Jornal Correio Braziliense

NATUREZA

Ninho de curicacas em poste chama a atenção no Setor de Diversões Sul

Casal de curicaca construiu um lar no topo de um poste de iluminação no Setor de Diversões Sul (SDS), no Conic. A chegada dos pais e o nascimento dos filhotes atraíram os olhares de quem trabalha na região

Quem recebe visita de pássaros diariamente, seja na janela de casa ou do trabalho, sente-se abençoado pela presença tão próxima da natureza. Porém, quem trabalha no Edifício Venâncio 3, do Setor de Diversões Sul (SDS), no Conic, foi presenteado não apenas com uma passagem rápida das aves, mas também com a construção de um ninho bem em frente ao escritório. Acontece que, há três meses, um casal de curicacas (Theristicus caudatus) instalou-se em um poste de iluminação pública em frente ao prédio. Há pouco mais de um mês, a família cresceu. Ali, macho e fêmea tiveram três filhotes. Ao que tudo indica, o grupo deve ficar no local até os menores terem condições de voar sozinhos. Enquanto isso, os condôminos do setor comercial apreciam o desenvolvimento e o crescimento das pequenas aves.

Morador da Cidade Estrutural, o ourives Renato Pereira, 48 anos, contempla a família de curicaca diariamente. Apaixonado por animais, para ele, a presença dos pássaros é um presente, principalmente nos dias mais intensos de trabalho. Ele contou que o casal chegou, mais ou menos, em agosto e instalou-se em um dos postes de iluminação. Passados alguns dias, eles foram para outro, onde tiveram os filhotes. “Como morei na roça, onde é cheio de pássaros, acho lindo tudo da natureza. Eu olho para eles todos os dias e é emocionante, porque a natureza é perfeita. Não tem defeitos”, disse.

Renato divide a janela com o colega de trabalho Djalma dos Santos Lacerda, 56. O também ourives lembra que, no ano passado, no mesmo período, uma família dessa espécie hospedou-se no local. “A gente acaba acompanhando tudo. Dessa vez, a ninhada foi de três filhotes. Um deles sumiu. Não sabemos se ele caiu ou foi pego por outro animal. Os pais se revezam para não deixar os pequenos sozinhos. A natureza é muito interessante”, declarou Djalma.

Para a secretária de um escritório de contabilidade, Jéssica Silva, 34, quando as aves forem embora farão falta. Apesar de os humanos não terem contato direto com elas, o apego, segundo ela, é grande. “Vimos o casal chegando, os filhotes nascendo, estamos acompanhando o crescimento. Sabemos que daqui a pouco eles vão partir. Chega dá um aperto no coração, porque a gente se apega mesmo, não tem para onde correr. São criaturas lindas. Deus é perfeito em tudo o que faz”, afirmou com a voz embargada de emoção.

Visitas constantes

A curicaca ou curucaca é um tipo de ave presente em boa parte do território brasileiro — comum de campos abertos, capoeiras, beiras de matas secas, caatingas, cerrados e grandes plantações. Elas costumam instalar-se em locais próximos a lagos, campos com solos pantanosos ou periodicamente alagados. Têm hábito de viver em pequenos bandos, são diurnas e gostam de planar a grandes alturas. É comum encontrá-las nos gramados do centro de Brasília, onde procuram insetos e larvas para alimentar-se. Além deles, elas comem pequenos lagartos, pequenos roedores, sapos e cobras.

O biólogo e mestre em ecologia pela Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Guimarães Santos diz que as curicacas são comumente vistas no Parque da Cidade, próximo ao Aeroporto de Brasília e em Taguatinga. Ele ressalta que são aves que não têm restrições. Sendo assim, os ninhos costumam ser construídos em postes de iluminação pública, linhas de transmissão e telhados. Elas não apresentam nenhum risco à população.

O especialista faz parte do projeto Aves da Janela, uma parceria da UnB e da Universidade Católica de Brasília (UCB), junto ao Instituto Jurumi — organização sem fins lucrativos criada para contribuir com as atividades de conservação da natureza. “No projeto estamos realizando um estudo para tentar mensurar os efeitos da pandemia nos animais. Muitos pesquisadores ao redor do mundo estão tentando ver isso. Um deles mostrou a mudança sísmica, porque as pessoas estão mais em casa. Em relação a fauna ainda não se sabe”, destacou.

Com a colaboração da própria população, por meio de vídeos e fotos feitas da janela de casa, o Aves da Janela vai tentar mensurar a alteração do comportamento dos pássaros no período de isolamento social. O estudo é realizado desde o início da pandemia, em meados de abril. “A gente ainda não analisou esses dados e nem sei se deu tempo de pegar essa mudança ou se a gente vai ver algum desses padrões, mas a ideia é buscar isso”, ressaltou Eduardo. Para quem deseja acompanhar o desenvolvimento do projeto pode acompanhar pelas redes sociais.