Para 620 mulheres de baixa renda de Ceilândia, Estrutural, Riacho Fundo, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho, o ano de 2020 ganhou um significado especial. Mesmo com todos os desafios de saúde física, emocional e financeira enfrentados na pandemia de covid-19, elas foram presenteadas com uma oportunidade única: tiveram seus talentos valorizados, se desenvolveram pessoal e profissionalmente para crescerem na vida como empreendedoras, donas de seus negócios, garantindo o sustento de suas famílias. O programa Todas Elas, desenvolvido pela Fundação Assis Chateaubriand, com apoio do Sebrae DF e da Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal, proporcionou uma verdadeira transformação em meio ao caos, de setembro a novembro deste ano.
A proposta do Todas Elas foi oferecer uma experiência de aprendizado 100% online, gratuita e prática, sobre empoderamento feminino e estruturação de negócios para geração de renda, com linguagem simples em uma plataforma conhecida e acessível a todas, que foi o Facebook. Além das aulas online gravadas e outras ao vivo, as participantes contaram com a ajuda de mobilizadoras sociais em cada região atendida para tirar dúvidas e estimular, via WhatsApp, aquelas que estivessem com dificuldades de seguir em frente no curso.
Para a mobilizadora de Ceilândia, Diana Maria da Costa, que também é mãe de 7 filhos, avó de três netos, assistente social, educadora popular e agente comunitária, o convívio com essas mulheres foi um grande diferencial para o sucesso do curso. “São histórias de superação incríveis. Você gerar nessas mulheres uma relação de confiança a ponto de falarem que não estavam legais, que queriam morrer, que não viam como melhorar sua vida, e depois conseguir, por meio de uma boa conversa, colocar essas mulheres para cima e mantê-las ativas no curso é muito gratificante. Nosso papel era de motivá-las, fazê-las se sentirem pertencentes e mostrar que são empreendedoras. Por mais que pareça difícil, há sempre uma saída. Basta acreditar em si mesma”, comenta. Diana conta que deu até um apelido especial para a turma de Ceilândia: “Uma pessoa que trabalha fora, cuida da casa e dos filhos, presta serviço e ainda estuda para melhorar nos negócios só pode ser uma super poderosa.”
O impacto do trabalho
Pesquisa realizada ao final do curso Todas Elas, em novembro, com uma amostra de 213 participantes, mostrou que 74% das mulheres participantes são pretas e pardas, 65% não têm empresa formalizada, 68% estão na faixa etária de 26 a 45 anos e apenas 32% tiveram acesso ao ensino superior. Do total de entrevistadas, 61% declararam sair do curso com autoestima e autoconfiança elevadas, 96% aplicaram os novos conhecimentos para melhoria de seus negócios, 66% tiveram um aumento de renda em relação aos meses anteriores ao curso e, dessas, 96% acreditam que o aumento das vendas se devem aos conhecimentos adquiridos no curso. Além disso, 73% disponibilizam seus produtos ou serviços para venda on-line, um aumento de 12% em relação ao início do curso.
“Isso é uma grande vitória porque a gente sabe o quanto a autonomia financeira pode ser libertadora para essas mulheres”, destaca Mariana Borges, superintendente executiva da Fundação Assis Chateaubriand. Para Carlos Cardoso, gerente de negócios e redes do Sebrae DF, o mais importante da iniciativa foi olhar para mulheres que empreendem e estão em uma situação de vulnerabilidade. “O projeto trouxe mais possibilidades de essas mulheres se descobrirem como empreendedoras, valorizarem suas potencialidades e se autoconhecerem, colocarem no mercado os produtos que elas já fazem em suas comunidades, como uma fonte de renda para suas famílias. É uma causa muito importante, principalmente neste momento de pandemia, em que muitos empreendedores surgiram, não só por oportunidade, mas por necessidade.”
