Natal pode remeter a família reunida, festa e fartura. Mas, para muita gente, a realidade não é essa. Quem vive em situação de rua vê a data como outra qualquer: mais um dia enfrentando dificuldades como fome, frio e a invisibilidade. Na tentativa de tornar esse dia um pouco mais especial para os que precisam, brasilienses e empresas locais dedicam-se a projetos sociais e ações solidárias, como caixinhas de Natal e arrecadação de dinheiro, cestas básicas ou roupas.
Este é o terceiro ano consecutivo que a empresária Mariana Barboza, 33 anos, coloca uma caixinha de Natal na loja de maquiagem dela, em Ceilândia. A ideia surgiu após uma ocasião em que uma jovem em situação de rua entrou no estabelecimento para pedir comida. “Ela era linda. Muito nova. Aquilo mexeu muito comigo, porque ela devia ter minha idade, e estávamos perto das festas de fim de ano. Na hora em que ela chegou, eu estava conversando com minha mãe sobre nossa ceia de Natal”, recorda-se.
Além de alimento, a jovem pediu um batom rosado, para usar nas festas de fim de ano. À época, Bárbara não disponibilizava caixinhas de Natal na loja, mas juntou-se a amigas e arrecadou dinheiro, cesta básica e uma roupa, para o fim de ano. “Não foi muita coisa, mas ela voltou dias depois para buscar (as doações) e saiu toda feliz. Aquilo valeu por todo o meu ano. Desde então, faço esse tipo de ação. Mesmo que a gente arrecade pouco das clientes, conseguimos ajudar algumas pessoas em situação de rua. O resultado é o que importa. Ver pessoas felizes”, destacou a empresária.
O fim de ano mobiliza outros moradores do DF interessados em fazer boas ações. À frente do projeto Me Ajude a Ajudar, Carol Strazer, 39, recebe contribuições, por meio de caixinhas de Natal, assim como roupas, cestas básicas e utensílios domésticos, para doar a quem vive em situação de rua nas regiões periféricas da capital federal. A iniciativa começou no fim do ano passado, com recursos da própria publicitária.
Antes do início da pandemia da covid-19, Carol percebeu que precisaria criar uma rede de apoio para dar continuidade às campanhas durante o resto do ano. “Acionei a comunidade e, com a crise, sentimos necessidade de apoiar mais pessoas. Focamos em regiões como Ceilândia, Taguatinga, Pôr do Sol. Fizemos várias campanhas lá”, relata.
No Natal, a proposta é fazer três ceias para as pessoas atendidas, uma em cada cidade de atuação. “Queremos fazer uma festa completa, com frutas, panetone, igual fazemos em nossa casa. Acredito que vamos atingir essa meta, porque muitas pessoas se envolvem, e temos parceria com o Rogério Barba, que é padrinho da iniciativa e faz ações por todo o DF”, diz Carol. O grupo recebe doações de roupas e cestas básicas, mas, para comprar alimentos perecíveis da festa natalina, contribuições em dinheiro são bem-vindas (leia Como doar).
Colaboradores
Desde que assumiu o cargo de síndica de um condomínio em Águas Claras, há três anos, a empresária Juliana Domiciano Moura, 42, disponibiliza caixinhas de Natal. O valor arrecadado é distribuído entre os nove funcionários do prédio. Em 2019, cada um recebeu R$ 140, além de uma cesta de Natal. “Para conseguir arrecadar mais, colocamos uma caixa em cada entrada, com antecedência. Aqui (no condomínio), o pessoal é solidário e contribui. Temos sempre bons resultados”, conta Juliana.
Antes de chegar ao DF, a síndica morava em Goiânia, onde começou a iniciativa. Para ela, o mais importante é ver a gratidão da equipe de funcionários. “Eles são muito prestativos, se dão bem com todos e são daquelas pessoas que abrem a porta para alguém passar — sendo que nem é trabalho deles —, mas fazem com alegria. Isso é motivador”, comenta Juliana.
Todo ano, a empresária e a subsíndica do condomínio, a veterinária Carolina Prada Freitas, 30, promovem uma confraternização no prédio, com direito a amigo-oculto. Desta vez, devido à pandemia, a comemoração de cada um será em casa. “Uma vez, o Messias, um dos mais novos funcionários, chorou quando recebeu o valor (da caixinha), porque ele mora com a avó, e ela estava doente à época. Ele ficou muito emocionado quando viu o valor, e ficamos felizes com isso. Se, em cada condomínio, fizessem algo assim pela equipe, tudo seria melhor. Eles se sentem valorizados”, completa Juliana.