DATA ESPECIAL

Dia da Astronomia: especialistas de Brasília explicam a origem da data

Astrônomos compartilham curiosidades e fatos sobre a ciência responsável por estudar e tentar desvendar os mistérios do universo. Amanhã, comemora-se o Dia Nacional da Astronomia, data escolhida em homenagem a Dom Pedro II, entusiasta desse campo do conhecimento

Cibele Moreira
postado em 01/12/2020 06:00
 (crédito: Editoria de Ilustração)
(crédito: Editoria de Ilustração)

“No mundo da lua”. Para alguns, a frase pode se referir a alguém desligado, desatento, mas, para outros, a expressão vai muito além. Profissionais e entusiastas da astronomia contam ao Correio curiosidades e fatos marcantes sobre a ciência responsável por estudar fenômenos e corpos celestes que compõem o universo. Desde a antiguidade, a astronomia tem impactos na vida cotidiana. Por exemplo, a forma como contamos os dias do ano, as estações meteorológicas e as horas. Para homenagear os profissionais que atuam nessa área, amanhã se celebra o Dia Nacional da Astronomia. A data faz referência ao aniversário de Dom Pedro II, um astrônomo amador e aficcionado por esse campo do conhecimento.

O professor de física da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Eduardo Brito, 54 anos, conta que Dom Pedro II foi um dos principais divulgadores da astronomia no país. “Ele teve como professor o Luís Cruls, que foi um dos primeiros docentes de astronomia no Brasil, e, também, ficou marcado como responsável pela Missão Cruls, de 1892, que transferiu a capital para o Distrito Federal”, relata Brito. De acordo com ele, Dom Pedro II foi uma das pessoas que promoveram a arte de observar o universo com a criação do Observatório Nacional, situado no Rio de Janeiro.

A astronomia acadêmica existe há pouco tempo no Brasil. “Muitos dos astrônomos são formados em física e fazem mestrado na área de astrofísica. Muito disso, parte do princípio que a astronomia utiliza bastante informação de estudos físicos. Mas, a astronomia é uma ciência transversal que passa por todas as áreas dos saberes, como geografia, história, filosofia, psicologia, matemática”, enumera Paulo Brito, que iniciou a trajetória como professor de astronomia quando o filho tinha 9 anos. “A professora dele, sabendo que sou formado em física, me pediu para dar uma aula sobre os planetas, e eu fui. Criei a constelação, foguetes. Gostaram tanto que me pediram para fazer o mesmo com o turno da tarde. Tomei gosto e comecei a ser um grande divulgador da astronomia com o projeto Escolas nas Estrelas que leva oficinas e um planetário inflável para dentro das instituições de ensino”, conta o professor, que atua tanto na formação de estudantes da educação básica quanto na do ensino superior. “É bastante gratificante. O sujeito que estuda astronomia acaba sendo um poeta. Ele não vê apenas a beleza dos planetas, vê estrelas de 600 anos atrás. Não dá para descrever a grandiosidade disso”, pontua.

Brito ainda explica que o estudo da astronomia é composto por quatro eixos principais: a astronáutica, que cuida da engenharia com a construção de foguetes, satélites e sondas espaciais; a observacional, que observa os planetas e fenômenos; a astrofísica, que estuda a composição e o comportamento dos astros no céu; e a cosmologia, que aponta modelos matemáticos referentes ao universo como um todo. Entre os grandes nomes da história que marcaram a astronomia está o físico Galileu Galilei, que construiu o primeiro telescópio e pôde observar as quatro luas de Júpiter; além de Albert Einstein, pai da Teoria da Relatividade; e do astrônomo Isaac Newton, que desenvolveu a Lei da Gravidade.

Paixão

Astrônomos amadores têm uma grande contribuição para os estudos e pesquisas dentro da ciência. O servidor público Marcelo Domingues, 49 anos, é um desses entusiastas. A paixão pelos astros começou na infância, quando ocorreu um eclipse solar. “Lembro que era algo muito esperado. Na época, eu morava em Ceilândia, e todos na rua estavam na expectativa para ver o eclipse. As crianças subiram nos telhados para observarem o fenômeno, que era novidade. Ver o dia escurecer. A partir daquele momento, comecei a me interessar pelo assunto”, lembra Marcelo.

Em 1986, após a aparição do cometa Halley, a oferta de informações sobre o tema aumentou, assim como a paixão de Marcelo. “Meu pai sempre me incentivou e comprou várias revistas sobre o tema. Aos 13 anos, ganhei uma luneta, e isso foi incrível”, frisa. Ao longo dos anos, a curiosidade se tornou um hobbie e, em 2002, Marcelo Domingues entrou no Clube de Astronomia de Brasília, voltado para estudiosos, profissionais e amadores. “Sempre acompanhei as novidades envolvendo a astronomia, mas não tinha nenhum aparato de observação. Quando entrei no Clube de Astronomia, comecei a comprar os equipamentos”, relata. Atualmente, ele tem um pequeno observatório em casa, em Sobradinho, composto por dois telescópios e três câmeras de monitoramento de meteoros.

Marcelo tem auxiliado pesquisas astronômicas em Brasília com informações obtidas em seu laboratório caseiro. “A última foi o registro de 116 chuvas de meteoros, que descobri junto com um grupo de astrônomos brasileiros. Os dados coletados na minha casa contribuíram para esse estudo”, comemora. Em uma dessas descobertas, ele observou o momento em que um asteroide ocultou uma estrela. “Eu fui o único que conseguiu registrar o fenômeno”, afirma. “Para mim, é uma satisfação pessoal e uma experiência incrível”, comenta. De acordo com Marcelo, o Distro Federal tem uma característica favorável para observar as estrelas e os planetas. “Temos as estações meteorológicas bem definidas. De maio até setembro, o céu está sem nuvens, o que possibilita melhor visibilidade”, ressalta.

Planetário

O professor Adriano Lêones, 33 anos, fez da astronomia sua principal fonte de renda. Ele trabalha há oito anos no Planetário de Brasília como educador sobre o estudo dos astros e planetas. A trajetória de Adriano começou na universidade, quando, na disciplina do curso de ciências naturais, ele pôde observar, pela primeira vez, o universo por meio de um telescópio. A experiência foi tão importante que Adriano fez uma especialização em astronomia e, desde 2011, atua na área. “Nesse período de pandemia, o planetário teve de fechar para a visitação, e as pessoas puderam voltar os olhos para o céu. No próximo 21 de dezembro, inclusive, é uma boa oportunidade de a população ver o fenômeno de aproximação dos planetas Júpiter e Saturno, que estarão bem próximos da Terra”, adianta o astrônomo.

Conheça

Para quem quiser visitar o Planetário de Brasília, apenas as exposições estão abertas. O horário de funcionamento é das 9h às 17h, de terça-feira a domingo. A entrada é gratuita.

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    . Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 11/4/14
  • Servidor público e astrônomo amador, Marcelo Domingues montou um observatório em casa, em Sobradinho. Ele coleta dados e contribui para a pesquisa astronômica brasiliense
    Servidor público e astrônomo amador, Marcelo Domingues montou um observatório em casa, em Sobradinho. Ele coleta dados e contribui para a pesquisa astronômica brasiliense Foto: Arquivo pessoal
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