Nomes icônicos do universo da música sertaneja, Chitãozinho e Xororó não puderam comemorar os 50 anos de carreira do modo que planejaram. Em decorrência da pandemia da covid-19, projetos que desenvolveriam no decorrer de 2020 tiveram que ser adiados, entre os quais a gravação de um disco de músicas inéditas, o lançamento de livro e revista de quadrinhos e uma nova turnê pelo país com um show em que teriam o acompanhamento de orquestra.
Para não deixar a data passar em branco, os irmãos José Lima Sobrinho e Durval de Lima — nomes de batismo desses paranaenses de Astorga — investiram em Sucessos em evidência, álbum de remixes lançado pela Universal Music. O título do disco faz clara referência a um dos maiores hits da obra deles, Evidências, canção composta em parceria por José Augusto e Paulo Sérgio Valle — embora muita gente acredite que seja de autoria dos intérpretes.
Do repertório, fazem parte 12 músicas que, por razões diversas, se tornaram marcantes na trajetória da dupla, com remixagens feitas pelo produtor Santiago Ferraz, a partir das gravações originais. “Temos um carinho enorme por todas as faixas deste projeto. Cada uma traz lembrança de momentos importantes de nossa carreira. Estamos felizes por eles serem revividos”, celebra Xororó. “Esperamos que nosso público também possa curtir”, acrescenta.
Românticos
Pode até parecer óbvio, mas logo na abertura ouve-se Evidências, faixa do Cowboy do asfalto, disco de 1990, comemorativo das três décadas de trajetória dos irmãos. A canção, que virou quase um hino para os românticos, é a mais cantada nos karaokês de todo o país. Os autores, assinam também Página virada. Do mesmo LP, que vendeu 1,5 milhão de cópias, foi selecionada Nuvem de lágrimas, que um ano antes havia sido gravada por Chitãozinho e Xororó e Fafá de Belém. Também de 1989, vem Nascemos para cantar, versão para Shambala, do norte-americano Daniel Moore. Do Meu disfarce, de 1987, foi escolhida para a compilação, além da faixa título, A mais bonita da noite.
Em Sucessos em evidência, há o registro de outros dois dos maiores sucessos de Chitãozinho e Xororó: Galopeira (versão de Pedro Bento para composição do paraguaio Mauricio Cardoso), que os levaram a ser ouvidos no rádio pela primeira vez; e Fio de cabelo (Marciano e Darci Rossi), responsável pela renovação do gênero sertanejo e, não por acaso, a primeira canção gravada pelos dois tocada em FMs. No set list os fãs, com certeza, vão sentir falta de No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo), clássico da MPB que recebeu interpretação primorosa da dupla.
“Quando a Universal Music trouxe para nós a ideia desse álbum, ficamos animados com a possibilidade de os fãs revisitarem nossa obra. É um projeto para presentearmos nosso público tão fiel”, festeja Chitãozinho. Ao longo das cinco décadas de carreira, a dupla lançou 37 discos de estúdio, 10 DVDs, conquistou quatro prêmios no Grammy Latino e muitos discos de ouro, platina e diamante, além de ser tema de enredo da escola de samba X-9 Paulistana.
Sucessos em evidência
Álbum de Chitãozinho e Xororó com 12 faixas, lançamento da gravadora Universal Music.
Nuances do interior
Michel Teló escolheu as montanhas para registrar o novo trabalho
Voz, violão e montanhas. Esses foram os elementos escolhidos para ilustrar a capa do novo trabalho audiovisual do cantor Michel Teló, Pra ouvir no fone. A escolha traz sensação de paz e simboliza imersão nos sentimentos do sertanejo, combinando com o tom do novo EP, perpassado de bucolismo. É Allan Shigueaki Mogui que assina a fotografia que dá cara ao disco, que tem produção de Marcinho Hipólito e Teófilo Teló — e Michel Teló supervisionando tudo.
