Amigos e familiares se despediram de Jonas Pereira da Silva, 21 anos, na manhã desta segunda-feira (30/11). O velório e enterro ocorreram no cemitério Campo da Esperança de Planaltina. O jovem morreu durante a prática de slackline, no último sábado (28/11), em um vale próximo ao Pólo de Cinema de Sobradinho. A morte de Jonas comoveu a comunidade highline de Brasília.
Em "Uma carta para Jonas", os praticantes de slackline se referem ao jovem como "um atleta prodígio" e relembram a trajetória de Jonas ao longo dos últimos quatros anos."É muito mais importante dizer quem foi o atleta Jonas Pereira para que Brasília entenda o tamanho da perda que nossa cidade teve nesse fim de semana", inicia a carta. (Leia na íntegra abaixo).
No momento do acidente, ele utilizava a cadeirinha para evitar quedas mas, segundo uma testemunha disse à polícia, ele esqueceu de conectar uma argola à fita. O óbito foi constatado pela equipe médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que auxiliou nas buscas e resgate.
Nas redes sociais várias mensagens de carinho foram publicadas. Para a comunidade Highline de Brasília, a perda não foi só de um atleta, mas de um amigo. "No dia do acidente, Jonas estava feliz com a oportunidade de caminhar em mais um highline. Seus amigos, sua dedicação e as próprias redes sociais mostram que o highline era parte fundamental da vida de Jonas. Essa foi uma comunidade em que ele pode dar muito amor e receber muito amor também", diz a carta.
Uma carta sobre Jonas
É muito mais importante dizer quem foi o atleta Jonas Pereira para que Brasília entenda o tamanho da perda que nossa cidade teve nesse fim de semana. Ele se iniciou no highline há quatro anos. O esporte consiste em caminhar sobre uma fita de slackline em grandes alturas. Apesar de parecer um esporte radical e perigoso, é a modalidade em que lesões e fatalidades são mais raras.
Em 40 anos de esporte as fatalidades ainda não chegaram na casa das dezenas. Os equipamentos utilizados vem da escalada, que exige muito mais segurança que os riscos empregados no Highline. São necessárias três toneladas para romper qualquer peça do sistema do esporte.
Jonas sempre foi conhecido como um atleta prodígio. Na primeira experiência com o highline, o jovem atravessou sem quedas uma via de highline em que o seu professor demorou dois anos para conseguir atravessar.
Em 2019, ele atravessou sem quedas a maior via da região se tornando um dos quatro atletas brasilienses a realizar esse feito. Jonas também foi um dos realizadores do maior festival de highline do Brasil até então, além de ter trabalhado em outros festivais pelo Brasil. Também participou de projetos de aberturas de vias de highline em várias cachoeiras e canions de Goiás, consagrando-o, nesses 4 anos, um dos atletas mais experientes de Brasília e reconhecido como um dos, senão o mais, habilidoso da cidade.
A primeira vez que Jonas praticou highline no local do acidente foi há um ano atrás, quando fez parte da equipe de montagem de uma das maiores vias de highline do Brasil, com mais de 500 metros de comprimento. Jonas também foi um dos poucos atletas brasileiros que conseguiu atravessar uma via desta dimensão.
No dia do acidente, estava ele e mais três atletas, igualmente experientes, na intenção de montar uma via de highline com 300 metros de comprimento. A montagem ocorreu bem e Jonas decidiu ser o primeiro a entrar na via. Antes de caminhar sobre o highline, ele colocou sua cadeirinha de segurança corretamente, conforme avaliou a perícia da polícia, e se prendeu à fita com mosquetões para se preparar para sua caminhada e melhorar a disposição da fita. A fita de highline demora um pouco para se “amaciar", então a primeira pessoa a caminhar, normalmente, faz alguns ajustes para facilitar a prática.
Nesse momento de distração, Jonas esqueceu de se amarrar à corda de segurança principal para caminhada. Após terminar esses ajustes, Jonas se soltou dos mosquetões e iniciou sua caminhada como se estivesse com a corda de segurança. Ele ainda caminhou 42 metros antes de cair. A médica dos bombeiros informou que a morte foi instantânea. No momento do resgate, os bombeiros estavam preocupados com a dificuldade de acesso ao local e pediram para que o highline fosse retirado para facilitar o acesso do helicóptero de salvamento.
No dia do acidente, Jonas estava feliz com a oportunidade de caminhar em mais um highline. Seus amigos, sua dedicação e as próprias redes sociais mostram que o highline era parte fundamental da vida de Jonas. Essa foi uma comunidade em que ele pode dar muito amor e receber muito amor também. A comunidade internacional de Highline esta ciente e de luto por esta grande perda.
O lema de Jonas e da comunidade de highline de Brasília - seus amigos - sempre foi “escolha a vida”.
Os amigos lembram que a frase iria ser tatuada pelo atleta.
O highline ensina sobre escolher viver.
Jonas será vivido e lembrado.
Seus amigos prometem que muitas vias de highline serão batizadas com seu nome.
Desejos de conforto a família e a todos os amigos,
Comunidade de Highline de Brasília.