A coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério Público do DF, Mariana Távora, afirmou que o sistema de justiça tem muito a evoluir no que diz respeito à proteção das mulheres e punição dos autores de feminicídio. Távora comentou sobre a necessidade de acabar com a desigualdade de gênero e também sobre a objetificação da mulher na sociedade, em entrevista ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — na tarde desta terça-feira (29/12).
“Existe um índice alto de condenação no DF, uma boa resposta do Estado, mas temos muito a caminhar. Por exemplo, sobre o apoio às vítimas secundárias ao feminicídio: as crianças. Não temos políticas estruturadas para esse tipo de auxílio”, afirma. Na avaliação de Távora, também falta uma maior observação em relação a outras violências que atingem as mulheres.
A coordenadora destacou o padrão das vítimas de violência no DF. “Podemos dizer que grande parte das vítimas do Distrito Federal são mulheres negras, e isso nos faz pensar que a gente precisa pensar em políticas de igualdade social. Elas também não fizeram reporte ao sistema de justiça. E grande parte dos conflitos ainda estão relacionados à posse dessa mulher”, avalia.
Ajuda às imigrantes no DF
Em apoio às imigrantes que vivem no DF, o Núcleo de Gênero do Ministério Público do DF lançou uma cartilha explicando quais são as redes de apoio e leis do Brasil de proteção às mulheres. “É um fenômeno mundial. E a gente tem recebido haitianas, venezuelanas, chinesas. A língua é uma barreira. Se o silêncio pode velar um feminicídio, imagine esse silêncio associado à barreira linguística? É um dificultador para acessar a rede de proteção. A nossa ideia com a cartilha foi disponibilizar o que é a rede de proteção e quais são as nossas leis. Está traduzida para o inglês, espanhol, francês e chinês”, explica.
“A ideia é que avance, seja traduzida para outras línguas e tenha uma ferramenta oral também, para as pessoas que não sabem ler”, explica Távora. Mariana Távora também comentou sobre o caso da juíza Viviane Vieira do Amaral Arronenzi, de 45 anos, assassinada na véspera de Natal pelo ex-marido, no Rio de Janeiro. “Isso mostra que ainda estamos distantes de uma igualdade de gênero. Você tem uma mulher aí que tem um bom emprego, um bom salário e ainda, sim, é vítima de violência doméstica”, observou.
Para ela, é importante a sociedade falar sobre representatividade, sobre as mulheres estarem em espaços de decisão, para que se possa reverter, a partir das experiências femininas, "do nosso lugar de fala, levar algumas políticas que representem igualdade entre as mulheres”.