O corpo de Jonas Pereira da Silva, 21 anos, será velado e enterrado na manhã de hoje, no cemitério Campo da Esperança de Planaltina, em cerimônia fúnebre das 9h às 11h.
O praticante de slackline morreu no sábado, após cair de uma altura de, aproximadamente, 50 metros. O jovem utilizava a cadeirinha para evitar quedas, mas se esqueceu de conectar uma argola à corda. Para familiares e amigos, Jonas deixa a lembrança de uma pessoa “motivadora” e “cativante”.
O jovem sofreu o acidente em uma área de vale próximo ao Pólo de Cinema de Sobradinho, a qual é conhecida e utilizada por praticantes do esporte. No sábado, Jonas se deslocou ao local após o convite de dois amigos, como explica a companheira do rapaz, Alice Cristina Medeiros, 21 anos. “Ele saiu de casa na sexta-feira, no Gama, para ir visitar a família, em Planaltina. O Jonas dormiu por lá e, sábado, antes de retornar, decidiu fazer o highlight com os amigos no vale. O local foi apelidado por ele e colegas como ‘Costão do Maylon’, em referência ao cachorro de um amigo”, relata a empreendedora, que reside no Gama.
A esportista chegou a tirar fotos do momento em que um amigo dele montava a corda de uma ponta a outra do vale, instalando, inclusive, o equipamento de proteção para a prática da modalidade.
Em depoimento inicial prestado aos investigadores da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho 2), uma das testemunhas relatou que a vítima esqueceu de utilizar uma peça fundamental de proteção para a prevenção de queda de altura.
“Jonas estava de cadeirinha, porém, esqueceu de amarrar o equipamento à corda por meio de uma argola de segurança, conhecida como ‘anel do leash’, tratando-se de um anel sólido colocado em volta da fita de travessia, justamente para que, em caso de queda, o atleta permaneça atrelado à fita, pendurado”, relatou a testemunha, conforme apurado pelo Correio.
Inicialmente, o caso foi registrado como homicídio culposo. Contudo, a Polícia Civil destacou que “trata-se de ocorrência de morte acidental ainda sem causa definida, sabendo-se apenas que um praticante de esportes radicais faleceu após queda de grande altura. (...) A ocorrência foi registrada em princípio como ‘homicídio culposo’, com natureza em apuração, para melhor esclarecimento do acidente.”
Segundo o delegado João de Ataliba, chefe da 35ª DP, o registro da ocorrência será alterado para “morte em apuração”. O corpo de Jonas foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML) e peritos determinarão a causa do óbito. Ainda, especialistas poderão confirmar a versão apresentada por um amigo da vítima em depoimento inicial. “Nesta semana, as testemunhas prestarão novos esclarecimentos sobre a dinâmica do acidente”, informou o investigador.
Homenagens
Jonas praticava slackline havia cerca de seis anos e chegou a participar de diversos festivais da modalidade esportiva. Inclusive, foi recordista do desporto. Nas redes sociais, o jovem registrava os momentos em cima da corda e a paixão pela natureza. “Desde novo, ele acordava às 6h para poder ouvir os passarinhos cantarem ao amanhecer e meditar. O esporte também era um modo de ele se aproximar ainda mais da natureza”, afirma Alice.
O empreendedor morava em Planaltina com a avó, mas desde junho, passou a residir com a namorada, no Gama. “Ele diminuiu um pouco o ritmo depois que passamos a morar juntos e abrimos a loja de joias em macramê. O Jonas era experiente, mas, por um deslize, acabou morrendo de forma tão inesperada. É um choque e uma tristeza muito grande”, diz a jovem, emocionada.
“O destino me fez conhecê-lo ali, no vale, em janeiro. Foi amor à primeira vista, por mais clichê que pareça. Tínhamos uma conexão muito forte. Por algum motivo, ele também acabou morrendo naquele lugar, onde tivemos nosso primeiro encontro, em um evento de slackline”, relatou.
Patrícia Maranhão Silva, 40, tia de Jonas, descreve o jovem como “cativante e inspirador”. “Ele era uma pessoa muito alegre, bacana, carinhoso, dedicado e que amava a natureza, os animais. Sem palavras o que estamos sentindo. Ele tinha o dom de cativar as pessoas, de incentivar e inspirar quem estava próximo a ele”, disse.
A tia relata que a mãe de Jonas o alertou diversas vezes para os perigos da atividade. “A família não gostava quando ele praticava isso. Sempre achamos muito perigoso. A mãe dele cansou de pedir para que ele parasse de brincar com isso”, destacou.
Nas redes sociais, amigos prestaram homenagens ao colega. “O highline é menos hoje e o céu nunca teve ninguém tão preparado para as alturas! Te amo demais meu irmão! Você foi meu mestre, meu melhor aluno e o amigo mais incrível que já passou pela minha vida, obrigado por ter compartilhado sua vida comigo! Eu te amo”, escreveu um dos amigos.
Em outro comentário, um internauta lamenta: “Vá em paz, guerreiro do equilíbrio. Força para família e amigos.” Em 2015, Jonas chegou a publicar uma foto no Instagram machucado, em que disse: “Pequenos erros podem levar a uma grande consequência. Slackline.”
» Torres gêmeas
Baseado em fatos reais, o filme A Travessia conta a história de Philippe Petit, um equilibrista francês, que ganhou notoriedade após atravessar as Torres Gêmeas usando apenas um cabo. Apesar da ilegalidade, a aventura chamou a atenção na época, em 1974.
» Para saber mais
Equilíbrio nas alturas
Iniciado em 1980 no Vale de Yosemite, nos Estados Unidos, o slackline tomou proporção mundial e atrai, cada vez mais, crianças, jovens e adultos. A atividade consiste em se equilibrar em uma fita estreita de nylon ou de poliéster, que fica presa em dois pontos fixos. Também conhecido como “corda bamba”, o slackline ganhou notoriedade no Brasil em 2010, especificamente no Rio de Janeiro, quando se popularizou nas praias do estado fluminense. O esporte é composto por mais de sete modalidades distintas. Uma delas é o highline, praticado por profissionais experientes em alturas superiores a cinco metros. Nesse caso, é necessário utilizar equipamentos de segurança, como a cadeira de montanhistas, que fica presa ao corpo do praticante. Para os iniciantes, a modalidade indicada é o soulline, onde o esportista fica em altura bem baixa. Há, também, a oportunidade de praticar yoga em cima da fita, que se chama yogaline. Para quem prefere a adrenalina de estar sobre as águas, seja em piscinas, rios ou praias, o indicado é o waterline.