A melhoria do transporte coletivo rodoviário do Distrito Federal (DF) é uma luta que faz parte da realidade de muitos brasilienses. No período de um ano, 2.960 usuários avaliaram o meio rodoviário e fizeram sugestões para melhorias por meio do projeto Como anda meu ônibus. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) concluiu o relatório com os principais problemas apontados pelos usuários. O documento, divulgado nesta segunda-feira (16/11), foi enviado ao GDF com as propostas para a melhoria do sistema. Das 22 questões sobre satisfação do usuário, mais da metade teve resultado negativo.
Entre as principais intervenções recomendadas com base na percepção de passageiros e rodoviários estão: atualização constante das informações da plataforma DF no Ponto, com dados de linhas, horários, localização por GPS; apresentação de estudo sobre a necessidade do aumento da frota; priorização das políticas de transporte coletivo; incentivo à mobilidade ativa; revisão e atualização do Plano Diretor de Transporte Urbano. As medidas sugeridas são respostas diretas aos problemas identificados nos questionários aplicados durante a execução do projeto.
De acordo com a promotora de Justiça Lenna Daher, os resultados obtidos estão relacionados às características territoriais do DF, como grandes distâncias, baixa densidade populacional, e a problemas persistentes no serviço de transporte público local. “As soluções para dificuldades estruturais do sistema não são simples, mas o relatório apresenta medidas que, no curto e médio prazo, podem impactar de forma significativa na experiência dos usuários”, afirmou.
A coordenadora-executiva do Instituto de Fiscalização e Controle (IFC), Rebecca Teixeira, destaca que a iniciativa teve como objetivo avaliar o serviço na percepção do usuário. “Acredito que esse seja o ponto forte de um projeto como esse, mostrar ao usuário que ele não tem apenas o direito de utilizar o serviço diariamente, mas também de avaliá-lo, demonstrar suas deficiências e auxiliar na construção de alternativas de melhoria”, concluiu.
Críticas
As respostas obtidas demonstram uma percepção majoritariamente negativa sobre a maior parte dos aspectos avaliados. O item mais crítico em todo o período de auditoria foi a lotação dos veículos. Cerca de 66% dos participantes avaliaram esse quesito como “péssimo”. As cidades com as maiores porcentagens de respostas negativas quanto à lotação foram Samambaia, Ceilândia, Sobradinho I e II e Recanto das Emas.
O preço da passagem é o segundo item com pior avaliação. “Ruim” e “péssimo” somam 74% das respostas. Quando a análise se concentra nos respondentes que recebem até um salário mínimo, esse valor sobe para 79,12%.
Dos participantes, 45% leva de uma a duas horas para chegar a seu destino. A maioria, cerca de 51%, afirmou esperar de 30 minutos a uma hora pelo ônibus. A maior parte avaliou o tempo de espera na parada como ruim ou péssimo. A conservação dos veículos também é um problema: 54% dos respondentes afirmaram ter presenciado alguma falha mecânica pelo menos uma vez nos 60 dias anteriores ao preenchimento do questionário.
Outra preocupação dos passageiros é a segurança. “Péssimo” foi a resposta mais frequente nas questões sobre segurança. Aproximadamente 37% reclama do trajeto até a parada, e 29,8% reclamam da segurança dentro dos veículos. No item sobre segurança contra assédio sexual e moral nos ônibus, a avaliação que mais recebeu respostas foi “regular” (30%). O único item com avaliação positiva nesse tema foi a sensação de segurança quanto à forma de dirigir dos motoristas: a maioria respondeu “regular” e “bom”.
Entorno
Em alguns itens, os passageiros que moram no Entorno do Distrito Federal fizeram avaliações mais negativas que os demais usuários. Para a localização da parada, 35,53% responderam “ruim” ou “péssimo”. Na avaliação geral, ao contrário, 57% das respostas foram “bom” ou “ótimo”.
O item iluminação pública nas paradas também teve avaliação pior no Entorno. Os resultados gerais não são positivos: 64,5% responderam “ruim” ou “péssimo”, mas, no entanto, nas cidades vizinhas do DF a crítica é mais dura: 76,86% das respostas são “ruim” ou “péssimo”. O mesmo ocorre quando se analisa a conservação dos ônibus. Para os usuários em geral, 59% das respostas foram “bom” ou “regular”. No Entorno, a soma das avaliações “ruim” e “péssimo” chega a 57,85% do total.
Participantes
Os usuários que responderam à pesquisa são, em sua maioria, mulheres, entre 21 e 30 anos, com ensino médio completo ou ensino superior incompleto e renda de até três salários mínimos. A maioria usa o transporte público ao menos cinco vezes por semana, principalmente nos horários de pico, e grande parte depende dos ônibus para sua mobilidade.
O Correio entrou em contato com a Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob) e a assessoria de comunicação das empresas São José, Marechal e Pioneira e aguarda resposta.