O início da vacinação contra o novo coronavírus vem acompanhado de uma série de dúvidas. Quem serão os primeiros vacinados? Por quanto tempo ficarão protegidos? A aprovação para uso emergencial da CoronaVac, da farmacêutica Sinovac com o Instituto Butantan, deu a largada para que essas perguntas comecem a ser respondidas. O Correio consultou as infectologistas Eliana Bicudo e Ana Helena Germoglio e reuniu as principais informações da Secretaria de Saúde a respeito do processo no DF para elucidar algumas das dúvidas recorrentes.
Como funciona
A CoronaVac funciona com o vírus inativo. O que isso significa?
Assim como a vacina da gripe, o que se faz: pega-se o vírus inteiro do Sars-Cov-2, que é multiplicado no laboratório e inativado quimicamente, para que não consiga se multiplicar mais e causar a doença. Ele não está morto, é como se estivesse congelado. Quando a vacina é aplicada, o corpo reconhece as proteínas mais importantes do vírus, que estão preservadas — as chamadas espículas (espinhos) — e cria anticorpos.
Existem efeitos colaterais?
É como em outras vacinas: podem ocorrer dores locais no braço; o local da aplicação pode ficar dolorido e vermelho. Sintomas como dor no corpo e temperatura corporal mais elevada também podem aparecer, mas nada além disso. A única contraindicação é para crianças e gestantes.
Depois de quanto tempo a pessoa alcança o nível de imunidade previsto pelo laboratório após testes clínicos?
Nos estudos, na fase três, as vacinas que se tem no mercado apresentaram resposta imune a partir do 14º dia. Então, isso se torna aparente na segunda semana após a vacina. Mas não se sabe ainda por quanto tempo essa resposta pode se manter; por isso, houve observações da Gerência-Geral de Medicamentos da Anvisa, (para) que as pessoas que tomaram a vacina sejam acompanhadas pelos órgãos fiscalizadores e pelas empresas fabricantes da vacina. Não há informações sobre se será do mesmo modo da vacina contra a Influenza, que precisa de dose anual. Apesar de produzir anticorpos de forma mais robusta a partir da segunda semana, até que haja uma população razoável de pessoas vacinadas — entre 70% e 80% — e uma queda nas incidências de casos novos, vamos precisar manter todas as medidas de precaução.
PÚBLICO-ALVO
Quem deve se vacinar?
As doses que chegaram ontem ao DF serão aplicadas em profissionais da saúde e em idosos acima dos 60 anos que estão em instituição de acolhimento ou asilos. Em seguida, na segunda fase, será a vez dos demais cidadãos com mais de 60 anos. Na terceira fase, o alvo da vacinação serão as pessoas com comorbidades. Na última etapa, professores e profissionais da força de segurança serão imunizados.
Por que se vacinar?
A circulação do vírus será menor, o que reduzirá o impacto da pandemia, principalmente a pressão sobre os sistemas de saúde. A vacinação não é apenas uma proteção individual, protege também a comunidade e, por isso, salva vidas.
O fato de as vacinas terem sido produzidas em tempo recorde traz algum prejuízo para a segurança dos imunobiológicos?
Não. Primeiro porque a tecnologia dessa vacina da CoronaVac já é conhecida, tanto que o Butantan consegue produzir. É a mesma tecnologia da vacina da gripe, não existe novidade nos estudos, que estavam em andamento com o vírus Sars-Cov-1 na China. O que aconteceu foi que mudou o vírus: o Sars-Cov-1 foi uma preliminar da vacina para o Sars-Cov-2. Não há nenhum risco na rapidez com que foi produzida.
Qual a diferença entre ser imunizado após ser infectado e conseguir a imunidade pela vacina? Quem teve covid-19 deve se vacinar?
Quem teve a doença tem que se vacinar. A orientação é de que se tome a vacina depois de 30 dias de ter o diagnóstico positivo para a covid-19. Os estudos mostram vários casos de reinfecção, ou seja, os anticorpos produzidos durante a doença não são sustentáveis por longo tempo. Com a vacina, a resposta imunológica é mais duradoura.
Por que a vacina será aplicada em duas doses?
As vacinas — a maioria delas — precisam de uma dose para sensibilizar, estimular o sistema imune. Se a resposta imune não estiver bem elaborada na primeira dose, a segunda vem como reforço, e você precisa de uma resposta imunológica bem elaborada para produzir o anticorpo.
A vacina é eficaz contra a nova cepa do vírus?
Até agora, todas as informações disponíveis, são de que as vacinas são eficazes para essas novas cepas encontradas do novo coronavírus. Mas, como o vírus está sempre mudando para encontrar um ambiente melhor para ele, pode acontecer que surja uma cepa cuja vacina não seja eficaz. Para as cepas de que se tem registro hoje, ela é eficaz.
PROGRAMAÇÃO
As vacinas devem chegar à rede privada também?
Neste primeiro momento, apenas as salas de vacinação em hospitais públicos receberão as doses. Profissionais devem procurar a unidade de saúde mais próxima de sua casa.
Haverá filas para se vacinar ou será por agendamento?
Não haverá agendamento. O profissional que atua em uma unidade de saúde deve procurar o hospital onde trabalha ou a unidade mais próxima de sua residência para receber a primeira dose. No caso dos idosos e pessoas com deficiência que estão em instituição de longa permanência e da população indígena, equipes da Secretaria de Saúde vão realizar a imunização no local onde esses grupos estão.
Há calendário definido para a vacinação em cada fase prioritária?
Essa definição vai depender de quando as novas doses chegarão ao DF.
Quantas doses devem ir para cada região de saúde?
Será definido de acordo com a quantidade de profissionais que atuam em cada região.
Quem tomar a primeira dose estará com a segunda garantida?
Sim. As 105 mil doses recebidas ontem foram divididas com o objetivo de garantir as duas doses para o grupo prioritário.
Como será feito esse controle?
Haverá um cadastro atrelado ao CPF da pessoa, que deve guardar a comprovação da primeira dose para receber a segunda.
CUIDADOS
Como as pessoas devem se prevenir na hora de sair para se vacinar?
Indo de máscara e mantendo o distanciamento social. Se estiver doente, com covid-19, gripado ou com alguma doença infecciosa, o paciente terá de adiar a imunização. Além disso, é preciso verificar quem será recebido nas regionais de saúde, para não ficar lá aguardando à toa.
Quais comportamentos são necessários após a dose? É permitido ingerir bebida alcoólica, por exemplo?
Vida normal após a aplicação da vacina.
Quais cuidados a população deve manter, mesmo com a chegada da vacina?
O vírus vai continuar circulando, porque parte da população estará descoberta. É importante manter o uso da máscara e o distanciamento social. Isso não vai acabar neste momento. Mas, quanto menos o vírus circular, melhor será para todo mundo.
Quais os riscos de abrir mão desses cuidados, mesmo com a imunização em curso?
Novas variantes podem continuar surgindo, porque o novo coronavírus está circulando, os jovens estão se aglomerando, e essa troca-troca de micro-organismos induz à resistência. Os obesos também não vão receber a dose nos primeiros meses. Pessoas com comorbidades serão imunizadas em um segundo momento; por isso, o risco de contágio é alto.
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