Mesmo com os impactos severos da pandemia do novo coronavírus na economia em diversos setores, o mercado imobiliário no Distrito Federal celebra resultados surpreendentes em 2020. Depois das incertezas causadas pela crise sanitária, o segmento recuperou-se e superou o desempenho de 2019, que tinha sido considerado um ano favorável para a área. Agora, a expectativa de empresários e entidades do ramo é de que, em 2021, o cenário de crescimento se consolide e seja mais forte.
O otimismo sustenta-se nos dados do mercado até o terceiro trimestre de 2020. O valor geral de vendas (VGV) — medido pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) e pela Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF) — acumulado em 2020 é de R$ 1,5 bilhão, mesmo total registrado em 2019 inteiro. Houve 27 lançamentos no período.
O índice de velocidade de vendas (IVV) de setembro foi de 10% — 30% a mais do que o mesmo período de 2020. Em julho, o dado bateu o recorde da série histórica, iniciada em 2015, com 11,1%. Medido mensalmente, o IVV é definido pela divisão entre o número de unidades ofertadas pelas vendidas. Na avaliação do setor, os dados mostram que houve recuperação, apesar da queda inicial causada pelo contexto da pandemia. O ano de 2019 foi considerado de retomada depois da crise econômica iniciada em 2014. A expectativa para 2020 era alta, mas a covid-19 acabou deixando o setor mais retraído.
"Mais uma vez os indicadores do mercado mobiliário demonstraram o vigoroso processo de recuperação pelo qual passa este segmento da construção civil . As vendas de imóveis acumuladas até setembro já são superiores ao total do ano passado . Outro sinal positivo é que o movimento virtuoso é disseminado por todas as cidades do DF e não exclusivo de um ou outro segmento de renda , o raciocínio também vale para a tipologia dos apartamentos , vende-se bem apartamentos de 02 ou 04 quartos . O resultado social deste cenário fica claro com o aumento significativo do número de empregados na construção civil , provavelmente o setor que mais emprega hoje no DF . Por fim, a curva forte de crescimento só aumenta a necessidade de que se crie novos bairros legalizados e planejados urbanisticamente para investimento já que o estoque de terrenos disponíveis para Brasília é bem pequeno", avalia o presidente do Sinduscon-DF, Dionyzio Klavdianos.
“Assim que começou a pandemia, o setor ficou muito apreensivo. Observamos os fechamentos e ficamos muito preocupados que acontecesse conosco também. Felizmente, o GDF (Governo do Distrito Federal) enxergou a nossa atitude responsável com os colaboradores e, também, nos viu como um setor capaz de segurar a economia, de manter empregos”, ressalta o vice-presidente do Sinduscon-DF, Adalberto Valadão Junior. “Nosso setor não parou um único dia nesta crise. Todo protocolo foi rigorosamente seguido e conseguimos nos manter. Isso, sem dúvida, contribuiu”, complementa.
“O mercado imobiliário do Distrito Federal, finalmente, retornou a um ciclo virtuoso. Aproveitando o crescimento da demanda, novos empreendimentos são ofertados, gerando um incremento das vendas e abrindo espaço para mais lançamentos. As expectativas para 2021 são de continuidade desse cenário positivo”, adianta Valadão.
As entidades destacam o potencial da construção civil e do setor imobiliário para a geração de empregos. “O fato de não se perder esses empregos, justamente, num momento tão difícil, é muito importante para o DF. De 2.731 de empregos formais lançados recentemente, a construção foi responsável por 751. Esse diálogo com o governo para não pararmos fez com que pudéssemos amenizar a crise”, avalia Eduardo Aroeira, presidente da Ademi-DF.
Secretário de Economia do DF, André Clemente avalia que a atuação do Executivo local para a manutenção do setor de construção civil contribuiu para que houvesse geração de renda, apesar da crise do novo coronavírus. “O GDF, ao manter os pagamentos de salários e fornecedores em dia e restabelecer um calendário de várias obras, acabou por manter a economia aquecida. Mesmo num momento de grave pandemia, as famílias investem e consomem e, com isso, níveis de arrecadação e renda são mantidos: foi o que ocorreu, também, com o mercado imobiliário”, disse o secretário.
Fatores
Na visão do mercado, alguns fatores contribuíram para que os resultados em 2020 fossem melhores do que o esperado. Entre eles, estão as mudanças de hábito durante a pandemia (como o home office), a baixa taxa de juros e o retorno da visão de que o imóvel pode ser um investimento.
“O impacto da pandemia, no primeiro trimestre, fez com que o mercado colocasse o pé no freio, mas, no segundo trimestre, voltou o crescimento no patamar de 2019 puxado pelas ações do governo, dos bancos e pelas demandas reprimidas que existiam”, explica Alexandre Garcia, CEO da Opinião Informação Estratégica, estatístico responsável pela pesquisa IVV.
Presidente do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon-DF), César Bergo destaca mais elementos que puxaram o boom do mercado imobiliário em 2020. “Houve represamento de vendas de imóveis em função da pandemia no início, mas contribuiu o fato de as pessoas começarem a querer, ficando mais em casa por causa da covid-19, ter espaços maiores. Elas buscaram novas compras. A taxa de juros nunca esteve tão baixa e isso fez com que as pessoas antecipassem essa decisão”, avalia.
A volta dos investidores ao mercado imobiliário teve a ver, na visão dele, com a queda dos rendimentos em outros tipos de negócios. “Quem vivia de renda e de investimentos viu que os ganhos estavam diminuindo e passou a enxergar o imóvel como possibilidade de ter esse retorno, até pensando em prazos maiores e numa aposentadoria, por exemplo.”
Espaços
A busca por espaços maiores durante a pandemia refletiu-se nos dados. O número de unidades vendidas neste ano em comparação ao mesmo período de 2019 é menor. Entretanto, o saldo obtido com as transações é superior, porque foram vendidos imóveis maiores e mais caros, segundo Alexandre Garcia.
O aposentado Almir Alves Júnior, 58 anos, é uma das pessoas que, por causa da covid-19, trocou de residência. Ele e a mulher moravam no Sudoeste, mas sentiram a necessidade de encontrar um apartamento maior. “Essa vontade surgiu com a minha esposa, justamente por causa da pandemia. Então, fomos buscar um lugar com mais amplitude, com vista, e decidimos comprar no Noroeste”, conta.
Almir foi diretamente impactado pelo aquecimento do mercado imobiliário no período. Ele fechou a compra no Noroeste em junho, mas, para isso, precisou vender outros imóveis que tinha. “Somos uma prova desse momento. Vendemos três imóveis de maneira muito rápida. Por exemplo, vendi um apartamento no Sudoeste e no Cruzeiro em menos de uma semana.”
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Regularização
A Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) regularizou terrenos de 25 entidades religiosas e assistenciais recentemente. Em cerimônia realizada no Palácio do Buriti, ontem, as escrituras foram entregues aos representantes. A ação faz parte do programa Igreja Legal, lançado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) em agosto de 2019. A iniciativa pode beneficiar instalações construídas até 31 de dezembro de 2006 e que continuem desenvolvendo atividades no imóvel. Há três formas de regularização: aquisição direta por escritura de compra e venda — o pagamento pode ser feito em até 240 meses, sem juros; Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), pagando 0,15% ao mês, com direito de compra a qualquer momento; ou Concessão de Direito Real de Uso, com pagamento em moeda social.
Cenário
Evolução
Veja os valores do IVV nos últimos trimestes:
3º trimestre de 2019: 7,4%
4º trimestre de 2019: 9,4%
1º trimestre de 2020: 6,4%
2º trimestre de 2020: 8,6%
3º trimestre de 2020: 9,5%
No detalhe
Confira as regiões com maiores vendas no acumulado do ano:
Santa Maria 568
Noroeste 508
Planaltina 329
Samambaia 238
Park Sul 166
Águas Claras 136