Um dos principais hubs de aeronaves do país, Brasília se consolida tanto no transporte de passageiros quanto no de produtos: a capital federal está em ponto chave para conectividade entre todos os estados. Em tempos de pandemia, a logística por aeronaves torna-se primordial para levar, a nível nacional e internacional, todo tipo de mercadoria — de eletrônicos e confecções a fármacos. Nesta segunda-feira, a companhia aérea Latam inaugura, no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, o novo terminal de cargas, após ampliação de 66% da estrutura. Com isso, a empresa espera reduzir em até 20% o tempo de espera pelas cargas que passam pela cidade.
A nova estrutura terá potencial para agilizar, por exemplo, o transporte até mesmo de vacinas contra a covid-19. Com diversos projetos em andamento, o mundo espera a produção do imunizante para o primeiro semestre de 2021, e o transporte, em sua maioria, deverá ser feito por vias aéreas. Em entrevista exclusiva ao Correio, o diretor da Latam Cargo no Brasil, Otávio Meneguette, explica que muito precisará ser estudado antes de se falar deste tipo de carga. “Há uma complexidade que a gente não tem claridade. Transportamos produtos variados, mas depende de uma embalagem e de um cronograma. Preciso dessa informação para saber, de fato, qual é meu fluxo de escoamento. O que agente tem preparado é um planejamento muito grande em rotas de adensamento”, avalia. “Mas, ter um terminal maior e mais preparado ajuda a aproveitar a malha aérea e, para a carga da vacina, com certeza isso será utilizado.”
A Latam tem uma frota de nove aviões cargueiros, com capacidade para até 55 toneladas, cuja rota principal inclui Manaus, onde está a Zona Franca. Em tempos normais, o transporte de carga representa cerca de 10% da receita da empresa, o que mudou um pouco com a chegada do novo coronavírus. Com a redução de voos de passageiros a partir de março, devido às preocupações com a transmissão da covid-19, as aeronaves que faziam este serviço passaram a voar apenas com produtos. “No segundo trimestre, tivemos 18% a mais de receita com cargas, se comparado ao mesmo período do ano passado, em um pré-pandemia.”
Números
O novo terminal deverá abarcar tanto as cargas do DF quanto as do Entorno, e até mesmo de capitais mais próximas, como Goiânia. “Há uma demanda farmacêutica relevante que vem de Goiás. Brasília também conecta as cargas do Norte, Nordeste, e Sul: confecções, eletrônicos, pescados, e alimentos”, elenca Otávio. “Brasília é um dos cinco maiores polos de movimentação de entrada e saída do país, então (ampliar o terminal de cargas) é uma estratégia que, para a gente, faz sentido. Falando em conectividade, atende a 99% das nossas bases.”
Dados do anuário de 2019 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que o aeroporto de Brasília está em terceiro lugar no ranking da movimentação de pousos e decolagens do mercado doméstico, atrás apenas de Congonhas e Guarulhos, ambos em São Paulo. O momento atual, com queda do fluxo de aeronaves, refletiu diretamente nestes números, mas a capital federal manteve a posição como grande centro de voos.
De acordo com levantamento da Inframerica, concessionária que administra o aeroporto, de janeiro a setembro mais de 17 mil toneladas de carga passaram pelo terminal. No mesmo período do ano passado, esse número estava em 52,4 mil toneladas. No caso da Latam, Otávio afirma que, embora até aviões de passageiros estejam sendo usados para transporte de mercadorias, o setor também foi afetado, apresentando redução de 52% no volume movimentado, mas que, a recuperação tem sido muito mais rápida do que no transporte de passageiros. “No segundo trimestre, essa redução estava em 32% e, no terceiro, em 24%. Isso mostra uma conexão muito direta entre produção, indústria e consumo”, explica.
Movimentação de carga no Aeroporto Internacional de Brasília
2019
71.335 toneladas
2020
17.478 toneladas (até setembro)