Viajar e fazer turismo não tem sido uma opção para grande parte dos brasileiros desde o início da pandemia da covid-19. Com isso, um setor fica especialmente afetado e continua em compasso de espera por uma vacina: a hotelaria. Apesar de vários outros ramos da economia, como comércio, bares e restaurantes, estarem conseguindo se reerguer gradualmente, o setor hoteleiro segue prejudicado durante a crise sanitária.
No início da pandemia, em meados de abril, a ocupação dos hotéis em Brasília chegou a 5%, segundo estima a professora do Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília, Mara Flora Lottici Krahl. Além disso, ela aponta que a retomada das atividades escolares gradual também impacta o setor, uma vez que impossibilita as famílias de se locomoverem.
“Indiscutivelmente, os pequenos hotéis, mais tradicionais, são os que mais padecem porque não têm estofo para se segurar com um capital de giro”, aponta a especialista.
Leonardo Monteiro é gerente-geral de um hotel no Setor Hoteleiro Norte, e conta que a ocupação no local tem variado em torno de 17 a 20% durante a semana, e chega a 25% nos finais de semana. Antes da pandemia, a ocupação era de 70%.
“Está variando muito. No sábado e no domingo, a gente tem o público de Brasília. A nossa piscina é coberta e aquecida, então o frequentador local vem pelos pacotes que temos de fim de semana”, relata o gerente. De acordo com ele, a situação se inverteu porque, em períodos normais, a ocupação durante a semana era mais elevada na capital.
Dificuldades
O presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Silva, conta que o setor hoteleiro foi um dos que mais precisou demitir funcionários durante a pandemia. “Se você juntar rede hoteleira, bares e restaurantes, foram cerca de 25 mil demissões no DF. Em um primeiro momento, o setor hoteleiro representou a maior parte disso”, avalia o representante.
Henrique Severien, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (Abih/DF), define a situação como grave e avalia que, caso se estenda por muito mais tempo, diversos hotéis ainda deverão fechar as portas. Apesar de não conseguir estimar, ele ressalta que alguns já encerraram as atividades no DF devido à crise.
Para a empresa cobrir os gastos do hotel, Severien explica que era necessária uma taxa de 40% de ocupação. Com o índice pela metade, a situação se complicou bastante e este percentual deve aumentar.
“Com a redução de demanda, automaticamente as estratégias de precificação são colocadas em condições abaixo do mínimo e, portanto, até com 50% de ocupação, a depender da diária cobrada, você não encontra o break even”, avalia.
Com dificuldades nas contas, representantes do setor têm pedido auxílio ao Executivo para apaziguar os elevados custos da manutenção e serviços. A associação enviou ofícios à Secretaria de Economia pedindo desoneração ou redução no valor de tributos como o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
O Governo do Distrito Federal (GDF) informou, por meio de nota, que não haverá desoneração. “Essa arrecadação é importante para manter os pagamentos de salários e fornecedores em dia, inclusive das áreas de saúde e educação, especialmente sensíveis em época de pandemia”.
Estratégias
Para Jael Silva, a previsão é que as atividades demorem um ano para retornar ao normal, período durante o qual as pessoas devem voltar, gradativamente, a viajar. Até lá, o ramo tece estratégias para tentar alavancar a taxa de ocupação nos hotéis. O presidente do Sindhobar explica que, para comemorar os 60 anos de Brasília e levar pessoas para os quartos de hotéis e aumentar o movimento em bares e restaurantes, o sindicato, junto com a Brasília Convention and Visitors Bureau e a ABIH-DF, estão desenhando uma campanha.
Hotéis oferecerão 60% de desconto nas diárias, restaurantes oferecerão pratos no valor de R$ 60 e clientes poderão adquirir uma lembrança do aniversário de Brasília — um prato, no valor de R$ 30, com desenho do Athos Bulcão. A promoção deve começar a partir desta semana e durar dois meses.
As entidades, junto com a Secretaria de Turismo, também analisam maneiras de impulsionar o turismo em Brasília, em especial o cívico, que explora as instituições democráticas na capital, e o arquitetônico, passeando pelos traços modernos da cidade. Porém, mesmo que haja investimento nesta área, os frutos só poderão ser colhidos no longo prazo, avalia Henrique Severien.