Com Pra ouvir no fone, que chegou às plataformas digitais no início deste mês, o artista escolheu um assunto de que fala com propriedade para se inspirar: as coisas boas da vida. Teló transmite, pela música, as vivências divididas entre os shows e viagens, os momentos em família e os dias no interior. “Começamos a compor esse trabalho há quatro, cinco anos. A gente sempre planeja o tempo que virá depois, só que a gente está com o pé aqui e agora, então, temos que ser gratos pelos momentos que estamos vivendo, tem muito disso nas canções. Um pouco daquela coisa do interior, das sensações do interior. É muito diferente do Michel de Ai se eu te pego, Humilde residência e Fugidinha”, conta Michel Teló em entrevista ao Correio.
Já no começo do trabalho, fica marcada a relação intimista e familiar de Teló neste álbum. As sete canções foram compostas por Teófilo Teló, irmão de Michel. Três são creditadas somente a Teófilo — Dia nada a ver, Motivos e Verão de um amor caipira. As outras quatro são parcerias do compositor com Guilherme Bumlai (Café coado), Thiago Mart (Pra ouvir no fone) e com o próprio Michel Teló, parceiro em O tempo não espera ninguém e em Sonhos e planos.
“Apesar de o Teófilo ser meu empresário, era muito difícil a gente se reunir para trabalhar porque ele ficava no escritório e eu, nos palcos. Até que um dia, voando para os shows, eu tinha acabado de saber que ia ser pai e me deu vontade de fazer um trabalho assim. Quando voltei, a gente sentou na casa da árvore e começou a compor Sonhos e planos”, relembra o compositor.
Sonoridade
O sertanejo explora as letras em prol da sonoridade — “empresta melodia para a mensagem”, como ele define. Em meio aos arranjos do violão e da sanfona, ele enfatiza as emoções dele e as do ouvinte. “Gostei muito de cantar esse álbum, tive a alegria de descobrir um lado meu cantando, que nem eu conhecia, uma coisa de cantar um álbum diferente, com uma outra sonoridade da minha voz, é uma coisa mais suave”.
“Fiz esse trabalho sem o objetivo de virar uma loucura, mas com a pretensão de fazer um acalanto para o coração das pessoas, assim como está fazendo para mim. É lógico que se a música ficar em primeiro lugar nas paradas será uma bênção, mas não tenho essa pretensão. É bem tranquilo como é o álbum”, completa.
As faixas também emocionaram Melinda, de 4 anos, e Teodoro, 3, filhos do cantor. Desde bebês, as crianças conhecem as letras que integram o projeto audiovisual e participam como inspirações do trabalho. “Colocamos para eles assistirem e eles se emocionaram. A Melinda é muito emotiva e ela começou a marejar, já o Teodoro quando terminou a música começou a chorar e me abraçou. É um projeto que fiz muito pensando neles e acho que eles sentiram tudo isso”, declara o marido de Thais Fersoza.
Quarentena
No momento de isolamento social, Michel Teló se descobriu nas lives. Um formato que nem de longe se compara aos palcos, mas serve para matar um pouco da saudade enquanto não é hora de retomar os shows. “Nas lives, você não tem aquela troca, olho no olho, a galera cantando com você, mas você está cantando e exercendo a sua profissão. Já deu uma aliviada gostosa”, pontua o paranaense.
O cantor frisa que a escolha por ficar em casa é uma medida para se resguardar e cuidar de quem ama. “Resolvemos ficar em casa porque a gente tem duas crianças pequenas, a gente tem os nossos pais, a gente tem a nós para cuidar. Se não tenho show para fazer, se não tenho necessidade de sair, a gente decide ficar em casa e é isso que estamos fazendo. A gente só saiu de São Paulo para o Rio de Janeiro para gravar o The voice e estamos em uma casa aqui. Só eu saio para ir ao programa e volto, com todos os protocolos. Estamos levando muito a sério”, detalha.
*Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader