Passados nove meses desde o início da pandemia da covid-19 no Distrito Federal, aumentam as expectativas para a chegada de uma vacina eficaz contra o coronavírus. Para além dos estudos clínicos em andamento, é necessária uma logística adequada para receber, armazenar, distribuir e aplicar os inoculantes. Enquanto as vacinas não são liberadas, o Governo do Distrito Federal (GDF) realiza um levantamento das câmaras frias existentes no DF, a fim de determinar quais têm as condições sanitárias necessárias, além de documentação, que permita acondicionar produtos imunobiológicos.
Em nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que está em fase de desenvolvimento um amplo planejamento sobre a estratégia de vacinação da população, com realização de inquérito soroepidemiológico já em andamento, levantamento de instalações que possam ser usadas como postos de vacinação, e estruturação desses locais para receber e armazenar as vacinas. O plano estratégico também prevê a “estruturação do setor de compras públicas, objetivando a aquisição de seringas e contratação de câmaras frigoríficas; e seleção de profissionais de saúde da própria rede pública para a aplicação das vacinas”.
Hoje, uma câmara fria armazena todas as vacinas do calendário vacinal do GDF. “Em virtude da pandemia do novo coronavírus, a pasta está em busca de um local que comporte possíveis vacinas que estão em estudo, após a sua liberação.” A secretaria informou ainda que acompanha as medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde sobre a compra e a aplicação da vacina no Brasil e atua, dentro de suas atribuições, para que a “campanha de vacinação seja executada com êxito em todo o Distrito Federal”.
Ao Correio, o governador Ibaneis Rocha afirmou que aguarda a efetiva liberação da vacina. Segundo ele, não falta à equipe do GDF expertise em vacinação.
Desafios
Farmacêutico e chefe do Setor de Gestão da Pesquisa e Inovação Tecnológica do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Fernando Araujo Rodrigues de Oliveira explica que as dificuldades começam na fabricação, com a produção de quantidades suficientes para atender toda a população. “Se a gente pensar só no Brasil, é um desafio enorme. A partir daí, temos de ter uma condição de transporte e logística de armazenamento que atenda às necessidades de conservação das vacinas. Cada uma tem características próprias.”
Exceto a vacina produzida pela farmacêutica Pfizer, que precisa ficar em temperatura de -70 ºC, as demais devem ser conservadas em temperatura de refrigeração, isto é, entre 2 ºC e 8 ºC. “No HUB, a gente tem refrigeradores e freezers que vão até -80 ºC, e que poderiam armazenar uma vacina como a da Pfizer, mas não é uma estrutura normalmente disponível para a assistência, e sim para pesquisa”, destaca Fernando. “Mas, caso seja necessário, talvez dê para a gente adaptar a infraestrutura para termos vacina aqui também. Não sei se é algo que está no escopo, mas tudo é possível.”
Fernando é um dos coordenadores dos estudos clínicos da vacina chinesa produzida pela empresa biofarmacêutica Sinovac Life Science, a CoronaVac. O estudo acontece em todo o país, sob coordenação do Instituto Butantan. A meta para o DF era alcançar 852 voluntários, todos profissionais da saúde. O objetivo foi atingido, mas os pesquisadores continuam aceitando inscrições, uma vez que nacionalmente são necessários 13.060 participantes.
Distribuição
O Ministério da Saúde fechou parceria para aquisição de mais de 100 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca. Além disso, por meio da aliança Covax Facility, devem chegar outras 42,5 milhões, para um esquema vacinal em duas doses. Em novembro, a pasta sediou encontros também com representantes dos laboratórios Pfizer BioNTech, Moderna, Bharat Biotech (covaxin) e Instituto Gamaleya (sputinik V).
Agora, o governo aguarda validação por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a vacinação de todos os brasileiros. Em reunião com governadores ontem, da qual participou o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, o ministro Eduardo Pazuello afirmou que o ministério elaborou a logística de distribuição nacional das vacinas, que será apresentada em breve.
Como cada vacina demanda um formato de armazenamento, os custos ao consumidor final serão um reflexo direto. A enfermeira Alline Guerra, sócia da clínica Prime Vacinas e especialista em imunização, explica que, a depender da vacina, pode ser necessária a aquisição de refrigeradores específicos, ao custo estimado de R$ 40 mil.
O investimento seria também das transportadoras e produtoras. “Normalmente, as vacinas chegam de avião, do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Elas vêm em caixas térmicas lacradas, com termômetros. As temperaturas são anotadas e elas precisam ser levadas rapidamente para geladeira específica, com gerador que suporta dois dias”, detalha. “O controle é fundamental porque a eficácia está aí.”
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Rastrear o vírus
Desde o início do mês, a Secretaria de Saúde começou a aplicação de testes de covid-19 em moradores sorteados. A ação começou em Ceilândia e passará por todas as regiões até 20 de dezembro. Serão sorteadas 230 pessoas de cada uma das 34 regiões administrativas do DF para participar dos testes. O objetivo do inquérito é rastrear quem carrega o novo coronavírus e quem já tem anticorpos para a doença. Não serão divulgados resultados parciais do estudo, mas a análise de dados deve começar em 18 de dezembro.
DF tem 235.480 casos
O Distrito Federal registrou, ontem, 1.104 novos casos e 10 mortes confirmadas por
covid-19. Ao todo, são 235.480 casos, sendo 95,2% deles recuperados. Do total de óbitos registrados (4.011), 304 moravam no Entorno, o que corresponde
a 1,9% do total; 57,9% são de homens e 85,4% tinham comorbidades. A taxa mortalidade mais alta está na faixa etária de 80 ou mais. A taxa de letalidade chegou a 1,8% e a de mortalidade é de 120,8 por 100 mil habitantes. Segundo o boletim, a taxa de transmissão do vírus na cidade está em 0,93 — esse valor mede a aceleração da pandemia. Os mais altos registrados foram em março, quando o índice chegou a 3,1.
No fim de novembro, essa taxa chegou a 1,3. Valores superiores a 1 indicam que a doença está avançando.