Na noite de hoje, famílias de várias culturas e religiões devem se reunir e dar início às tradicionais celebrações de Natal. A união e partilha da festa que foi cultivada ao longo de anos trouxe uma mistura de tradições com diferentes origens. Na própria palavra “Natal”, que significa nascimento, está a essência das festas, que comemoram a chegada de Jesus Cristo ao mundo. Apesar de a data estar diretamente relacionada ao nascimento de Cristo, outras religiões participam das tradições como forma de renovar a fé no que crêem. Seja protestante, católico, espírita ou adepto do candomblé, o fato é que a festa tem significados diversos para as mais variadas famílias brasilienses.
“O Natal é a festa da renovação da fé e da esperança. O silêncio de uma noite comum é rompido por vozes sonoras e bem definidas. São os anjos que anunciam aos pastores a boa notícia. A presença divina enche o coração de esperança daquele que consegue percebê-la. É preciso se sensibilizar com a presença de Deus, que está entre nós, e sempre a nos renovar a esperança e a fé”, explica o padre Reinaldo Martins de Oliveira, da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Este ano, para o padre, celebrar o Natal terá um sentido ainda maior. “Estamos vivendo um momento onde todos temos que renovar a esperança é a fé. A pandemia atingiu a todos, e acredito que tivemos que fazer uma revisão de nossa vida. Fomos todos chamados ao essencial, ao simples, ao convívio com os que estão mais próximos de nós. Aprendemos o quão importante é cuidar do outro. Acredito que esta seja a mensagem: esperança, compaixão e cuidado”, defende o padre.
Para o estudante e católico Pedro Henrique Borges Araújo Peres, 17, a celebração do Natal gira em torno da natalidade de Jesus Cristo. “Principalmente, na vinda da esperança para o mundo. Antes, nós vivíamos nas trevas. Com a chegada d’Ele, tudo mudou, tudo se transformou, tudo se salvou, tudo se concretizou. O Natal é espera e mudança, a espera em Deus para uma vida nova e a mudança de nossos corações para um constante amor”, ressalta.
A reunião de família neste ano terá ainda mais importância para eles, segundo Pedro. “Nós nos reunimos todos os anos, no dia 24, em uma família, e no 25, em outra, sempre procurando acabar com as saudades deixadas ao longo do ano e rezar meditando sobre a vinda de Jesus”, reforça. Segundo Pedro, a tradição de assistirem à santa missa juntos não pode faltar. “Não faria sentido celebrar o Natal sem estar com o próprio aniversariante. Vai ser difícil, este ano, não encontrarei minha família inteira como nos anos anteriores, mas passarei com meus avós, aproveitarei o quanto puder, pois não sei se terei outro Natal para fazer isso”, diz.
Protestantismo
Para o pastor Marco Antônio de Carvalho, da Igreja Cristã Evangélica Águas Claras, o Natal é o momento da unidade. “Sem o nascimento de Jesus, viveríamos ainda imersos em um mundo sombrio e frio. Sua vinda representa esperança e paz aos homens a quem Deus quer bem”, reforça. “O Natal diz muito mais sobre entrega e renúncia. É a celebração da luz que alcança a humanidade em momentos de desesperança, como este que estamos vivendo”, completa.
Segundo o pastor, o primeiro Natal foi celebrado em um lugar humilde e discreto, bem diferente das pomposas celebrações contemporâneas. “Ali, estavam Maria, José, o menino Jesus e a visita de alguns pastores e magos. Esta celebração nos diz muita coisa, não apenas reunir a família sobre uma mesa farta de comidas típicas, mas estar ao lado de quem se ama, com preces e orações e gratidão a Deus por todo o bem e, principalmente, pelo maior presente que ele nos deu”, diz.
A bióloga e protestante Thuany Raquel do Amaral, 24, diz que a data costuma ser celebrada com uma bela ceia, em família e amigos reunidos. “Com momentos de comunhão, brincadeiras e muita comida”, brinca. Mesmo com a pandemia, a bióloga diz que a família procurará manter a tradição. “Queremos nos reunir com alguns poucos amigos, nada grande para não haver aglomeração, mas não podemos deixar de celebrar”, afirma.
Candomblé
A advogada e adepta do candomblé Patrícia Luiza Moutinho Zapponi, 48 anos, é frequentadora do terreiro Ile Axé orixá Dewi, em Sobradinho 2. Ela explica que a data tem uma importância diferente para sua família. “Para nós, de religião não cristã, não tem significado esta data. Porém, dado ao sincretismo religioso e a educação que recebi, para mim, o Natal representa ressignificar a esperança. É o fim de um ciclo”, diz.
Após o ano atípico, a advogada diz que a data será celebrada com uma ceia familiar, além de um Natal solidário, com entrega de brinquedos e cestas amanhã. Segundo Patrícia, a mensagem da data, neste ano, deixa clara a importância de valorizarmos dia após dia. “Todos os dias são importantes, a convivência com nosso próximo e o bem-querer, também. É preciso valorizar todos os dias como se fossem únicos, e saber que assim como o Sol nasce todos os dias, nós também temos a chance de um dia novo, de fazer diferente, de se aprimorar, de melhorar, de evoluir e de amar de uma maneira plena”, afirma.
A união que surge nas casas da capital federal surge com a certeza de que todos são iguais, conforme defende Patrícia. “Nós temos que ter em mente, neste Natal, que somos todos irmãos, que somos todos iguais, e que devemos respeitar uns aos outros de acordo com a divindade que cada um representa, que cada ser é sagrado, que todos nós somos importantes, que todas as vidas importam”, defende a advogada.
Espiritismo
O presidente e fundador do Centro Espírita André Luiz (Ceal), o médium Antônio Villela, 98, explica que a festa tem uma representatividade significativa para os espíritas. “O Natal é o pensamento de paz, luz e amor. No momento em que estamos vivendo, com essa pandemia, deveríamos ter as nossas famílias mais unidas, seguindo a orientação de Jesus deixada há dois mil anos. Nasceu e sofreu para a humanidade inteira, deixou a grande mensagem: amais uns aos outros como vos ameis”, diz.
Para celebrar a data, o médium diz que procura fazer suas preces. “O que desejamos é que possamos reconhecer a verdade que nos libertará para sempre, Jesus assim falou”, afirma. Antonio diz que pretende viver o Natal a exemplo de Cristo. “É Natal, mas não basta ser apenas um dia. Deveríamos ter um Natal permanente em nossas vidas, que é o nascimento do salvador. Sem inimigos, a família de Cristo pela paz do mundo”, defende.
Programações e celebrações
Catedral de Brasília | Missa do Galo: 20h | Missas no dia de Natal: 10h30 e 18h. Transmissão pelo Facebook da Arquidiocese de Brasília.