A situação de crise sanitária contribuiu para a redução na criminalidade do Distrito Federal, segundo especialistas. Levantamento da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), divulgado ontem, mostrou que, de janeiro a novembro, houve redução de 7,6% na quantidade de vítimas de crimes violentos letais intencionais (CVLIs), denominação que engloba homicídio, feminicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte.
No caso dos homicídios, houve redução de 378 para 345 casos (8,7% a menos), no acumulado do ano. Novembro, segundo a SSP-DF, registrou o menor número de assassinatos em 21 anos para o mês, assim como observado nos demais CVLIs. Em relação a novembro de 2019, a diminuição desse tipo de caso foi de 14,3%.
Especialista em segurança pública e professor do Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Júlio Hott considera que a pandemia e a consequente redução no fluxo de habitantes nas ruas da capital federal tiveram papel determinante para a redução dos crimes. “A violência está diretamente relacionada ao contato entre as pessoas. O conflito tem muito a ver com a circulação delas”, avalia. Além disso, o especialista acredita que a crise sanitária pode ter gerado efeitos emocionais que culminaram na redução da criminalidade. “A sensação de ser vítima de uma pandemia traz, também, repercussão sob o aspecto psicológico. As pessoas tendem, nesse momento, a serem mais solidárias, menos agressivas”, completa.
No entanto, Júlio Hott menciona um terceiro aspecto, relacionado à possibilidade de haver subnotificação, devido ao impacto da crise sanitária nos serviços de segurança pública, além do fato de algumas vítimas preferirem não registrar boletim de ocorrência neste momento. “Um menor atendimento contribui para a diminuição. O fato de o serviço público, a agência policial e o serviço policial responsável pelo registro funcionarem de forma bastante precária represou um pouco essa violência”, opina o professor.
Movimentação
Em relação a feminicídios cometidos entre janeiro e novembro, a queda foi de 56,6%. O levantamento da pasta indicou, também, a ausência de registros desse tipo em fevereiro, maio, outubro e novembro. “O combate a esse crime tem sido prioridade para o Governo do Distrito Federal, por meio da Segurança Pública local. O DF é destaque no país em relação ao combate à violência contra a mulher. A redução mostra que a prevenção, por meio de campanhas e ampliação dos canais de denúncia — como é o caso dos registros on-line, da inauguração da Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) II, em Ceilândia, e das visitas do programa de Prevenção Orientada à Violência Doméstica (Provid) —, tem surtido efeito”, afirma o chefe da SSP-DF, Anderson Torres.
Crimes contra o patrimônio, como roubo a pedestre, a veículos, em transporte coletivo, em comércios, a residências e furtos em veículos também demonstraram queda, segundo o levantamento da SSP-DF. A redução foi de 32,9% no acumulado do ano e de 45% a menos do que o registrado em novembro de 2019. No caso de roubos em transporte coletivo, a queda foi de 61%, comparado a novembro de 2019. Em seguida, as reduções mais expressivas foram nos casos de furto de veículo (-51%), roubo a comércio (-50%), roubo a transeunte (-42%) e roubo de veículo (-41,1%). Os roubos a residência durante o ano caíram para 21 registros, menos da metade que os contabilizados no ano passado (52).
O secretário Anderson Torres ressalta que o objetivo é manter os números em queda por meio de políticas públicas. “Lançamos, no último mês, o programa DF Mais Seguro. Entre outras ações, ele tem o projeto Cidade da Segurança Pública, que percorrerá regiões administrativas selecionadas por meio de análises e critérios definidos pela SSP-DF. Além disso, continuamos, pelo quarto mês consecutivo, com a Operação Quinto Mandamento, que tem como objetivo a redução desses crimes (CVLIs)”.
Para Leonardo Sant’Anna, especialista em segurança pública, a mudança de comportamento da população é a principal causa para a alteração dos índices. A suspensão de atividades como eventos com aglomeração e do funcionamento de bares, em especial, gerou grande impacto nas estatísticas. “Espaços que, normalmente, eram áreas de potenciais problemas por parte de criminosos — como casas noturnas, bares ou eventos de maneira geral — ficaram interrompidos (durante parte do ano). Tudo isso, claramente, acaba trazendo uma redução muito grande na criminalidade”, argumenta Leonardo.
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