miranda, 18, aguardaram juntas pelo início do exame. “No primeiro dia, achei muito desorganizado, principalmente aqui fora. No segundo (ontem), eles conseguiram controlar um pouco mais”, avaliou Maria Fernanda.

“No primeiro dia estava muito nervosa com medo de pegar covid. Estão tentando seguir as normas sanitárias de segurança, mas o ideal era a prova ser adiada. É um desrespeito com os alunos e as famílias”, pondera Barbara Gabriel Silva, 17. Ela reconhece, no entanto, que a organização do exame, de responsabilidade do Inep, está fazendo o possível para que a vida dos estudantes continue.

Barbara aguardou a abertura dos portões ao lado da madrinha, Haifa Gabriel, 54. Para ela, é importante que a família fique ao lado da jovem, sobretudo, em momentos de decisão. “É aquele abraço forte, a palavra de incentivo. Os adolescentes já se sentem muito perdidos, se a família não está junta, fica mais complicado para eles”, afirmou.

Raul da Rocha, 18, fez o Enem pela segunda vez e detalha que foi difícil conciliar o estudo em casa com as atividades do cotidiano. “Acabei perdendo o foco e não estudando o quanto precisava”, descreveu. Contudo, o candidato afirmou que foi bem no primeiro dia e espera repetir o sucesso a fim de conquistar uma vaga em geografia ou serviços sociais na UnB.

Atrasada

A estudante de nutrição Maria Otília acredita que tinha se saído bem no primeiro dia do Enem, mas, ontem, chegou na hora em que os portões fecharam e não pôde participar do segundo dia. “Sai de casa às 12h20, meu esposo que me trouxe, ele não sabia o endereço e acabamos pegando trânsito. Pedi para conversar com os coordenadores, mas não deu certo. Vou avaliar o que posso fazer agora”, disse a moradora do Cruzeiro Novo. Apesar de cursar uma graduação, ela gostaria de usar o resultado do Enem para conseguir um desconto na universidade.


Próximas datas

» Quarta-feira (27): divulgação do gabarito oficial do Enem impresso
» Domingo (31) e 7 de fevereiro: aplicação da versão digital do Enem
» 23 e 24 de fevereiro: reaplicação do Enem e aplicação para pessoas privadas de liberdade
» 29 de março: liberação do resultado do Enem

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  • Segundo dia do Enem teve registro de aglomerações em locais de aplicação do exame no DF. Candidatos também reclamaram do número de alunos por sala e falta de álcool em gel
    Segundo dia do Enem teve registro de aglomerações em locais de aplicação do exame no DF. Candidatos também reclamaram do número de alunos por sala e falta de álcool em gel Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
  • Raul da Rocha fez o Enem pela segunda vez
    Raul da Rocha fez o Enem pela segunda vez Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
  • Maria Otília chegou na hora em que os portões fecharam
    Maria Otília chegou na hora em que os portões fecharam Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
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