Foram meses de controvérsias políticas e debates judiciais. Com aval do Judiciário, a CEB Distribuição, que atende mais de um milhão de consumidores, vai, hoje, a leilão na Bolsa de Valores de São Paulo. Três concorrentes estão credenciadas para participar, segundo o Correio apurou no mercado. São empresas controladas por holdings com atuação internacional e no Brasil.
Com sede em Brasília, o grupo Equatorial atua na distribuição de energia em quatro estados: Alagoas, Maranhão, Piauí e Pará. A Neonergia, controlada pela espanhola Iberdrola, tem como acionistas a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI) e o Banco do Brasil Investimentos. A empresa opera na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e no interior de São Paulo.
A terceira concorrente é a CPFL, controlada pela chinesa State Grid, que opera em vários países como Austrália, Filipinas, Geórgia, Grécia, Hong Kong, Itália, Portugal e Brasil.
Inicialmente, eram seis interessadas. Uma das empresas que desistiu do negócio foi a italiana Enel, que tem concessão da distribuição de energia em Goiás, Rio de Janeiro, Ceará e São Paulo, mas com resultados considerados pífios.
Após a aquisição da Enel Distribuição São Paulo (antiga Eletropaulo), em 2018, a empresa tornou-se o maior grupo em distribuição de energia do país. No entando, segundo o ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Enel está entre os piores desempenhos do país. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), falou até em estatização da CELG Distribuição S.A., controlada pela Enel.
O valor mínimo de privatização da CEB Distribuição foi fixado em R$ 1,42 bilhão, mas a expectativa do Governo do Distrito Federal (GDF) é de que, por conta da disputa, o preço final de venda tenha um ágio. Será uma concorrência lance a lance, subindo cada vez em R$ 15 milhões, até que o martelo do vencedor seja batido.
Ninguém se arrisca, porém, a fixar um percentual para o sobrepreço. O certo é que o mercado não aposta em nada menos do que R$ 1,5 bilhão, pelo potencial de crescimento da empresa sob forte investimento na capital do país.
Controvérsia
O faturamento bruto da CEB Distribuição em 2019 chegou a R$ 4,2 bilhões. Mas, as ações judiciais, movidas por nove parlamentares, podem prejudicar o preço final, sob o argumento de insegurança jurídica. Até o momento, no entanto, o GDF tem vencido todas as ações, com o entendimento de que existe legislação que permite o processo de venda das ações e controle da empresa. Por isso, não há que se falar em aprovação pela Câmara Legislativa.
O Supremo Tribunal Federal (STF) não recebeu e arquivou, ontem, uma reclamação contra o edital do leilão. Na Justiça do DF, as batalhas também foram vencidas pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Ele pretende destinar o dinheiro arrecadado na venda da empresa na área social. Como o GDF detém 80% das ações, Ibaneis terá mais de R$ 1 bilhão para apostar em investimentos.
Um dos entraves políticos está relacionado aos empregados da empresa. Hoje, são 900 funcionários, com salários e benefícios altos. Um eletricista, por exemplo, chega a ganhar cerca de R$ 22 mil entre renda e vantagens acumuladas. O valor é bem acima dos pagos pelas empresas privadas e, mesmo assim, a categoria está em movimento grevista por reajustes e manutenção de benefícios.
Quem assumir a CEB Distribuição certamente, para realizar uma recuperação e saneamento da empresa, terá de fazer ajustes. Para tornar a CEB Distribuição mais atrativa, a holding deu início a um processo de demissão voluntária. Quem permanecer nos quadros da empresa terá mais estabilidade, pelo menos a curto e médio prazos.
Um dos argumentos usados pelo governo para a venda da CEB é de que entre as sete empresas mais produtivas, todas são privadas. Entre as sete com piores resultados, estão três concessões públicas, como a CEB Distribuição. Hoje, há estatais apenas no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Distrito Federal.
Presidente da CEB, Edison Garcia viajou, ontem, a São Paulo, para acompanhar o leilão.