Violência contra a mulher

"A violência de gênero é minimizada e banalizada", afirma juíza do DF

Em entrevista ao CB.Poder, Rejane Suxberger alertou sobre a aplicação da Lei Maria da Penha e comentou sobre o assassinato da juíza Viviane Vieira

Jéssica Cardoso*
postado em 30/12/2020 17:09 / atualizado em 30/12/2020 17:18
A juíza Rejane Suxberger falou sobre a banalização da violência e a lei Maria da Penha -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
A juíza Rejane Suxberger falou sobre a banalização da violência e a lei Maria da Penha - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — recebeu, nesta quarta-feira (30/12), a juíza Rejane Suxberger. A titular da Vara de Violência Doméstica de São Sebastião chamou a atenção para a banalização da violência contra as mulheres e para a aplicação efetiva da Lei Maria da Penha.

Rejane explica que a mulher que sofre violência doméstica passa por alguns ciclos, como o de tensão e o da própria violência em si, e o ápice é o assassinato. “O feminicídio não surge do nada. Ele surge em uma sociedade violenta, que banaliza as questões de gênero e minimiza a violência contra a mulher”, explica a juíza.

A titular da vara de violência doméstica ainda destacou a importância de uma aplicação efetiva da Lei Maria da Penha no sentido de garantir a segurança da mulher. “É preciso que tenha as garantias de que a mulher vai ser acolhida desde a entrada na delegacia até o último recurso dela, no Supremo Tribunal Federal."

Segundo Rejane, a educação pela igualdade de gênero é também um caminho para o combate à violência doméstica. “A conscientização precisa ser uma mudança estrutural de toda a sociedade. Culturalmente, nós precisamos deixar de minimizar a violência e, principalmente, entender que a violência contra a mulher é um crime. Hoje, uma criança de 11 anos sabe que existe uma lei e que não se pode agredir uma mulher ”, afirma.

Assassinato de juíza

Para Rejane Suxberger, a morte da juíza Viviane Vieira pelo ex-marido traz uma reflexão ainda maior sobre os casos de feminicídio no Brasil, por se tratar de uma mulher bem empregada e que tinha empoderamento. “Isso acontece porque a gente ainda vive em uma sociedade na qual a violência de gênero é minimizada e banalizada. É importante destacar que quanto mais independente a mulher fica, menos subordinada ela está e maior é o risco de ela sofrer essa violência”, afirmou.

A juíza também explica que o caso se trata de uma violência vicária, em que as crianças se tornam vítimas secundárias após presenciarem as agressões físicas ou psicológicas. De acordo com Rejane, esse tipo de violência acaba trazendo grandes consequências para a mulher, porque ela acaba abrindo mão de medidas protetivas.

“A mulher tenta ceder aos pedidos e exigências, por exemplo, do encontro no dia de Natal ou encontros no fim de semana, com a esperança de que o agressor pare de cometer a violência, mas, na verdade, isso é um mecanismo que o homem utiliza para continuar perpetuando a agressão”, conta.

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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