No fim de um ano marcado pela pandemia da covid-19, o Índice de Desempenho Econômico do Distrito Federal (Idecon-DF) apresentou sinais de que o setor caminha para uma recuperação. O indicador, divulgado pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), revelou que o segundo trimestre do ano foi o mais afetado pela crise sanitária, com variação de -3,9% na comparação com o mesmo período de 2019. No entanto, no terceiro trimestre, houve melhora, e o resultado chegou a -0,6% — também em relação ao ano passado. Apesar de o valor ainda ser negativo, especialistas e empresários da capital federal se dizem otimistas para 2021.
No acumulado de quatro trimestres, o Idecon-DF apresentou retração de -0,2%, a primeira negativa desde o fim de 2017. Mesmo assim, o valor ficou acima do observado no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, que variou -3,4%. Para o economista Riezo Silva, o indicador mostra a capacidade de a economia local sobreviver a adversidades. “Como o DF tem uma grande quantidade de funcionários públicos, a economia funciona de forma diferenciada, pois, em relação a salários, essa categoria não foi tão atingida pela crise quanto outras”, avalia.
O Idecon-DF do terceiro trimestre demonstra, segundo o especialista, que Brasília segue em ritmo de crescimento. “Com certeza, a pandemia puxou o índice para baixo durante o segundo trimestre, pois diminuiu o fluxo de dinheiro na cidade, assim como a demanda por produtos e serviços. Mas, com as medidas de auxílio dos governos federal, local e a reabertura do comércio, a economia voltou a girar. A tendência, caso nada mude, é de que ela permaneça nesse caminho”, comenta Riezo. O economista ressalta, também, a importância de que o indicador continue a crescer. “Para afirmar que o DF se recuperou, é preciso que o indicador volte a ser positivo e se mantenha assim por um período maior”.
As perspectivas animam o dono da padaria L’Amour du Pain, Serge Segura, 52 anos, empresário há 25 anos. Como a maioria dos administradores de negócios, ele viu o faturamento cair no início da crise, porém, após muitas mudanças, conseguiu sobreviver. “A pandemia chegou de forma inesperada. Ninguém estava preparado. Foi difícil levantar do tombo, mas agi rápido, negociei pagamentos com fornecedores e colaboradores e, juntos, fizemos as lojas (na Asa Sul e no Lago Sul) permanecerem abertas. Apesar disso, considero que tive um pouco de sorte”, comenta Serge.
Otimista, o empresário conta que, por causa da pandemia, acabou “obrigado” a dar andamento a projetos antigos, que não tinham saído do papel. “Para sobreviver aos meses de fechamento do comércio, precisei adotar serviço de delivery, promoções e novos itens no cardápio. Eram coisas que eu queria fazer, mas não tinham necessidade”, afirma Serge. “(As mudanças) agregaram valor ao restaurante. Além disso, consegui perceber como é importante ter planejamento e não desistir em situações de crise”, completa.
Aprendizado
Apesar dos resultados negativos entre vários índices, principalmente para o setor do comércio, representantes do segmento acreditam que é possível observar a crise por outro ângulo. Esse ramo registrou queda de 4,1% no acumulado dos últimos quatro semestres, segundo o Idecon-DF, e caiu 6,4 pontos percentuais entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2020.
Mesmo com os indicadores negativos, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Francisco Maia, considera que o mercado passou por uma grande mudança. Ele acredita que a crise incentivou a criatividade dos empreendedores, mas destaca que é preciso ficar atento às alterações. “A maioria (dos donos de negócios) teve de solucionar grandes problemas de uma hora para outra. Essa experiência precisa permanecer para o futuro, a fim de garantir a estabilização da categoria”, afirma.
Alguns setores do comércio conseguiram crescer durante a pandemia, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). O levantamento avalia o varejo e é divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostraram que os segmentos de móveis, eletrodomésticos, materiais de construção e hipermercado apresentaram desempenho positivo no acumulado do ano, com altas de 24,7%, 7,7% e 3,2%, respectivamente.
O diretor de operações dos hipermercados Extra no DF, Lucas Zanon, confirma o crescimento, mas conta que o segmento precisou se adequar à nova realidade. “Uma das principais mudanças foi o investimento no e-commerce, pois percebemos que as pessoas estão procurando novas formas de comprar sem sair de casa, para evitar se expor ao vírus. Aprendemos a nos adequar a essa demanda”, diz. Zanon acredita que, em 2021, a proposta deve se manter. “Sabemos que a economia do ano que vem será um desafio, mas teremos um comportamento muito parecido com o deste ano.”
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Edson de Castro, os indicadores positivos ao longo de 2020 eram esperados e foram puxados, principalmente, pelo desempenho do setor no terceiro trimestre. “A partir desse período, iniciou-se uma temporada de diversas datas comemorativas. Isso, somado à reabertura do comércio, garantiu resultados melhores”, pontua.
Expectativas
Os sinais de recuperação apresentados no fim de 2020 tendem a se manter em 2021. Para os economistas mais otimistas, a economia do DF pode voltar ao patamar de 2019, no ano que vem. Um deles, o ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas, acredita que tudo dependerá da evolução da pandemia e da resposta de cada segmento. “Caso não ocorra nenhuma tragédia, como uma segunda onda muito forte ou uma falha no plano de vacinação, os resultados devem continuar a crescer. A arrancada deve ser boa, a questão será mantê-la ao longo do processo”, pondera. Carlos Eduardo também afirma que o último segmento a se recuperar será, provavelmente, o de serviços, por depender do fluxo de pessoas.
Em relação a 2021, o secretário de Economia do DF, André Clemente, comenta que o governo elaborou um orçamento anual de forma realista, para executá-lo com mais segurança e tranquilidade. “No ano que vem, a austeridade no gasto público e o ambiente desenvolvimentista, atrativo, com segurança jurídica e sem burocracia serão mantidos como tônica, garantindo geração de emprego, renda e arrecadação”, destaca.
O chefe da pasta avalia que, de forma geral, o DF deu uma boa resposta à crise sanitária. “O primeiro ponto importante foi a realocação orçamentária para áreas prioritárias, para mitigar os efeitos da pandemia. Além disso, mantivemos o pagamento dos servidores em dia, o que não só dá segurança ao funcionalismo (público), como também ajuda a movimentar a economia”, diz André Clemente.