VIOLÊNCIA

Moradores de Ceilândia reclamam da sensação de insegurança

O rápido crescimento populacional da cidade tem reflexos diretos nas questões urbanas, inclusive na segurança pública

Ceilândia é, hoje, a cidade mais populosa do Distrito Federal. Dados da Codeplan mostram que 432.927 pessoas moram na região administrativa. O rápido crescimento populacional tem reflexos diretos nas questões urbanas, inclusive na segurança pública. Maria Helena de Souza, 72 anos, vive em Ceilândia Norte há 40 anos e teme a violência da região. Ela conta que foi assaltada na porta de casa. “Eu vejo a insegurança como um problema de proteção ao criminoso. Temos muitas leis que resguardam esses bandidos e quem sofre é a comunidade”, argumenta.

Por medo, ela evita sair de casa à noite e leva apenas o documento de identidade. “Não carrego mais celular ou qualquer outro pertence. Isso é ruim, porque estamos ficando reféns dos bandidos e doentes por causa disso. Não culpo a polícia, pois sei que ela faz o trabalho correto, mas, sim, as leis da Justiça”, defende.

Raízes históricas

Para estudiosos, a violência vista na cidade tem raízes históricas. Leonardo Sant’Anna, especialista em Segurança Pública, professor do Instituto Superior de Ciências Policiais (ISCP) e ex-consultor da Organização das Nações Unidas (ONU), explica que, desde a criação, Ceilândia tem características, como a falta de infraestrutura, que não permitem o convívio social saudável. “Não tem emprego, escola, saúde, e esses são os componentes que, quando colocados nesse caldeirão, são os grandes iniciadores de conflito social e da violência”, destaca.

Além disso, o volume populacional é incompatível com o número de policiais nas ruas. “E, a partir dos anos 2000, a presença do crime organizado e narcotráfico se valem desse cenário para crescer de forma exponencial”, salienta o especialista. Com a pandemia da covid-19, no entanto, o volume de crimes diminuiu. Entre janeiro e outubro deste ano, um latrocínio foi registrado na região administrativa. No mesmo período do ano passado, foram quatro. Em 2020, houve 22 tentativas do crime, contra 37, em 2019. Leonardo explica que, embora a prática esteja menos recorrente, elas se tornaram mais agressivas. “A gente tem uma menor quantidade, mas, nas poucas ocorrências, percebe-se maior nível de violência”, reforça.

Leonardo aponta a tecnologia como principal solução para o problema. “Aumento de efetivo não vai ocorrer, e, mesmo se acontecer, será em desequilíbrio com o aumento da população. O que tem sido utilizado no mundo inteiro é a aplicação de tecnologia, com uso de câmeras e sistemas analíticos capazes de apresentar soluções”, considera.

Monitoramento

Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), existem 928 câmeras de videomonitoramento fixas e móveis instaladas no DF, das quais 728 estão ativas e transmitindo imagens em tempo real para o Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob). “Cabe ressaltar que alguns motivos como a queda de energia, atos de vandalismo ou falha na transmissão de dados podem ocasionar inatividade temporária nos equipamentos”, informou a pasta, em nota oficial. “A região administrativa de Ceilândia foi uma das primeiras a receber o projeto coordenado pela SSP”, afirmou o órgão. “O objetivo é que o DF tenha, em breve, todo território monitorado.”

Por questões estratégicas, a pasta não informa o efetivo policial nas ruas. “A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) trabalha com o planejamento para obter as autorizações necessárias para realização de concurso para soldado, com 2,1 mil vagas. A realização do certame está prevista para o final de 2021, somente após o preenchimento de todas as vagas do concurso anterior.”