Em uma manhã sem surpresas no Plenário e nos bastidores, os deputados distritais escolheram Rafael Prudente (MDB) para continuar à frente da Presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) no próximo biênio. Com o resultado, o emedebista tornou-se o primeiro parlamentar a ser reeleito para a chefia da Casa. Ao lado dele, Rodrigo Delmasso (Republicanos) seguirá na vice-presidência.
A sessão foi presencial, somente os distritais Chico Vigilante (PT) e Agaciel Maia (PL) participaram de casa por serem grupo de risco para a covid-19. Confirmando a expectativa e os acordos fechados anteriormente, Prudente se elegeu com apoio de ampla maioria dos distritais e derrotou Reginaldo Veras (PDT). O atual presidente teve 21 votos; o adversário, dois. Houve uma abstenção: Fábio Felix (Psol).
Após alteração na Lei Orgânica no ano passado, a recondução no mesmo mandato passou a ser autorizada. A própria mudança foi uma vitória do emedebista. Antes dele, diversos nomes tentaram emplacar a modificação, mas fracassaram.
Prudente destacou os projetos de modernização da Casa e a economia de recursos como alguns dos principais avanços do mandato na Presidência. “Sem alarde, vamos devolver, neste biênio, mais de R$ 130 milhões. Todo esse esforço permitiu que saíssemos de 45% para 75% no grau de importância constitucional na avaliação da população”, disse, após eleito.
Balanço
Nos primeiros dois anos, Prudente fez uma gestão sem escândalos e com poucas polêmicas, como a CPI da Pandemia e as mudanças no plano de saúde da Câmara Legislativa. Do mesmo partido do governador Ibaneis Rocha (MDB), manteve boa relação com o Buriti e foi importante para que o Executivo local emplacasse projetos fundamentais e complicados, como a extinção das pecúnias, a reforma da Previdência dos servidores distritais e o Refis.
A atuação de Prudente para barrar a CPI da Pandemia o fortaleceu com o Executivo. Na visão dos governistas, a investigação seria uma artimanha política da oposição para enfraquecer a gestão de Ibaneis. O presidente da CLDF adotou postura firme e segurou publicamente a pressão de deputados contrários ao governador, enquanto o chefe do Buriti pôde manter discrição no caso.
Com perfil conciliador, Prudente fechou o apoio da maioria da Casa com antecedência e garantiu uma reeleição sem dificuldades.
Oposição
Na defesa de suas candidaturas, Veras e o postulante a vice Leandro Grass (Rede) reforçaram o pedido por uma Câmara independente do Palácio Buriti. “Esta Casa legislou o que o governo quis e não fiscalizou como deveria. Em vez dos interesses da sociedade, defendeu quereres do governo, das elites e de algumas corporações e tornou-se um puxadinho do Buriti”, criticou Veras. Prudente, entretanto, refutou a ideia de que a CLDF tenha se subjugado ao Executivo neste biênio: “Para falar sobre independência, tivemos um recorde de vetos derrubados. Dos 330 projetos aprovados, mais de 70 são vetos”.
A candidatura de Reginaldo Veras em oposição a Prudente surgiu a partir de uma articulação de Leandro Grass. A ideia era fechar consenso com deputados do chamado Centrão da Casa e apresentar uma alternativa viável à Presidência vigente. O distrital Eduardo Pedrosa (PTC) participou, no início, do diálogo e o nome dele foi cotado para a disputa.
Após as negociações para barrar a CPI da Pandemia, a conversa em torno de uma candidatura de oposição ruiu, e Veras e Grass acabaram isolados. Os governistas, que enxergavam a CPI como uma manobra da oposição para desgastar a imagem de Ibaneis costuraram acordos com o Buriti e fortaleceram a base do governo. O próprio Pedrosa, elogiado pelos colegas diversas vezes na sessão de ontem pela articulação, optou pelo apoio a Rafael Prudente.
Pesou para que o emedebista conseguisse uma reeleição tranquila o racha na esquerda. Com a negociação com o Centrão se desfazendo, Veras e Grass não seguraram uma candidatura apoiada pelos opositores do governo. O PT decidiu votar em Prudente. Arlete Sampaio (PT) e Chico Vigilante ficaram com as comissões de Educação, Saúde e Cultura (Cesc) e de Direito do Consumidor (CDC), respectivamente. Fábio Felix se absteve na votação, mas, com a neutralidade, conseguiu manter-se na Presidência da Comissão de Direitos Humanos (CDH).
“Desta vez, decidimos não apenas marcar posição. Decidimos dialogar com a Mesa que tínhamos convicção de que teria maioria. A nossa intenção era, justamente, contribuir com alguns pontos programáticos, do ponto de vista de mudança de atitudes. Isso não vai mudar a orientação política do PT. Seguiremos em oposição aos governos Ibaneis e Bolsonaro”, justificou Arlete.