A desigualdade social que afeta o dia a dia da população negra pode ser invisível aos olhos de quem não sofre preconceito e não consegue enxergar as barreiras do outro, mas fica clara quando se analisam pesquisas sobre a população do Brasil e da capital federal. A Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) divulgou dados que sintetizam a realidade dos moradores negros do DF. A pesquisa mostra que os não negros trabalham em jornadas de trabalho menores e recebem uma remuneração maior.
A análise foi realizada com base na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), em razão do Dia Nacional da Consciência Negra, nesta sexta-feira, 20 de novembro. Os dados mostram que os homens negros têm, em média, 41 horas de trabalho por semana, com rendimento mensal de R$ 3.229. Os homens não negros, por outro lado, têm uma jornada semanal de 40 horas, com rendimento por mês de R$ 5.871.
A desigualdade também é marcante no trabalho das mulheres. As negras do DF têm 38 horas de serviço por semana e recebem R$ 2.646 por mês, enquanto as não negras trabalham o mesmo tempo, em média, e contam com rendimento de R$ 4.696. “Os homens negros tinham a maior jornada média de trabalho semanal, 41 horas, independente disso, seu rendimento mensal era inferior ao das mulheres não negras, que trabalhavam três horas a menos por semana. As mulheres negras continuaram a receber os menores rendimentos médios, entre abril e setembro de 2020”, destaca o texto da Codeplan.
Desemprego
A pesquisa analisou ainda as dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Embora os negros sejam 57,6% da população do DF, eles representam 72,6% dos desempregados na capital. “De abril a setembro deste ano, 63,8% dos negros com idade igual ou superior a 14 anos participavam do mercado de trabalho brasiliense, em busca de ocupação. Porém, mais de um quinto dessa força de trabalho negra permaneceu desempregada durante esse período (22,3%)”, pontua a Codeplan.
As mulheres negras encontram ainda mais barreiras. Elas compõem o segundo maior grupo da População Economicamente Ativa do DF, 30,9%, mas representam a maior parcela dos desempregados, 39,3%. No recorte das Regiões Administrativas, observa-se que apenas 33,1% dos moradores de locais de alta renda da capital são negros, enquanto 66,6% dos habitantes de RAs de média-baixa renda são negros.
Em um dos caminhos para se alterar esses cenários, a educação, percebe-se na pesquisa um aumento da proporção de negros com ensino superior. Entre 2011 e 2018, essa taxa aumentou de 15,3% para 24,6%. Porém, apenas 14% dos jovens negros possuem a oportunidade de cursar o ensino superior.