Com a chegada do Natal, o espírito de solidariedade ganha mais força mesmo em um ano conturbado por causa da pandemia. Pensando nisso, ao comprar em brechós que destinam o dinheiro das vendas a instituições sociais, os consumidores podem aproveitar para fazer as comprinhas pagando um preço mais em conta e ajudar pessoas carentes.
Recentemente, quem aderiu aos brechós foi a Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Mercês, na 615 Sul. Em novembro, o centro religioso inaugurou o Art’Brechó, que vende peças de roupas, calçados e artesanato a partir de R$ 5. O dinheiro arrecadado com as vendas é todo direcionado aos projetos sociais mantidos pela igreja.
Segundo o pároco e responsável pela loja, frei Rogério Soares, a paróquia faz distribuição de cestas básicas, acolhe dependentes químicos e monta enxovais para bebês carentes. “O lucro do brechó ajuda a fomentar esses projetos. Temos um plano de ter assistentes sociais para melhor atender os pobres na igreja”, afirma.
No entanto, apesar da motivação social, a ideia de montar o comércio surgiu com o gosto de Rogério pelos brechós. “Sempre gostei do conceito. Pensar que alongamos a vida útil de uma roupa ou calçado e, ainda, fazer dinheiro com isso me encanta, e sei que estou ajudando a natureza”, explica.
Outra iniciativa que promove ações solidárias com a venda de roupas usadas é o brechó Peça Rara. A marca está no mercado há 14 anos e tem o projeto “Eu sou peça rara”, desenvolvido com o objetivo de destinar recursos a instituições sociais. “Por meio desse projeto, pegamos as doações que a gente não seleciona para a venda, além das peças que são devolvidas, e transformamos em arrecadação de dinheiro para dar suporte a creches carentes. Também fazemos doações diretas dos produtos para as instituições”, explica a dona do brechó Bruna Vasconi, de 40 anos.
A proprietária esclarece que, às quintas-feiras, as peças de roupas, doadas pelos clientes ao longo da semana nas sete lojas, são encaminhadas para a unidade da 307 Sul. Nas sextas-feiras, acontecem as seleções do que irá para o trailer “Eu Sou Peça Rara”. Aos sábados, das 10h às 14h, as peças ficam à disposição para quem quer adquirir os produtos e contribuir para o projeto.
Todo o valor arrecadado com as vendas é destinado para instituições credenciadas para viabilizar a compra de alimentos, medicamentos e pagamentos de contas, como água e luz. Atualmente, três instituições recebem apoio do Peça Rara: a creche Pedacinho do Céu, Casa do Carinho e o Lar Bezerra de Menezes.
Além das doações de produtos, as pessoas podem ajudar com trabalho voluntário no dia dos eventos promovidos com o propósito de arrecadar dinheiro para as instituições. O serviço pode ser feito tanto na hora da organização, quanto no dia das vendas. O próximo evento ocorrerá entre 5 e 6 de dezembro.
Bazar da solidariedade
Há mais de 23 anos, o Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho, realiza bazares para ajudar na manutenção da instituição. “A ideia surgiu da necessidade. Foi uma iniciativa pensando no bem da instituição e em outras formas de arrecadar recursos para manter os serviços do lar”, explicou a psicóloga e coordenadora do espaço, Priscila Fernandes, 28 anos.
Em 2017, a instituição conseguiu um lugar no Sobradinho Shopping para inaugurar a loja “Do Bem” e realizar a venda de roupas, sapatos, acessórios e, até mesmo, de móveis e eletrônicos. A diretora voluntária, Inês Miranda, 62, explica que, a partir das doações que o Lar dos Velhinhos recebe, é feita uma seleção do que pode ser aproveitado para os idosos. O restante é encaminhado para a venda no bazar.
Segundo Inês, o dinheiro adquirido com as vendas ajuda a pagar algumas contas da instituição, que, atualmente, acolhe 70 idosos, entre homens e mulheres. Neste ano, o dinheiro arrecadado com as vendas também ajudará na festa de comemoração de Natal, que será organizada com todo cuidado possível por causa da pandemia. “Vai ser um Natal diferente este ano, mas pretendemos fazer alguma comemoração com as restrições necessárias para garantir a segurança de todos”, contou Inês.
Paixão pelos brechós
Comprar produtos em brechós é uma prática antiga na casa da advogada Karin Kasbergen, 42 anos, moradora do Plano Piloto. A paixão dela começou com uma tia que sempre gostou desse tipo de loja, e hoje, ela passa esse costume para a filha Sofia. “Vivia escutando histórias de como é legal procurar produtos interessantes e em conta”, disse. Karin começou a frequentar brechós procurando por uma das paixões dela, as bolsas.
Além das bolsas, a advogada adora a Disney e começou a colecionar bonecas de pano de personagens que fazem parte dos filmes mais famosos. “Comecei minha coleção após ver uma boneca em um brechó. Com o tempo, o acervo foi crescendo. Nem todas consegui encontrar nesse tipo de loja, mas, ao menos, a metade foi comprada em brechós”, afirma.
Durante uma de suas compras, a advogada conseguiu encontrar dois abajures espanhóis raros, e se encantou com a origem dos itens. “As meninas do brechó me contaram a história que esses produtos eram de uma senhora que morou na Espanha, que havia comprado os abajures em uma cidade perto de um convento que ela tinha visitado, e o material usado para confeccionar é raro”, conta.
A funcionária pública Myriam Eduardo, 49, também assume sua paixão por brechós. A moradora da Asa Sul conta que compra de tudo: roupas, sapatos, bolsas, objetos de casa, móveis, livros e discos. “Acho inteligente e importante esta prática pelo simples fato de que são produtos em excelente estado, muitas vezes nem chegaram a ser usados de verdade e ganham uma nova vida nas mãos de outras pessoas, além dos preços que são muito convidativos”, aponta.
No entanto, além de comprar, Myriam gosta de contribuir com doações. “Sei do capricho que alguns brechós têm na curadoria das peças. Gosto muito da prática de garimpar coisas interessantes nessas lojas, e quando forneço algumas peças, penso sempre em como elas serão ótimas para quem comprá-las”, finaliza.
Comprar em bazar faz parte da vida do estudante Matheus Ferreira, 23, há um bom tempo. “Desde de sempre gostei de comprar roupas em brechós. Minha avó é costureira e isso foi uma abertura de caminho para mim. Eu gosto de customizar algumas roupas que eu compro e é bem mais fácil fazer isso quando você paga pouco em uma peça”, explicou o estudante.
Além do preço, outra vantagem que Matheus vê ao adquirir uma roupa usada é contribuir para o meio ambiente. “Ao comprar nos bazares, eu estou tirando uma roupa que poderia ir para o lixo e colocando no guarda-roupa”, disse.
* Estagiários sob a supervisão de Adson Boaventura