Superando o medo
Aos 59 anos, Luzia Neves, mãe de três filhos e moradora de Riacho Fundo 2, se viu em um momento de tensão este ano, com o medo de sair às ruas e a necessidade de ter uma renda, que vinha das vendas em seu quiosque. Foi então que ela se inscreveu no Todas Elas e foi selecionada entre mais de mil mulheres interessadas na oportunidade. “Eu estava entrando em pânico por causa do coronavírus, não podia sair de casa, aí fiz esse curso e foi muito bom para mim. Mesmo eu tomando todos os cuidados, eu tinha medo de sair na rua oferecendo as minhas coisas. Depois do curso, minha mente se abriu, hoje eu saio, levo meu álcool em gel, minha máscara e vou conseguindo. Passei a dar mais atenção aos clientes no meu quiosque, procuro agradar mais, aprendi a fazer as contas dos meus gastos, fazer anotações que eu não fazia e aprendi a mexer mais no celular. Eu nunca tinha feito um curso online e pude ouvir muitas histórias bacanas e coisas que eu nunca imaginei que poderia saber”, comenta Luzia, que vende em seu quiosque doces, bolos, salgados, sucos. Segundo ela, o movimento já melhorou e os clientes estão satisfeitos com o serviço.
Conectadas e negociantes
Outras duas oportunidades de aprendizado surgiram para algumas participantes do Todas Elas. Em parceria com o Sebrae, a Fundação Assis Chateaubriand promoveu um curso gratuito intensivo sobre negócios digitais, o Conecta Todas Elas, e a Rodada de Negócios. Cerca de 60 mulheres foram selecionadas para o intensivão de três dias em novembro e puderam aprender mais sobre estratégias de vendas e produção de conteúdo online, além de aperfeiçoaram sua forma de apresentar os negócios, em discursos rápidos para atrair investidores, os chamados pitches.
Na primeira semana de dezembro, 77 empreendedoras participaram da Rodada de Negócios Todas Elas, um evento online de conexão com 13 empresas da cidade, para que pudessem iniciar parcerias promissoras nas áreas de microcrédito (Veriza), espaço para exposição (Feira da Lua), embalagens (Eldorado), divulgação (Eu harmonizo), entre outros, como Ton Sur Ton Tecidos, Quatro Malhas, Arque, Joana Eichler Fotografia, Humanizate Instituto Nous e Unlearning Company. Antes do evento, se prepararam em um curso gratuito de negociação organizado por Wankes Leandro.
Moradora de São Sebastião e mãe de quatro filhos, a empreendedora Ana Márcia Batista, 38 anos, foi beneficiada com as três formações. “Foram experiências muito diferentes e positivas. Consegui abrir meu leque com novos produtos na área da confeitaria, pude contar um pouco do meu trabalho para conseguir fornecedores e patrocinadores. Só tenho a agradecer por terem me dado essa oportunidade de entender realmente a pessoa que sou. Não sou só a Ana Márcia, dona de casa, mãe, esposa. Eu sou uma mulher empreendedora, eu tenho um negócio, não é só um hobby. E tenho que saber administrar esse trabalho. Para mim, foi muito importante saber lidar com o cliente e saber vender os meus produtos.”
Parcerias que agregam valor
A experiência, que começou como um curso online de empreendedorismo, ultrapassou as fronteiras do mundo digital e ganhou força com formação de um ecossistema, que contou com a parceria de dezenas de empresas e organizações de várias regiões administrativas do DF, que contribuíram de diversas formas: seja com doações financeiras, brindes, palestras, workshops, apoio psicossocial, assistência jurídica, acesso a microcrédito, entre outros benefícios.
“É um motivo de comemoração perceber o quanto as pessoas e as organizações parceiras acreditam no potencial transformador das mulheres de baixa renda e vieram junto conosco. São dezenas de apoiadores locais de cada uma das regiões do DF onde a gente esteve presente, mas também grandes instituições que vieram junto com a gente já nesta primeira edição, como o Sebrae, a Secretaria de Esporte e Lazer do DF, Instituto Glória, Correio Braziliense”, destaca Mariana Borges, superintendente executiva da Fundação Assis Chateaubriand (FAC).
Segundo Mariana, a meta da FAC para 2021 é impactar 6 mil mulheres, levar o programa Todas Elas para outros estados e fortalecer a estrutura de dados para ampliar o conhecimento sobre o público e para medir o impacto desse trabalho. “Queremos fazer isso junto com outras organizações do terceiro setor, empresas privadas e governo, parceiros que possam não só viabilizar a participação de mais mulheres no programa, mas também capital semente para investirem em seus negócios durante o curso, proporcionar acesso a internet de melhor qualidade, apoio psicossocial, mentoria. O Todas Elas é um programa que gera inclusão social, inclusão digital, inclusão financeira e inclusão produtiva. A gente convida todas as empresas alinhadas com essas estratégias de impacto social que se juntem a nós em 2021”, ressalta.
