Presentes em cada bairro do Distrito Federal, as padarias representam um dos poucos setores que sofreram menos impactos da crise econômica ao longo do ano passado. Esse ramo — composto, principalmente, por micro e pequenos empreendedores — não deixou de acumular perdas financeiras. No entanto, a saída para reestruturar os negócios diante da nova realidade que a covid-19 impôs exigiu dos empresários mobilização na busca por mecanismos que reduzissem a queda no faturamento. E essa aposta passou pela reinvenção dos negócios.
Mesmo após 45 anos com uma clientela fiel, a pandemia assolou a realidade da padaria Vitoriosa, conhecida por vários moradores da Asa Sul. Proprietária do estabelecimento, a empresária Daniella Bastardo, 37 anos, conta que os ganhos da empresa diminuíram de 60% a 70%. Contudo, entre dezembro e outubro, ela verificou alta de, aproximadamente, 20% nas vendas, principalmente por causa do Natal.
A saída para enfrentar a crise começou pelo investimento no comércio on-line. “Aumentamos as opções de produtos vendidos por aplicativo. Hoje, temos um app que mandamos fazer. E, para todas as datas festivas, criamos caixas de festas. Para aniversários também”, comenta Daniella. A mudança demandou gastos: “Reorganizamos a loja toda, começamos a investir mais em pães embalados ou semiassados, para clientes que quisessem levar o item para finalizar (o cozimento) em casa. O consumidor, nas poucas vezes que ia à loja, acabava comprando mais coisas, para estocar e sair menos de casa”, observa a empresária.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação de Brasília (Siab), Pedro Nicola calcula que as perdas de empresas do setor variaram de 40% a 50% durante a pandemia. “Apesar de não parecer, nosso segmento depende, em boa parte, de eventos. Coffee breaks, workshops, festas de aniversários são atividades que movimentam o ramo. Com tudo isso parado, devido à pandemia, o impacto foi grande. Consequentemente, algumas empresas fecharam”, afirma.
Quadro
Em 2019, o setor empregava 12.188 pessoas, em cerca de 1,2 mil estabelecimentos do Distrito Federal, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério da Economia. Eles se dividem entre dois tipos, de acordo Pedro Nicola: produtoras e revendedoras. “Na parte das indústrias, temos 509 empresas no DF”, diz o presidente do Siab. Mas, independentemente do modelo que administram, os empresários do DF tiveram de adotar novos caminhos para manter as vendas durante a fase de restrição das atividades do comércio.
Um deles — mais drástico — envolveu a redução no quadro de funcionários. “Por mais que as pessoas consumam em casa e que as padarias façam entregas, não havia eventos. Uma festa de aniversário, por exemplo, não acontecia mais. Houve queda da demanda e, consequentemente, no quantitativo de empregados. Todas as empresas tiveram de adotar essa estratégia”, avalia Pedro. Outra implicou a diminuição da variedade de produtos oferecidos. “As empresas que, antes, fabricavam de 300 a 400 itens passaram a produzir de 70 a 80. Com isso, reduziram a produção e, consequentemente, os custos, para se adequar às novas demandas”, completa o porta-voz do Siab.
A venda pelo WhatsApp, por exemplo, aumentou significativamente. “As empresas passaram a ter mais contatos com os clientes e criaram grupos com moradores dos bairros em que as padarias se encontram. Várias delas que não faziam entregas passaram a trabalhar com essa modalidade. Foi uma forma de suprimir os prejuízos, principalmente no início da pandemia, quando o isolamento social estava mais alto”, avalia Pedro.
Estabilidade
Com 24 anos no mercado e 346 funcionários empregados, a Casa de Biscoitos Mineiros sofreu os prejuízos da crise sanitária, segundo Catarina Teixeira Homonnai, 25, gerente de recursos humanos e sócia da rede de estabelecimentos. “Tivemos uma queda grande das vendas no primeiro mês da pandemia. O preço da matéria-prima ficou altíssimo e, até hoje, sofremos com isso. Temos de ficar reajustando os valores”, conta.
Apesar das dificuldades, Catarina considera que a empresa não sofreu o pior, pois não demitiu funcionários. “Temos uma parceria muito grande com eles, que são muito importantes. Quem saiu no começo da pandemia fez isso por opção própria ou por algum problema anterior”, relata. Mesmo assim, a rede não conseguiu recuperar o faturamento pré-crise. “Mas somos uma das poucas empresas que ainda contratam nesta época. Tentamos nos organizar segundo o que o governo nos pediu. Fomos devidamente orientados, mudamos a carga horária das pessoas ou a diminuímos — para que não houvesse aglomeração na loja — e temos higienizado mais vezes as mãos, além dos estabelecimentos”, detalha Catarina. Ela acredita que a recuperação financeira virá com o tempo.