Seja um parceiro do Todas Elas
Para saber mais sobre o programa Todas Elas e entender como apoiar essa causa, seja com doações ou parcerias, acesse www.facbrasil.org.br ou envie um e-mail para ascom@facbrasil.org.br
Compre de Todas Elas
Você pode apoiar as empreendedoras do Todas Elas comprando seus produtos ou serviços. A Fundação Assis Chateaubriand criou um perfil no Instagram (@compredetodaselas) para divulgar os negócios dessas mulheres. Confira: www.instagram.com/compredetodaselas
Palavra de quem acredita
“O Todas Elas trabalha algo fundamental para a superação do ciclo de violência doméstica que essas mulheres enfrentam, a autonomia financeira. É só tendo um meio de sobrevivência e uma forma de se realizar profissionalmente e economicamente como empreendedora que essas mulheres vão poder superar, sair desse ciclo que as prende por falta de condições de sobrevivência. O programa trabalha com a perspectiva de criar um ecossistema local, um conjunto de atores, instituições, parceiros que fortalecem a participação das mulheres em sua comunidade. Não é algo isolado, individual, mas um projeto coletivo de transformação social. Algo duradouro e não simplesmente um curso. É por isso que eu acredito bastante.”
Raissa Rossiter, socióloga e apoiadora do Todas Elas
“O grande nó que eu vejo hoje no processo econômico de desenvolvimento de qualquer país está na base. São os microempresários que não têm acesso à educação formal de maneira direta e contínua, e essas pessoas que precisam ser desenvolvidas. Hoje sabe-se que 75% da economia do Brasil giram em torno de microempresários e, desses, 52% são mulheres. E o quão distante ainda está o entendimento de educação financeira, de empreendedorismo, de diferencial competitivo, de marketing e de toda uma outra modelagem para crescer. O empreendedorismo é uma grande liberdade para uma mulher que sofre violência ou que pode vir a sofrer violência. O olhar de ser empreendedora e poder mandar no seu próprio dinheiro e sustento é fundamental.”
Cristina Castro-Lucas, CEO do Instituto Glória, apoiador do Todas Elas
“O Brasil tem mais de 30 milhões de microempreendedores informais, que precisam de crédito, pessoas invisíveis aos bancos, preocupados em fazer algo com impacto forte na sociedade. A gente sabe que essas pessoas precisam de crédito para promover as suas atividades. Além do crédito, algo fundamental é a questão da educação, da formação e empoderamento dessas pessoas. Não basta ter a vontade de empreender e, eventualmente crédito para fazer isso, é preciso aprender técnicas novas, como se organizar, trabalhar com dinheiro, utilizar as novas tecnologias para vender pela internet. E o Todas Elas faz isso de uma forma muito interessante.”
Juvêncio Braga, CEO da Veriza, empresa de microcrédito apoiadora do Todas Elas
“Essas mulheres são batalhadoras, enfrentam diversas dificuldades no dia a dia e superam isso de forma muito resiliente. Quando eu vi o programa, o que veio para mim foi a ideia de proporcionar liberdade financeira, liberdade de ter novos conhecimentos. O que me tocou é que são mulheres de baixa renda, que não tinham uma independência financeira e tenho certeza de que elas se reconhecendo como empreendedoras e entendendo a importância que elas têm para o mundo, é um primeiro passo para uma grande mudança. Quando eu vejo essas mulheres buscando o empreendedorismo, assim como a minha mãe e meu pai buscaram no passado, acredito que grandes empresas surgem de projetos como esse e que essas sementes que estão sendo plantadas vão ter grandes efeitos.”
Paulo Guimarães, diretor comercial da Prosaúde e doador do Todas Elas
“Nós queremos ajudar todas elas a terem mais força e estímulo para poderem se desenvolver no nosso país. Elas são capazes e têm realmente uma energia tamanha que pode ajudar suas comunidades e um país todinho. Isso estimula a população a criar novos empregos, novas posições no mercado de trabalho.”
Alexandre Santana, um dos fundadores do Instituto Nacional de Estudo de Direito Sanitário (Ineds) e doador do Todas Elas